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Ignorando perigo de intoxicação, moradores fizeram até churrasco; veja vídeo
Eduardo Dias
Publicado em 4 de setembro de 2019 às 05:10
- Atualizado há um ano
Se em alguns restaurantes de Tóquio são comuns os pedidos de sashimis e até filés de carne de baleia, em Salvador essa novidade chegou há apenas uma semana, embora fora de qualquer estabelecimento comercial.
A iguaria entrou no cardápio de alguns moradores do Subúrbio Ferroviário, desde que, na última sexta-feira (30), uma baleia jubarte adulta morreu após encalhar na praia de Coutos.
Moradores da região aproveitaram a oportunidade para encher os estoques de freezeres e geladeiras, e não demorou para o rango exótico ir parar nas panelas ou churrasqueiras, como na casa do auxiliar de pedreiro Jorge Silva, 28 anos.
Agora conhecido como Jorge da Baleia, ele chegou a se vangloriar por ter um estoque em casa que duraria por até dois meses. Os alertas sobre a possibilidade de intoxicação e até crime ambiental, no entanto, abreviaram o prazo e ele acabou se desfazendo de todo o material.
Antes, no entanto, arriscou algumas receitas usadas no preparo de um churrasco que, segundo ele, tinha gosto de carne de boi e, ao mesmo tempo, de peixe.
“Eu primeiro lavei a carne toda com vinagre, joguei um frasco inteiro. Depois, peguei sete limões, e deixei ela umas duas horas de molho, só no limão e no vinagre”, contou.
“Depois do molho, foi só botar cebola, alho, sal e cominho. Deixei refogar por uma meia hora. Aí foi só largar brasa e saborear”, explicou Jorge, que revelou que o churrasco foi acompanhado de muita cerveja, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador. Ouça a receita.
Antes de ir para a churrasqueira, Jorge ainda gravou um vídeo para os amigos, saboreando a iguaria e causando inveja aos colegas da rede social.
Ao alho e óleo Diferente de Jorge da Baleia, outro morador, que pediu para não ser identificado, contou ao CORREIO que usou bem seus dotes culinários para preparar a iguaria de outra forma.
Além de refogar a carne de jubarte no alho e óleo, ele fez um cozido recheado de verduras. Na panela, tinha de tudo um pouco: batata, chuchu, cenoura...
"Deixei a carne descansando por um tempo no tempero seco. Depois, refoguei no óleo com cebola e alho. Por fim, joguei tudo na panela com as verduras e ficou uma delícia. Inclusive o caldo, muito bom mesmo", contou o morador, todo contente com o ensopado.
Além do prato, ainda tirou a gordura para fazer o famoso óleo de baleia, que tem propriedades analgélsicas e, segundo ele, serve até para tratar de dor nos ossos.
Lei e saúde Assim como Jorge Silva e o outro cozinheiro de ocasião, muitos outros moradores não seguiram à risca a recomendação de especialistas sobre o perigo de consumir carne de baleia, ignorando também o fato de ser uma prática ilegal.
“Consumir a carne de baleia, além de ser crime ambiental, por se tratar de um animal protegido por lei, é também um risco grave à saúde humana. Se esse animal encalhou, é porque estava muito doente. Não é recomendável que comam a carne desse animal”, afirmou a bióloga Luena Fernandes, do Instituto Baleia Jubarte.
A lei que protege os animais de toda espécie de cetáceo - animais de vida aquática e mamíferos das águas jurisdicionais brasileiras - é a Lei nº 7.643, de 18 de dezembro de 1987, que em seu Art. 1º, que prevê a proibição da pesca ou qualquer forma de molestamento intencional de toda espécie.
Quem for pego cometendo o ato, pode responder por crime ambiental, além de ser punido com pena de dois a cinco anos de reclusão e multa.
A gastroenterologista Cristina Martins atesta o que disse a bióloga e, além de alertar para o risco do consumo da carne de baleia, diz que torna-se ainda mais danoso à saúde se o alimento não for devidamente refrigerado.
Ela explicou que, embora o consumo seja autorizado em países da Ásia, no Brasil não se trata de uma prática comum e pode causar uma intoxicação alimentar, que pode provocar sintomas como vômito, náuseas e diarreia.
Quem consumiu a carne deve procurar um posto de saúde ou um médico imediatamente. Curiosos se aproximaram de animal mesmo após dois dias em decomposição (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) *Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro