'Intenção de matar', diz parente de torcedor do Vitória espancado por membros da Bamor

Presidente da Bamor era o agressor mais violento, segundo a vítima

Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 11:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal/Reprodução/CORREIO

O estudante Abimael Ammon Nascimento Costa, 21 anos, que é torcedor do Vitória e natural de São Sebastião do Passé, nunca usava a camisa do time rubro-negro na capital baiana temendo ser agredido. Na noite de quarta-feira (6), contudo, Abimael foi espancado por cinco torcedores da organizada tricolor Bamor quando praticava exercícios físicos na praça da cidade onde mora. 

“Todos os dias ele corre na avenida principal de São Sebastião. Ele estava com a camisa da torcida Imbatíveis, do Vitória, quando esses caras jogaram o carro em cima dele. Ele conseguiu atravessar a rua e correr para dentro dos matos, mas eles entraram nos matos e começara a agredir ele. Ele caiu, chutaram a cabeça, foi bastante espancado. Ele chegou a levar pontos até nas nádegas”, conta o parente da vítima. 

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O presidente da torcida organizada Bamor, do Esporte Clube Bahia, Luciano da Silva Venâncio, 34 anos, acabou preso no mesmo dia, após a série de agressões contra Abimael. Além dele, a Polícia Militar prendeu também outros quatro integrantes da organizada: Sérgio Soares Brandão, 37, Tiago Tiburcio dos Santos, 33, Matheus Pires Castro, 28,  e George da Silva Mata 35, que também participaram do ataque.“Na cabeça de Abimael criou um hematoma gigante. Ele relata que o presidente da Bamor era o mais agressivo. Foi ele que bateu mais, que chutou a cabeça dele. O presidente foi o mais agressivo no ataque. Não sei se intenção inicial deles era matar, mas quem lança um carro em um pessoa, desce e depois começa a agredir, chutar o rosto e todo o corpo, tinham sim a intenção de matar. Ele até me falou ‘queriam ceifar minha vida’”, relata o parente do estudante que também trabalha como autônomo.  Presidente da Bamor (centro), segundo a vítima, era o agressor mais violento (Foto: Divulgação/SSP-BA) O parente da vítima relata que Abimael só estava usando a camisa da Imbatíveis, mas que não é integrante da torcida organizada. “Ele não usava a camisa em Salvador. Quando ele vinha para Salvador ver os jogos, não usava nenhuma camisa do Vitória justamente com medo das agressões. Ele é cristão, pratica esportes e não gosta de briga”, destaca o parente da vítima que depois de prestar depoimento foi atendido no Hospital Municipal de São Sebastião do Passé com escoriações nas pernas, braços, nádegas e cabeça. "Ele está sentindo muita dor”, destaca o parente.    A agressão aconteceu em São Sebastião do Passé, mas os presos foram transferidos para Lauro de Freitas, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), onde estão custodiados à disposição da Justiça. 

Segundo a SSP-BA, a ocorrência do espancamento foi registrada no Centro Integrado de Comunicações (Cicom), que acionou uma equipe da PM com a informação de que o ataque era praticado por cinco torcedores vestidos com camisas da torcida organizada do Bahia, à bordo de um veículo Hyundai IX 35, prata, placa policial NYH 7040. Com os torcedores, foram encontradas duas facas tipo peixeira, informou a SSP-BA. Facas e celulares foram apreendidas pela polícia com os integrantes da Bamor  Foto: Divulgação/SSP-BA “Abimael contou na delegacia, após identificar os autores, que eles tentaram o atropelar e, em seguida, passaram a agredi-lo exigindo que entregasse a camisa do Vitória, também de torcida organizada (Os Imbatíveis), que ele vestia no momento da ação", explicou o tenente Hélio Nery da 95ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Catu).

Os cinco integrantes passavam por São Sebastião do Passé em direção a Alagoinhas, onde ocorreu o jogo entre Bahia x Atlético de Alagoinhas. Na Delegacia de São Sebastião do Passé, o grupo foi autuado por lesão corporal, formação de quadrilha. Eles seguem à disposição da Justiça na delegacia de Lauro de Freitas - unidade que tinha delegado ontem à noite e funcionou como plantão metropolitano para receber presos da região nesta quarta-feira (6).

Histórico Os episódios de violência envolvendo Bahia e Vitória são conhecidos das duas torcidas. Casos de agressão por parte dos torcedores dos clubes baianos já extrapolaram o ódio ao torcedor adversário e já até fizeram vítimas os próprios jogadores. 

Em julho de 2018, torcedores do Bahia foramfazer cobranças aos jogadores, que retornavam à capital depois de um empate com a Chapecoense, clube de Santana Catarina. Na ocasião, apesar da presença da Polícia Militar, membros da organizada Bamor entraram em luta corporal com o zagueiro Everson e o centroavante Júnior Brumado, ex-tricolor, que chegaram a ser atingidos com socos e empurrões. 

Momentos depois, o zagueiro e a família tiveram o carro cercado e chutado, a maçaneta do veículo acabou sendo arrancada e o vidro da janela traseira estilhaçou em cima da criança.

No dia seguinte, em 21 de julho, O Bahia chegou a enviar carta aberta aos torcedores, pedindo que os torcedores não tivessem "amor só no nome, mas paixão nos gestos e atos"."O clube também solicitou medidas enérgicas à Secretaria de Segurança Pública e adotará todas as providências necessárias para que os crimes cometidos sejam severamente punidos", dizia a declação do Bahia.Meses antes, em abril, o torcedor do Vitória Tiego Santos Silva, de 24 anos, foi baleado na Estada da Cocisa, em Paripe. Tiego, segundo registro feito no posto policial do Hospital do Subúrbio, foi alvejado nas costas e nas nádegas. 

Na situação, outro torcedor do Vitória foi agredido com um soco no olho. Os atentados aconteceram horas antes da final do Campeonato Baiano, vencido pelo tricolor. Na época, testemunhas afirmaram que homens armados chegaram gritando: "Aqui é Bamor, aqui é Bamor".

O torcedor do Bahia Antonio Marcos Sadela, 49 anos, que foi baleado no ombro esquerdo em um atentado no final da noite do mesmo domingo da final do Baianão, na sede da Bamor, no Tororó. Ele morreu sete dias depois. Além de Marcos, outros dois torcedos foram baleados no atentado, Daniel Sena Duarte, 20, atingido no abdômen, e Hugo dos Santos, 25. Eles foram socorridos e ficaram bem. 

Em fevereiro de 2018, 13 pessoas, sendo 12 delas vestidas com a camisa da torcida organizada Os Imbatíveis, do Vitória, foram detidas após uma briga com torcedores do Bahia, na Baixa dos Sapateiros, no Centro de Salvador.

Um vídeo gravado por celular gravou os envolvidos arremessando objetos uns contra os outros, quando uma viatura da Polícia Militar chega e surpreende os homens. Todos foram ouvidos e liberados pela Polícia Civil. 

No último dia 30 de janeiro, a Polícia Militar definiu um efetivo de 338 policiais como parte do planejamento de segurança do primeiro Ba-Vi de 2019, que aconteceu no domingo (3), na Fonte Nova, pela Copa do Nordeste. Casos de violência não foram registrados nas imediações do local, nem antes e nem depois da partida, que contou com a presença de torcida mista, e terminou 1 em 1.