Ilhéus oferece novos roteiros turísticos inspirados pelo chocolate de origem

Turismo de experiência estimula visitas às fazendas produtivas para conhecer as etapas do beneficiamento do cacau, da colheita do fruto à fabricação da guloseima

  • Foto do(a) author(a) Gabriela Cruz
  • Gabriela Cruz

Publicado em 8 de julho de 2015 às 18:42

- Atualizado há um ano

Em Ilhéus, o turismo de experiência estimula visitas às fazendas produtivas para conhecer as etapas do beneficiamento de cacau, da colheita à secagem nas barcaças (Ana Lee/divulgação)Terceiro maior destino turístico da Bahia, Ilhéus é conhecida por suas praias e, principalmente, pelo cacau. A história do ciclo do fruto, que começou no início do Século 18, se confunde com a da cidade, conhecida mundialmente através dos romances de Jorge Amado. As obras do escritor, que retratam o apogeu das plantações e de seus coronéis, no fim do Século 19, revelam cenários deslumbrantes, com fazendas debruçadas para a Mata Atlântica. O visual único quase se perdeu no fim da década de 90 com a praga da vassoura-de-bruxa.

Quase 30 anos depois, esses cenários voltam a ganhar destaque através do turismo de experiência, que permite não só pernoitar em uma fazenda de 190 anos – a Provisão, decorada com móveis de época –, como conhecer as etapas do beneficiamento de cacau, da colheita à secagem nas barcaças.

O passado se encontra com o presente em alguns desses endereços, como a fazenda Riachuelo, que data de 1855 e abriga a moderna fábrica dos chocolates Mendoá, localizada no que em breve será a Estrada do Chocolate, roteiro turístico que vai de Ilhéus a Uruçuca, idealizado pelo empresário Marco Lessa. “O trecho tem cerca de 40 quilômetros e reúne um conjunto de atrativos relacionados ao cacau e ao chocolate. São mais de 20 fazendas, muitas preparadas para visitação, como Almada, Provisão, Riachuelo, Leão de Ouro, uma fábrica de chocolate nos moldes  da Suíça e o Instituto Biofábrica de Cacau”, diz Lessa.Marco Lessa, idealizador da Estrada do Chocolate e do FICC (Ana Lee/divulgação)De acordo com ele, a Estrada do Chocolate deve começar a funcionar no Verão. “O governo do estado investirá nos portais que ficarão na saída de Ilhéus e na BR-101, trecho no qual vamos oferecer suporte com segurança e sinalização. O Sebrae cuidará da capacitação das pessoas”, revela o empresário, que já pensa em expandir a ideia. “A gente quer replicar isso para outros trechos da região que também são bonitos e têm história para contar”. A expectativa é receber tanto os turistas  em férias quanto grupos segmentados, que procuram Ilhéus para conhecer mais sobre sua nova vedete: o chocolate gourmet.

De origem - Ilhéus produz mais de 150 mil toneladas por ano, de acordo com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Além de ser responsável por 60% do cacau produzido no Brasil (ao lado do Pará, Rondônia e Espírito Santo), a cidade reúne 20 marcas de chocolate de origem.

Esse segmento, no qual as características sensoriais das amêndoas do cacau são valorizadas, a exemplo do que ocorre com o café gourmet, tem crescido no Brasil e em países da União Europeia e América do Norte e no Japão. “Enquanto a França possui apenas seis marcas que produzem chocolate a partir da amêndoa, já somos mais de vinte. Esse crescimento se deu exatamente após o Festival Internacional do Chocolate e Cacau (FICC)”, informa Lessa, idealizador e organizador do evento e criador de uma das marcas premium, a Chor.

Esse movimento ganhou força em 2009, depois da primeira edição do FICC. Lessa foi convidado pelo presidente da Associação de Produtores de Cacau do Sul da Bahia, Henrique Almeida, para montar o estande do Brasil no Salon du Chocolat, em Paris. “A gente inaugurou a inserção de um país produtor de cacau no evento. Começamos com um estande com 40 metros quadrados e hoje temos o maior de todos, com 105 m²”.

Uma  coisa que chamou a atenção de Lessa no evento foi a ausência do Brasil no mapa do cacau fino no mundo. “Percebi que existia uma verdade internalizada de que a gente não conseguiria produzir chocolate de qualidade. Isso nos incomodava, então, no segundo ano, a gente começou a inscrever as amêndoas e várias  foram premiadas”, conta.

As conquistas foram tantas que, em 2013, os produtores levaram não só amêndoas como também os chocolates de origem para o Salon. “No segundo dia já tínhamos vendido tudo, mesmo com um produto caro. Na próxima edição, em outubro, vamos vender apenas chocolate. Todos vão receber o selo Cacau do Brasil”, conclui.

Uma das marcas será a Sagarana, de Almeida. Produzida há quatro anos, tem duas linhas – de 67% e de 42,5% ao leite. O empresário encontrou uma fórmula para ajustar o gosto do brasileiro, que prefere o chocolate mais doce, ao sabor marcante das versões com massa de cacau concetrada. “Meu foco são os chefs, porque eles vão falar bem do produto”, explica.

O resultado desse trabalho é o convite feito à Sagarana para ser o chocolate utilizado nas receitas da edição brasileira do Gastronômade, evento classe A com etapas em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Distrito Federal, São Paulo e Bahia. Por aqui, vai acontecer em 26 de setembro, no Tivoli Ecoresort Praia do Forte, e terá Fabrício Lemos, do Amado, como chef.Festival internacionalDeclare seu Amor ao Chocolate foi o tema da sétima edição do Festival Internacional do Chocolate e Cacau (FICC), realizada de 11 a 14 de junho, no Centro de Convenções de Ilhéus. O evento recebeu cerca de  30 mil visitantes e  teve como objetivo promover a visibilidade da versão de origem e fomentar os negócios da cacauicultura no país, reunindo produtores de cacau e expositores já conhecidos, como  AMMA, Mendoá,  Chor e Sagarana, e novas marcas, como Amado Cacau e Costanegro, entre outros.Os chefs André Bispo, Giuliana Cupini e Lucas Corazza deram aulas (divulgação)O FICC também apresentou novas tecnologias de produção e uma extensa programação de palestras, debates e workshops com especialistas da área, como a consultora francesa Chloé Doutre-Roussel - uma das maiores autoridades do mundo em degustação de chocolates e autora do livro The Chocolate Connoisseur, o norte-americano Greg D' Alesandre, pesquisador e sócio da Dandelion Chocolate, e  a embaixadora do Cacau e Chocolate da Venezuela, Maria Fernanda Di Giacobbe.  

Um dos atrativos da programação,com entrada franca, foi a Cozinha Show, que teve aulas ao vivo com grandes chefs do Brasil, como André Bispo, Giuliana Cupini e Lucas Corazza, um dos jurados do programa Que Seja Doce, do GNT. O  público  conferiu ainda os estandes da Feira do Chocolate, onde estavam disponíveis para degustação e comercialização produtos de diversas marcas de chocolate de origem. De 15 a 20 de setembro, Belém do Pará recebe o  III Festival Internacional do Chocolate e Cacau da Amazônia com um formato parecido com o da edição baiana.Menu com chocolateMercearia 1173 Gastronomia - Chocolate com pratos salgados. Por que não? O chef Paulinho Martins, do Mercearia 1173 Gastronomia, criou opções com produtos da Chor. A salada de rúcula e polvo recebeu nibs e mel de cacau, além do chocolate. O bolinho de arroz com carne de porco confitado também teve chocolate 70%  e mel de cacau como acompanhamento. O chef paulista abriu o restaurante em sua casa, em Ilhéus, após comandar a cozinha do Txai Resorts Itacaré por sete anos. O espaço não tem cardápio fixo e usa o conceito de cozinha de produto, ou seja, com ingredientes da estação. Salada de rúcula e polvo com chocolate, nibs e mel de cacau da Mercearia 1173 Gastronomia (Ana Lee/divulgação)Restaurante Morro dos Navegantes - Comandado pela chef Daniela Façanha, o Restaurante Morro dos Navegante serve de pratos regionais e grelhados a menu internacional, inclusive com chocolate nas receitas. Peça o hambúrguer de javali com calda de chocolate Amma 55% como entrada (R$ 40) e a jaca flambada com brownie de chocolate e sorvete de tapioca (R$ 25). Dica: o lugar também é uma pousada com 25 quartos supercharmosos, muitos com vista para o mar. De carro, fica a 3 minutos do Aeroporto de Ilhéus e a 6 minutos do centro da cidade.Hambúrguer de javali com calda de chocolate Amma 55% (divulgação)Chocolate de origem 

A "denominação de origem controlada" (DOC) dos vinhos envolve o terroir, termo francês para explicar a influência dos fatores climáticos e geográficos sobre o sabor e aroma das uvas. Com o cacau não é diferente. O chocolate com denominação de origem precisa ser feito com apenas uma variedade de cacau e com frutos da mesma região. A maior parte do chocolate produzido em Ilhéus é feita com alto teor da fruta, a partir de amêndoas selecionadas de cacau especial cultivado em fazendas certificadas do Sul da Bahia.LançamentosAMMA - Uma das mais famosas marcas de chocolate de origem, a AMMA  incrementou sua linhas  com cinco novos tipos: Aroeira (60%), Qah’wa (60% com café), Gula Merah (70%  e adoçado com açúcar de coco da Indonésia), Nibirus (75%, com nibs de cacau) e Flor do Mar (75% com flocos de flor de sal). Cada barra de 80g custa, em média, R$ 18. A AMMA também lançou o açúcar de coco, com índice glicêmico baixo. Tem loja no Mercado do Rio Vermelho.Lançamentos da AMMA (divulgação)

Mendoá - A Mendoá tem uma série de produtos, de pastilhas de 5g a embalagens de 1 quilo, passando por caixas para presentes e três de barras: 25g, 60g e 75g, produzidos na  fábrica da Fazenda Riachuelo.  Entre as novidades estão as linhas Nigro (99%), Gengibre (60%), Nibs (80%) e Pimenta (70%).  “Harmoniza bem com conhaque, vinho e cervejas artesanais”, dá a dica o diretor da Mendoá, Leandro Almeida. Em Salvador, vende na Paula Gaya Importadora. Embalagens da Mendoá tem cores inspiradas na natureza (Ana Lee/divulgação)

A Chor – que significa chocolate de origem – vendeu duas toneladas, só no ano passado, de trufas, bombons e barras, entre outros produtos. A marca ilheense deve incrementar o negócio com a chegada de três novos itens: as barras Baía de Todos os Santos (85%), Terra de Santa Cruz (70%) e São Jorge de Ilhéus (44% ao leite), todas de 85g e preço médio de R$ 16. A marca está à venda em mais de 20 pontos de todo o país.A Chor incrementar o negócio com a chegada de três novos itens (divulgação)Costanegro - Criada por dois produtores de famílias tradicionais de cacauicultores, a Costanegro chega com três produtos. Um ao leite  com 48%, um 60% e um 75%,  em barras de 80g (entre R$ 13,80 e R$ 15,80). A embalagem descolada diz muito sobre o produto. “Somos tradicionais, mas queremos mostrar  a modernidade do movimento de  busca por um chocolate de qualidade”, explica Guilherme Moura, um dos sócios. Vende no Mercado Orgânico, Pão & Mais  e  Albani Delicatessen.A Costanegro chega com três produtos (divulgação)

A Amado Cacau investe no conceito de vida saudável. A proposta é criar a cultura de que o chocolate de origem, consumido na quantidade certa, é um alimento que produz efeitos benéficos à saúde, como a redução do risco de doenças crônicas degenerativas, como câncer e diabetes. Entre os produtos estão as pastilhas com 70% de cacau puro e 56,6% de cacau ao leite e três variedades de nibs (natural, doce e com ervas finas).A Amado Cacau investe no conceito de vida saudável (divulgação)Turismo de experiência

Quem visita a região de Ilhéus e quer viver um pouco da realidade de quem lida com cacau tem que fazer um passeio pelas fazendas produtoras do fruto. Muitas propriedades permitem que o turista acompanhe todo o processo de coleta e preparo da semente, incluindo, é claro, um momento de degustação da guloseima. A Fazenda Provisão investe no turismo de experiência (Ana Lee/divulgação)Entre as várias fazendas que oferecem passeios agendados, as mais procuradas são a Primavera, Yrerê e Provisão.  A primeira é conhecida por ser uma das locações da novela Renascer, da TV Globo. Lá, é possível visitar um pequeno museu que reúne objetos utilizados pelos artistas da trama global e relíquias centenárias. A fazenda, que fica no Km 20 da rodovia Jorge Amado, que liga Itabuna a Ilhéus, funciona em sistema day-use, possui restaurante e é palco de shows regionais. O visitante pode aproveitar para fazer caminhadas ecológicas, passear de charrete.

A fazenda Yrerê tem como atrativos a fabricação artesanal de móveis rústicos e artesanato. A visita dura duas horas e pode ser feita em qualquer dia da semana. Está localizada às margens do Rio Cachoeira, à sombra da Mata Atlântica, no Km 11 da rodovia Jorge Amado.

Estrada do Chocolate  - A Provisão é outra fazenda da região que investe no turismo de experiência. A vivência começa logo na entrada da casa principal, morada há 190 anos da família que teve como patriarca Domingos Adami de Sá, primeiro prefeito de Ilhéus. Um retrato do coronel, citado no livro Terras do Sem Fim, de Jorge Amado, divide espaço com outros objetos e móveis antigos, que decoram tanto a sala quanto os sete quartos que o lugar oferece como hospedagem. A diária, com pensão completa, custa R$ 140 (crianças a partir de 7 anos pagam a metade). Um dos quartos da fazenda Provisão, decorado com móveis que datam de até 190 anos (Ana Lee/divulgação)A recepção fica a cargo da cadelinha Mel, fiel escudeira do proprietário, Roberto Novaes, da sexta geração da família. À frente do negócio há 12 anos, o empresário também cultiva cacau em 175 dos 400 hectares da fazenda. “Temos pés com mais de 80 anos”, conta. Além de conhecer a cultura do fruto, quem for à Provisão pode fazer trilhas na Mata Atlântica à margem do rio Almada. A visita guiada de um dia, com direito a almoço, sai por R$ 50. Basta ligar antes e combinar.

Como o menu fica por conta do cliente, a dica é pedir a moqueca de jaca, especialidade de Novaes, praticamente um chef. De sobremesa, pode ser doce de carambola, cajá, cocada de cacau ou chocolate 100%, tudo produzido por lá e à venda na lojinha. A fazenda  fica no Km 27 da rodovia que liga Ilhéus a Uruçuca.

Em breve, outra propriedade, a Mucambo, estará pronta para receber hóspedes. A casa, com 16 suítes, será transformada em um misto de hotel e spa, ampliando o número de leitos na Estrada do Chocolate.Uma das etapas da produção de chocolate da fazenda Riachuelo, onde fica a fábrica da Mendoá (Ana Lee/divulgação)

Ciência - Outro tipo de visita, com foco na produção de chocolate de origem, também tem movimentado a região. Fazendas como a Riachuelo, onde está a fábrica dos chocolates Mendoá, e a Sagarana, recebem grupos pequenos e selecionados, interessados em cultivo e tecnologia. Diretor da Mendoá, Leandro Almeida recebe visitantes também no laboratório de pesquisa da marca de chocolates, construído antes da fábrica.  A força do cacau 

*12 bilhões de reais é o valor movimentado pela cadeia produtiva no Brasil. O cacau é plantado na Bahia, Pará, Rondônia e Espírito Santo

* 3º lugar é a posição que o país ocupa no ranking de consumo de chocolate no mundo. O Brasil é o quinto maior produtor de cacau do planeta* 60% do cacau produzido no Brasil vem da Bahia. São mais de 150 mil toneladas do fruto por ano

* 20 são as marcas de chocolate de origem na Bahia. Entre elas estão Amma,  Sagarana, Amado Cacau, Chor,  Mendoá e Costanegro

* 8 mil leitos, entre pousadas, hotéis e resorts, um aeroporto e um porto formam o trade turístico de Ilhéus, que recebe  200 mil visitantes no Verão

* 30 mil pessoas foram ao Centro de Convenções de Ilhéus conferir a progração do Festival Internacional do Chocolate e Cacau em 4 dias

Programe-se*Fazenda Provisão -  Rodovia Ilhéus-Uruçuca, Km 27. Contato: 73 9906-9903/71 9624-4646/9913-8898/ fazendaprovisao2013@gmail. com

*Fazenda Riachuelo - Rodovia Ilhéus-Uruçuca, Km 20. Contato: mendoa@ mendoachocolates.com.br*Fazenda Primavera - Rodovia Jorge Amado (Ilhéus-Itabuna), Km 20. Contato: 73  3231-3996/8818-3207* Fazenda Yreré  - Rodovia Jorge Amado (Ilhéus-Itabuna), Km 11. Contato: 73 3656-5054 /9998-6790/ 8808-4292/dadagaldino@ bol.com.br e [email protected]

* Fazenda Sagarana - Serra do Ribeirão do Terto, Coaraci. Contato: [email protected] * Pousada Morro dos Navegantes - Rodovia Ilhéus-Olivença, Km 06, Praia do Cururupe, Ilhéus. Contato: (73) 3632-5613/[email protected] Pier do Pontal (Ana Lee/divulgação)*Pousada Píer do Pontal - Avenida Lomanto Junior, 1650, Ilhéus.  Diárias de R$ 138 a R$ 188. Contato: 73 3221- 4000/reserva@pierdopontal. com.br* Voos - as companhias aéreas Azul, TAM, Gol e Avianca têm voos regulares para Ilhéus saindo de Salvador* Ônibus - a Águia Branca tem linhas diárias de Salvador para Ilhéus, nos turnos da manhã, tarde e noite e preços que variam de R$ 115,32 a R$ 186,02* No Pará - de 15 a 20 de setembro, Belém do Pará recebe o  III Festival Internacional do Chocolate e Cacau da Amazônia* Em Paris - o Salon du Chocolat 2015 será realizado de 28 de outubro a 1° de novembro, no Porte de Versailles, em Paris, na França. Para saber mais, acesse: salonduchocolat.fr

*A jornalista viajou a Ilhéus a convite da organização do FICC