Indústria baiana chega a seis meses consecutivos de queda na produção

Só em 2021, setor tem queda acumulada de 16,3% na produção do setor

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  • Wendel de Novais

Publicado em 8 de julho de 2021 às 17:58

- Atualizado há um ano

O ano de 2021 tem se mostrado complicado para a indústria baiana, de maneira geral, quando o assunto é produção.  De acordo com dados da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) Regional, que analisou o fluxo do setor em maio e que foi divulgada, nesta quinta-feira (8), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já são seis meses de quedas consecutivas para indústria que, em maio,  perdeu 2,1% da produção que teve em abril - o  segundo maior encolhimento em todo o país. Ao todo, só em 2021, a queda acumulada do setor  é de 16,3%. Já nos 12 meses terminados em maio, a retração é de 9,3%. 

Problema que, ao contrário do que se pode pensar, não têm a pandemia como o seu principal vetor. É que, em 2020, quando tudo se fechou por conta da covid-19, houve sim um impacto na indústria. No entanto, a continuidade da queda tem a ver com como a indústria é formada por aqui e não com as restrições de um cenário ainda pandêmico.

"Para entender as oscilações, é preciso entender que nossa indústria é muito concentrada em segmentos que produzem insumos para outras indústrias. A indústria baiana sente muito rápido os choques na economia nacional", afirma Rafael Sales, consultor econômico da casa de pesquisa econômica Arazul Capital.

É isso o que confirma Carla Nascimento, economista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), que usa a participação do refino e dos químicos que, juntos, representam 44,3% de toda produção industrial em território baiano. "São problemas estruturais daqui, que fazem a indústria responder a problemas bem localizados em setores fundamentais como a produção de refinaria que caiu bastante e tem a maior participação na indústria com 27,4%. Basicamente, temos dois setores com um impacto muito forte. Se eles caem, os números da indústria como um todo acompanham", explica Carla. 

Para se ter ideia do que é apontado pela economista, enquanto o setor no geral apresenta uma queda insistente, 8 das 11 atividades da área tiveram aumento de produção na Bahia frente a maio de 2020, o que não é suficiente para fazer com que a produção cresça porque são setores de menor participação. 

E o maior responsável por isso é, de fato, o refino, já que o segmento de derivados de petróleo e combustíveis caiu 70,9% em maio e completando seis meses de queda consecutiva. A situação, de acordo com o gerente de Estudos Técnicos da Fieb, Ricardo Kawabe, tem ligação direta com um período de manutenção nos equipamentos do setor. 

"O setor de refino, que é representado basicamente pela Refinaria Landulpho Alves (Rlam), teve uma parada pra manutenção, que impactou fortemente a produção de combustíveis e petróleo. Manutenção que é comum em toda planta industrial e que pode ser em maior ou menor escala. E, pro nosso azar, esse ano foi a de maior porte", conta Kawabe, que afirma que a produção deve ser retomada no segundo semestre e a queda não tem relação com a venda da refinaria para um grupo dos Emirados Árabes, já que a planta ainda está sob operação da Petrobrás.

Para Rafael Rios, a situação do refino preocupa, mas a origem da queda está justamente na centralização, o que faz com que os números não correspondam ao que acontece na indústria como um todo. "O número assusta, mas não é algo generalizado. Setores industriais que existem no Estado estão com taxas de crescimento positivas no acumulado em 12 meses. O problema é que as quedas em setores ligados ao petroquímico e ao automobilístico estão muito fortes e derrubam o indicador industrial geral", salienta. 

Fechamento de indústrias como fator

Outro problema apontado por Kawabe é que, além da indústria ter uma concentração de produção, os setores com maior participação têm concentração em apenas uma empresa. Ou seja, se uma produção acaba, o setor não cai, ele desaparece. "É uma característica da matriz industrial baiana. Infelizmente, alguns dos maiores setores industriais baianos são basicamente uma empresa. No setor de refino, só tem uma refinaria, que é a RLAM", diz. 

Característica que se repete no setor de automóveis, que, agora, praticamente desapareceu com o fechamento da Ford. O fim da montadora por aqui, segundo Carla Nascimento, impactou e ainda terá queda nos próximos meses. "Quem está puxando até então é refino. Mas, nos próximos meses, essa queda vai ser puxada pelo setor de veículos. É que, estamos comparando a produção do setor de agora com o momento em que tudo estava parado, o setor voltou a funcionar em julho de 2020. A partir de julho e agosto, o setor de veículos vai apresentar uma queda ainda maior", projeta Carla, que também cita o fim da operação no final de 2020 da siderúrgica Vale Manganês, que operava em Simões Filho, como um outro fator para queda geral da indústria.

Paulo Henrique, diretor de Fomento ao Desenvolvimento Econômico da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, concorda que haverá ainda uma queda no setor de veículos, mas afirma que esta vem sendo dividida ao longo dos últimos meses. "A Ford tinha aqui praticamente um sistema solar que usava uma série de produtores que faziam peças pra montadora. Nesse sistema solar, o sol era a Ford. Quando o sol desaparece, acaba o sistema. Porém, a queda por conta do fechamento já começou e o efeito na indústria está se diluindo e tende a desaparecer", declara.

Futuro da indústria

Ainda de acordo com Paulo, dentro do cenário de menor impacto do fechamento da Ford e o crescimento de outros setores, a tendência é que, no segundo semestre, aconteça um crescimento na indústria. "Como o resto da indústria voltou a crescer e voltou também a empregar, a economia está voltando a rodar. É difícil cravar isso no Brasil. Porém, as vendas estão melhorando e a atividade industrial está se recuperando", afirma.

Essa visão também é compartilhada por Carla Nascimento, que ao analisar os números atuais, vê os próximos com avanços que podem fazer setores em queda não terem o mesmo efeito. Ela acredita que, com a redução nos números de casos de covid-19, haverá uma demanda maior, principalmente, de bens de consumo, que será somada ao crescimento na produção de commodities como celulose. "Estes setores  podem contrabalancear a queda de veículos e reduzir o impacto negativo na indústria como um todo. Tem também o crescimento da indústria extrativa neste ano, que é outro fator que pode aliviar o recuo de outros setores", conclui. 

*sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro