Jornalistas da Record se revoltam após contratação de ex-apresentador do JN

Matheus Ribeiro ficou conhecido por ser o primeiro gay a ser âncora do noticiário da Globo

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  • Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2020 às 11:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Após deixar a TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, Matheus Ribeiro fechou com a Record de Brasília para assumir o principal telejornal da emissora local. Mas o jornalista não foi bem recebido na nova casa, tanto que os novos colegas escreveram uma carta de repúdio a sua chegada, citando que sua "única relevância é ser gay", algo amplamente divulgado quando Matheus apresentou o Jornal Nacional pela primeira vez.

A carta divulgada pelo site Notícias da TV tem como principal objetivo mostrar insatisfação com a demissão de Luiz Carlos Braga, que estava na emissora havia 12 anos, mas também há uma sequência de ataques indiretos a Ribeiro, que assumirá seu posto.

O trecho mais polêmico da mensagem dá a entender que a única relevância curricular do ex-Globo é a sua orientação sexual, algo que, acusam os funcionários da Record, Matheus usou para atrair atenção da mídia em benefício próprio. O apresentador se asumiu gay um mês antes de comandar o Jornal Nacional pela primeira vez, por conta do aniversário de 50 anos do noticiário. 

"Essa Redação, em grande parte, teve o privilégio de conviver com Luiz Carlos Braga por 12 maravilhosos anos. Perde a emissora, ao trocar o certo pelo duvidoso, e perdemos nós. Perdemos o convívio de alguém respeitoso, atencioso, leal e de caráter e reputação ilibadas. Braga nunca precisou de atenção midiática para ter relevância e nunca usou de sua orientação sexual para benefício próprio", diz parte do texto.

No entanto, o conteúdo não chegou às mãos da direção da Record de Brasília porque os jornalistas temeram sofrer represálias. Eles consideram que as demissões promovidas na casa nos últimos dois meses foram arbitrárias, e viram colegas perderem seus empregos por manifestarem o descontentamento com as mudanças. 

Foi isso que ocorreu em março, quando João Beltrão, antigo diretor de Jornalismo da Record de Brasília, foi demitido após 14 anos na emissora por tentar proteger um grupo de repórteres que trocava mensagens de cunho racista a respeito de colegas negros no WhatsApp. 

Parte de seus antigos subordinados se revoltaram com a demissão, e uma jornalista que manifestou repúdio também perdeu o emprego. Uma carta chegou a ser escrita para a direção, reprovando a dispensa de Beltrão, mas o envio foi declinado após entenderem que haveria represálias para quem se opusesse às decisões dos chefões da emissora. 

Ao Notícias da TV, a Record afirmou que os diretores da afiliada de Brasília não receberam a suposta carta de repúdio à contratação de Matheus Ribeiro. Procurado, o novo âncora do Record DF disse não se sentir confortável para comentar algo que sequer tem conhecimento. 

Confira o texto divulgado pelo Notícias da TV:

Carta aberta para a diretoria da Record‬ ‪

Nós, da Redação da Record Brasília, viemos por meio desta carta manifestar irrestrito apoio ao jornalista Luiz Carlos Braga, arbitrariamente desligado da emissora por ordens superiores. A diretoria desta casa optou por escantear uma carreira de três décadas e ilibada reputação, além de incontáveis prêmios, em prol de uma contratação cuja única relevância curricular é a sua orientação sexual.‬ 

‪Antes de ser desligado, Braga havia sido convidado para o posto de analista do Jornal da Record. E, sem nenhum motivo justificável, o convite virou uma demissão unilateral. O motivo? Suposta redução de custos. Algo que, claramente, não condiz com a realidade, tendo em vista as mudanças que se avizinham.‬ 

‪Essa Redação, em grande parte, teve o privilégio de conviver com Luiz Carlos Braga por doze maravilhosos anos. Perde a emissora, ao trocar o certo pelo duvidoso, e perdemos nós. Perdemos o convívio de alguém respeitoso, atencioso, leal e de caráter e reputação ilibadas. Braga nunca precisou de atenção midiática para ter relevância e nunca usou de sua orientação sexual para benefício próprio.‬ ‪

Nada temos contra o novo apresentador do DF Record. Mas temos, e muito, a reclamar da maneira inadequada da qual um dos profissionais mais prestigiados da história do telejornalismo do Distrito Federal foi desligado.