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Gil Santos
Publicado em 13 de novembro de 2020 às 05:15
- Atualizado há 2 anos
A estudante do ensino médio Gabriela Araújo tem 16 anos e recorda com se fosse ontem o dia em que visitou o zoológico de Salvador pela primeira vez, há alguns anos. Ela contou que aprendeu nomes científicos de alguns animais, hábitos e modos de vida dos bichos e, em casa, compartilhou a novidade com os pais e com as duas irmãs mais novas.>
“Foi uma experiência nova para mim. Eu nunca tinha visto tantos bichos diferentes em um mesmo local. Lembro que ficamos um tempão observando as cobras. A professora aproveitou que a gente estava interessada e falou sobre a alimentação e o modo de vida delas. Foi uma aula maravilhosa”, contou Gabriela.>
É esse tipo de interação que os professores esperam que o novo Jardim Botânico de Salvador ajude a desenvolver nos estudantes. A unidade fica no bairro de São Marcos, estava passando por reforma há um ano, e foi entregue nesta quinta-feira (12). São 61 mil representantes de espécies de plantas, presentes no bioma brasileiro e estrangeiro, que estão à disposição para visitas, pesquisas e estudos.>
Educação Ricardo Faria leciona para estudantes do ensino médio e em cursinho pré-vestibular, e contou que o processo de aprendizado costuma ser mais bem sucedido quando acontece de forma empírica. Quando os estudantes têm acesso à planta, e podem sentir a textura, o cheiro e as cores do vegetal, a absorção do conhecimento é mais rápida que na sala de aula, onde há apenas o desenho no quadro ou no livro.“Um acervo rico é importante porque ajuda os estudantes a entenderem a diversidade de onde a gente vive. É bom que isso venha acompanhado de um projeto para não ficar muito solto. É importante que a escola faça um tour pelo Jardim Botânico e explique a importância desses centros. Muita gente sabe como funciona um museu, mas não sabe o que é um herbário, por exemplo, que é um museu de plantas”, afirmou.O professor Ricardinho, como é conhecido entre os estudantes, contou que nesses passeios é possível apreender sobre sustentabilidade, produção de alimentos, reprodução, extinção de espécies, ecossistema, desmatamento, mudanças climáticas, dentre outros assuntos. Ele frisou a necessidade de relacionar esses conteúdos com a vida humana, e contextualizar o conhecimento sobre os vegetais.>
“Quanto mais cedo a gente conscientizar esses meninos e meninas sobre a importância das plantas para o nosso ambiente e para uma convivência um pouco mais sustentável, melhor. A gente pode ter retornos até econômicos. Às vezes, ouvimos que para ter uma economia forte e um país que se desenvolve economicamente é preciso uma situação antagônica em relação à conservação, e não pode ser assim. Hoje em dia, o mundo interior discute conservação e as plantas estão muito inseridas nesse debate”, disse.>
Os educadores acreditam que a reabertura do Jardim Botânico de Salvador pode ajudar a população a entender a necessidade da preservação das matas. A professora Andreia Sarraf leciona para estudantes da rede pública e contou que quando precisa trabalhar temas relacionados às plantas, recorre às árvores que estão mais próximas da escola. Para ela, a capital precisa de mais espaços com riqueza de espécies.“Sair da sala de aula é sempre um ganho. Poder desbravar, ir para o campo, principalmente na biologia, é um ganho absurdo. Eu digo sempre aos meus alunos que quando a gente sai da sala de aula e vai para um anfiteatro, por exemplo, o olhar já muda. Poder trabalhar in loco a botânica e a fisiologia é um ganho imensurável. É sair do quadro para vivenciar o aprendizado”, afirmou.Funcionamento O novo Jardim Botânico será administrado pela Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis). O titular da pasta, João Resch, disse que o local será usado para pesquisa e contemplação.>
“Esse espaço possibilita o maior entendimento do nosso bioma, um bioma que tem sofrido muito nos últimos anos com a devastação. É um legado para a cidade. É muito importante ter esse equipamento em funcionamento. São 61 mil exemplares de espécies da mata atlântica, cerrado, catinga, e diversos outros biomas. O pesquisador ou estudante vai poder analisar esse material, junto com nossa equipe técnica”, disse.>
O funcionamento acontece das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira. A prefeitura estuda a possibilidade de abrir o espaço também aos sábados, mas, por conta da pandemia, grupos de estudantes e passeios escolares ainda não estão autorizados.>
O local tem viveiro de plantas, setor de programas e pesquisas, laboratórios, espaço de coleções vivas, acervo científico, salas administrativas e de curadoria, herbário, auditório, e área semicoberta para atividades diversas com arquibancada. Existe também espaço digital, hall de exposições, trilha, e uma escultura do artista plástico Bel Borba. São 160 mil metros quadrados, sendo 2,2 mil m² de áreas construída, e o investimento foi de R$ 10 milhões.>