Jovens 'faziam fila' para virar ladrão de ônibus em Salvador; recrutador é preso

Segundo a polícia, José Geovane de Jesus, 48 anos, aliciava adolescentes para roubar coletivos nas regiões do Iguatemi e Boca do Rio

  • Foto do(a) author(a) Tailane Muniz
  • Tailane Muniz

Publicado em 5 de outubro de 2017 às 16:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alberto Maraux/SSP

Há cerca de um ano, o autônomo José Geovane de Jesus Dias, 48 anos, tinha a função de fazer a guarda de mercadorias dos camelôs da região do Iguatemi, em Salvador. Mas a principal atividade do autônomo, mais conhecido como Pai da Maloca, segundo a Polícia Civil, era agenciar grupos de adolescentes para assaltar ônibus em alguns pontos da cidade. Preso, ele foi apresentado à imprensa nesta quinta-feira (5) e negou as acusações. 

Conforme a titular da 16ª Delegacia (Pituba), delegada Maria Selma Lima, o suspeito usava o cargo no camelódromo para facilitar o contato com adolescentes do local. Geovane já tinha um mandado de prisão em aberto.

"Ele atuava ali há mais de um ano, atraindo adolescentes, usuários de drogas e moradores de rua. Claro, ele tinha muitos recrutas, que faziam filas, e agiam do jeito que ele ordenava. Três simulacros de armas de fogo eram usados na ação", relatou a delegada. 

José Geovane, que foi preso nesta quarta-feira (4), na Praça Newton Rique, localizada em frente ao Shopping da Bahia, não resistiu à prisão, segundo a polícia."Ele reunia aqueles meninos e jovens, que chegavam a fazer fila para entrar no 'negócio'. Os meninos eram separados em grupos de três", afirmou Maria Selma.Locais preferidos Ainda segundo ela, os principais focos de assalto eram ônibus que faziam linha para os bairros da Boca do Rio e Imbuí, além da região do Iguatemi, Avenida Tancredo Neves e Hospital Sarah.

À imprensa, José Geovane afirmou que é morador de Pernambués e pai de quatro filhos. "Eu nunca segurei uma arma de mentira e nem de verdade. Eu não fiz isso. Eles estão me acusando porque a gente costuma expulsar alguns moleques daquela área justamente por cometer roubos. Eles ficam com raiva e, quando são presos, inventam história para a polícia", disse ao CORREIO, acrescentando que antes de trabalhar no local, realizava bicos de pedreiro. Nenhuma arma foi apreendida com o suspeito.

A delegada confirmou que chegou ao autônomo por meio de denúncias de pessoas que foram presas após cometer assaltos naquela região, mas reiterou a autoria do crime. "Este homem é responsável por orquestrar quase 90% dos assaltos a ônibus naquela região. Ele é o Pai da Maloca", reforçou ela, completando, porém, que José Geovane não participava dos roubos.  José Geovane foi preso por aliciar adolescentes para o crime (Foto: Alberto Maraux/SSP) Agenciamento Conforme a Polícia Civil, as 'equipes' de Pai da Maloca realizavam cerca de cinco assaltos por dia, preferencialmente na região do Iguatemi."Eles roubavam os pedestres nos ônibus e pontos, depois retornavam para entregar o roubo, que era a responsabilidade de Geovane distribuir os lucros dos assaltos, ou seja, dinheiro, pertences e celulares", explicou a delegada Maria Selma Lima.O suspeito, segundo ela, chegava no camelódromo - onde tinha a função passar a noite e a madrugada guardando os materiais dos camelôs - por volta de 17h. Às 18h, ainda conforme a polícia, ele começava a reunir os meninos para programar como e onde fariam os assaltos. 

De acordo com a delegada, os trios costumavam agir simultaneamente. "Enquanto a Polícia Militar estava na cola de um dos grupos, tinha sempre outro agindo em um local naquela região", completa. A polícia não apreendeu adolescentes envolvidos nos ataques.

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As investigações duraram mais de seis meses, segundo Maria Selma. "Já temos muito tempo o acompanhando. Tanto que ele já tinha o mandado de prisão preventiva em aberto. Sem dúvidas, ele é responsável pela maioria desses casos. Certamente vamos ter uma redução no número de assaltos", considerou.

Crimes José Geovane vai responder por corrupção de menores, formação de quadrilha e roubo. Ele foi encaminhado ao Centro de Observação Penal (COP), no Complexo da Mata Escura.

Em contato com o CORREIO, o titular do Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc), delegado José Nelis Araújo, disse que não tinha maiores informações acerca do preso e afirmou que o suspeito não tem passagens pelo Gerrc.