Itapuã: zelador entra no mar pra salvar adolescente que se afogava e morre também

O pai acredita que Ivanilson pulou no mar 'por instinto', já que não conhecia o adolescente

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  • Tailane Muniz

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 11:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO

O zelador Ivanilson Santos Messias, 24 anos, natural do Recôncavo, estava em Salvador há duas semanas. Na tarde de sábado (12), feriado do Dia das Crianças, entrou no mar da praia de Itapuã para tentar salvar o adolescente Wendel Machado da Silva,15, que se afogava. Os dois morreram. 

Depois de decidir que não viajaria este final de semana até a cidade natal, resolveu ir à praia e não voltou. Na capital, Ivanilson morava na casa da cunhada, no bairro da Boca do Rio. 

O corpo dele foi encontrado na praia de Placafor, nesta segunda-feira (14), de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM). A corporação informou que equipes do 13ª Grupamento de Bombeiros (13°GBM/Gmar) retiraram Ivanilson do mar e solicitaram a perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT).

Pai da vítima, o pedreiro Roque Messias, 53, chegou a Salvador ontem. Abatido, disse à reportagem que o filho estava acompanhado da namorada quando morreu.

“Ele viu o moço se afogando e entrou para ajudar, parece que não tinha salva-vidas perto. Triste, mas foi isso”, diz ele, que resolve a liberação do corpo no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), onde também está Wendel - localizado nesta madrugada, na mesma praia de Placafor.

O CMB afirma, contudo, que há equipes de salvamento na praia de Itapuã, na altura da Avenida Dorival Caymmi, onde as vítimas se afogaram. Os Bombeiros disseram que as buscas foram iniciadas ainda no sábado, logo após o acidente. Pai do zelador, o pedreiro Roque veio de Santo Amaro para reconhecer o corpo do filho (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Pai de dois, Roque conta que Ivanilson, o caçula, tem uma menina e um menino, de 4 e 5 anos. A ideia era visitar os filhos nas folgas mas, nesta final de semana, relatou cansaço à família. "Ele ligou e disse que não iria. Eu até estranhei, porque ele era louco pelas filhas".'Por instinto' O pedreiro acredita que Ivanilson pulou no mar "por instinto", já que não conhecia o adolescente.  Querido em Santo Amaro, o zelador conseguiu o emprego fixo em um prédio no bairro da Graça e resolveu vir para a capital.

"Ele era um rapaz do bem e tranquilo. Eu não sei como vai ser agora para as meninas [netas] é muito difícil", comenta, ao lembrar as características físicas do filho. "Baixinho, preto igual a mim". Sereno, Roque lamenta não poder mostrar uma foto de Ivanilson.

Não bastasse o luto pelo caçula, Messias acabou assaltado no bairro de Itapuã, na tarde de ontem, quando buscava informações sobre as circunstâncias do afogamento. "Levaram tudo, até meus documentos".

Diz que tem as "mãos atadas", sem os familiares em Salvador. Com a ajuda de estranhos, fez contato com Santo Amaro e aguarda o filho mais velho chegar para somar forças e "acabar logo com isso". Agora, o que importa para Roque é viabilizar o enterro. E resume: só quer levar o filho "de volta para casa".