Jacaré em Coutos é um dos 84 animais silvestres encontrados só este ano, em Salvador

Pescadores acharam o animal, resgatado pela Guarda

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  • Bruno Wendel

Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

Com os braços abertos, seu Luiz Augusto de Jesus, 56 anos, mostrou o tamanho do bicho. “Era desse comprimento... Tinha quase dois metros”, contou o pescador que deu de cara com um jacaré quando foi puxar uma rede na madrugada desta quarta-feira (3), na Praia de Coutos. Opa! Jacaré na praia?! Mas o que parecia ser mais uma história daquelas, na verdade, foi o primeiro jacaré encontrado fora do seu habitat em Salvador este ano - até agora, 84 animais silvestres já foram resgatados desde 1º de janeiro.  Segundo o comandante do Grupo Especial de Proteção Ambiental (Gepa) da Guarda Municipal, Robson Pires, o jacaré foi retirado do habitat provavelmente pelas chuvas fortes que ocorreram anteontem. “Isso está se tornando normal, porque a supressão de vegetação que vem ocorrendo dentro do nosso município está sendo muito agressiva ao nosso meio ambiente e está sendo de uma maneira muito rápida. Os animais já estavam aí antes de nós chegarmos, nessa área de Mata Atlântica, e nós invadimos o local deles e começamos a desmatar. A tendência desses animais é aparecerem nas ruas, residências”, declarou.  Somente neste ano, o Gepa resgatou 84 animais silvestres fora do seu habitat, incluindo o jacaré encontrado ontem, o primeiro do ano, e da espécie papo amarelo. Do total resgatado, 24 foram jabutis, 19 gambás, 11 cobras e 7 micos. Já em 2020, foram encontrados 1.254 animais silvestres em Salvador, entre cobras (290), quelônios (129), gambás (123), jacarés (10), dentre outras espécies. 

Pescadores O réptil apareceu num trecho da praia de Coutos, atrás da Escola Laboratório (Escolab) de Coutos, na Rua da Lagoa. Era por volta das 4h30, quando seu Luiz Augusto cruzou com a fera, de 1,30 metro e pesava aproximadamente 20 kg. Estava mais assustada do que brava. “Acordo bem cedo para puxar a rede.  Quando cheguei na praia e olhei para o lado, lá estava ele, quieto, encostado junto ao muro da escola, próximo à rampa de acesso à praia. Isso nunca aconteceu aqui”, contou o pescador. O jacaré ficou imóvel somente por alguns segundos. Um outro pescador se preparava para descer a rampa quando percebeu a presença do animal. “Os dois se assustaram. O jacaré abriu o bocão e mexeu com a cauda, como se fosse se defender e o pescador pulou para outro lado”, relatou ele, em meio a gargalhadas dos colegas. O pescador Luiz Augusto mostra onde o jacaré ficou cercado por cães e gatos (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Foi então que o jacaré correu para a parede lateral de um bar, ponto de encontro dos pescadores, carinhosamente chamado de “sede do sindicato”. “Mas uns cinco a sete cachorros cercaram o jacaré e começaram a latir. Até uns gatos que estavam por perto se aproximaram também. Foi aí que a gente conseguiu tirar eles do campo de visão do jacaré, que poderia abocanhá-los facilmente. Daí o jacaré correu novamente e se isolou no outro canto da barraca”, disse Luiz Augusto. Imediatamente, os pescadores ligaram para a Guarda Municipal, que orientou a preservação do local e o distanciamento das pessoas do animal até a chegada de uma equipe da Gepa. “Cercamos com madeiras para que ninguém mais chegasse perto”, contou o também pescador Nilton Oliveira, 48, que disse não temer o inusitado visitante. “Ele só ataca se for atacado. Ele parecia mais assustado que a gente. A única forma de ele me pegar é se estivesse na água”, brincou. Segundo ele, o cerco era mais para proteger o réptil, já que algumas pessoas pretendiam fazer do animal o almoço do final de semana. “O pessoal começou a aglomerar, dizendo que é natural comer o bicho, que no Norte é muito comum caçar jacarés, mas a gente aqui não deixou. Ficamos até a chegada da Guarda”, relatou Nilton.   Por volta das 7h, a equipe do Gepa resgatou o jacaré. Com equipamentos específicos, o animal foi imobilizado e levado direto para o Centro Estadual de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), em Pituaçu. Rio Paraguari  Ao que tudo indica, o jacaré chegou em Coutos através do Rio Paraguari, que desemboca na praia. “A água vem de lá da BR-324, passa por Fazenda Coutos e chega até aqui”, disse Nilton. Outros animais e objetos já foram trazidos pelo rio em dias de chuva. “Cobras, iguanas, gambás...também colchões, madeiras. A água é tão forte que arrasta tudo o que vê pela frente”, contou.  O jacaré terai chegado pelo Rio Paraguari que desemboca na praia (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)  E a força da água traz um outro tipo de problema. “Quando o rio sobe, a água transborda também pelas caixas de esgoto. Ou seja, as casas às margens do rio são invadidas pela água podre. Precisamos de uma obra de drenagem no rio. Já pedimos inúmeras vezes aos órgãos competentes e nada”, disse a aposentada Carmem Cabral, 63, moradora da região.