Instituto de Cegos da Bahia realiza 12 mil procedimentos por mês

Instituição depende de doações para manter as atividades; saiba como apoiar a causa

  • D
  • Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/Instituto de Cegos da Bahia

Ao descobrir ser mãe de um bebê com baixa visão, Joselita Silva de Jesus, 36 anos, ficou amedrontada por não saber como criar a menina para ser independente. Agora, depois de quase oito anos de atendimento no Instituto de Cegos da Bahia (ICB), Thaynar Silva Borges, 8, é uma criança que realiza diversas atividades sozinha. Apoiar famílias e pessoas com deficiência visual é o trabalho da instituição, que existe há 87 anos e realiza 12 mil procedimentos mensais. O Dia Nacional do Cego foi comemorado neste domingo (13).

A atuação do instituto é baseada no tripé saúde, educação e assistência social. A assessora de Captação de Recursos e Marketing/Comunicação, Consuelo Alban, explica que não existe limite de idade para ser atendido na instituição e que o atendimento é gratuito.

“Todo nosso trabalho é pautado em prevenção, diagnóstico, habilitação ou reabilitação e inclusão social da pessoa com deficiência visual. A saúde é a porta de entrada pois é a partir do diagnóstico que é traçado um plano de reabilitação”, conta Alban.

Só foi no instituto que Joselita conseguiu uma resposta para as causas da deficiência visual de Thaynar. Com apenas quatro meses, a menina foi diagnosticada e a mãe soube que a baixa visão era causada pelo não desenvolvimento do nervo óptico. “Com 9 meses, ela passou a usar óculos”, relembra a mãe. Thaynar começou a ser atendida no insituto aos quatro meses (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal) O trabalho de acompanhamento da pessoa com deficiência visual engloba diversas áreas, que vão desde o atendimento em saúde, passando pelo uso de recursos ópticos, como lentes de aumento e lupas para estimular o desenvolvimento e segurar o resíduo visual das pessoas com baixa visão, até aulas de esportes.

Os deficientes visuais que não conseguem ler com o alfabeto romano aprendem a utilizar o sistema Braille e a fazer cálculos com um soroban - um instrumento de cálculo. Os aprendizados no instituto são levados para a escola regular, apoiando a educação de pessoas cegas e com baixa visão.

Quem é atendido no instituto ainda tem acesso a atividades de orientação e mobilidade para desenvolver a noção de espaço e ganhar autonomia para andar de bengala na rua, atividades de vida diária para ter autonomia dentro de casa, aulas de informática com inclusão digital, além de reabilitação com música e esporte. 

“O trabalho com o esporte é um orgulho para nós. Nosso time de futebol de cinco é de alto rendimento, além de ser campeão brasileiro e mundial. Três dos nossos atletas da modalidade são campeões paraolímpicos e integram a seleção brasileira. No goalball, temos um time que participa de competições, apesar de não ser de alto rendimento”, afirma a coordenadora. Time de futebol de cinco do instituto é de alto rendimento (Foto: Fábio Bouzas/Instituto de Cegos da Bahia) É aos cerca de 28 anos de atendimentos no Instituto de Cegos da Bahia que o vendedor de acessórios eletrônicos, Evanei Jesus da Silva, 35, credita a autonomia com a qual vive atualmente. Morando sozinho desde fevereiro de 2020, ele realiza todas as atividades domésticas com os aprendizados que adquiriu na instituição. Ser cego não o impede de viver uma vida com independência.

“O instituto me ensinou a cair e levantar. Aprendi que sou capaz. Todos os dias, eu aplico as atividades que aprendi lá como o braille, a informática e até na minha rotina dentro de casa. O instituto me fez crescer e me faz crescer a cada dia”, comenta Evanei.

Evanei ingressou no instituto com cerca de 7 anos, quando tinha baixa visão. Lá, foi interno até os 14 anos, quando ganhou a autorização dos pais para andar sozinho pelas ruas e passou a ser externo. Orgulhoso, ele conta que teve autonomia para andar sozinho com 12 anos. A cegueira só chegou ao completar 22 anos, o que fez com que ele tivesse que aprender novas habilidades com o auxílio do instituto, como o Braille.

Além das questões de saúde e educacionais, o apoio prestado pela assistência social do instituto também é fundamental para que as pessoas cegas e seus familiares tenham um apoio psicológico para acreditar que deficientes visuais podem viver com autonomia.

“Algumas pessoas desenvolvem depressão após ficarem cegas, os familiares também não sabem como agir. Por isso temos esse suporte. É importante que os pais saibam que é possível preparar o filho cego para uma vida independente para que o trabalho em casa complemente o trabalho do instituto”, explica Alban, ressaltando que as pessoas cegas fazem tudo, apenas não enxergam.

O apoio foi fundamental para a família de Thaynar. “Sem o instituto, minha filha não teria independência porque eu não saberia lidar com a situação. Eu não saberia por onde começar e nem o diagnóstico dela. Sou muito grata a eles porque eles foram e ainda são como minha segunda família, sempre ligando para acompanhar minha filha”, diz Joselita.

A pequena Thaynar conta que adora o instituto e está morrendo de saudade de todos do local - desde o começo da pandemia, ela parou os atendimentos. Antes do coronavírus, a menina saía de Dias d'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador, uma vez por semana para ir até a instituição no Barbalho, na capital. “Tô com saudade de todo mundo. Gosto de todas as aulas, das pessoas, das brincadeiras”, revela.

Durante a pandemia, o instituto funcionou por meio de teleatendimento até maio, quando os pacientes com casos mais graves retomaram os atendimentos presenciais. Agora, o atendimento está normalizado, mas o centro de educação complementar não pode funcionar por determinação dos decretos governamentais.

Dia do Cego O instituto também ensinou a mãe de Thaynar a lidar com o preconceito explicando que a baixa visão da filha não a impede de ser uma pessoa independente. O preconceito ainda é recorrente. Para a coordenadora da instituição, as falas e atitudes preconceituosas são fruto da falta de informação. 

Alban cita que o preconceito é expressado em forma de pena: “não é motivo para ter pena. No primeiro momento, pode ser uma notícia triste, mas os cegos podem se reabilitar e sempre se superar".

O Dia Nacional do Cego ou Dia Nacional do Deficiente Visual é 13 de dezembro, mesma data do Dia de Santa Luzia, que é a padroeira dos cegos e conhecida como a protetora dos olhos. O Instituto de Cegos da Bahia também considera a santa como sua padroeira.

“Essa data foi criada para trazer à tona a questão do preconceito, desinformação e da piedade. Para levantar a bandeira da causa de que os cegos são pessoas normais como qualquer um”, explica Alban.

Como apoiar o instituto? Para continuar trabalhando em prol das pessoas com deficiência visual, o Instituto de Cegos da Bahia precisa de apoio. Apenas parte das despesas são pagas com o convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS). Para ajudar, pessoas e empresas podem fazer doações de materiais, equipamentos e dinheiro.

“A gente vive de doações. Existem pessoas e empresas com responsabilidade social que realizam reformas, compram equipamentos, por exemplo. Também é possível fazer doações em dinheiro”, explica Alban.

O instituto também possui um programa de doações mensais, o Doador de Visão. Nele, os doadores podem fazer doações recorrentes para a instituição por meio de boleto ou cartão de crédito. Além disso, é possível ajudar de forma pontual com a transferência de dinheiro para as contas da entidade.

Dados bancários para doação para o Instituto de Cegos da Bahia 

Nome da instituição: INSTITUTO DE CEGOS DA BAHIACNPJ: 15.208.044/0001-89

ItaúAgência: 8657Conta corrente: 29243-2

Banco do BrasilAgência: 3457-6Conta corrente: 127.840-1

BradescoAgência: 3662-5Conta corrente: 0402121-5

ContatosSite (www.institutodecegosdabahia.org.br)Telefone: 3016-8100Telefone para marcação de consulta: 3242-1073Endereço: Rua São José de Baixo, 55, Barbalho, SalvadorE-mail: [email protected]: @insitutodecegosdabahia

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.