Lança Perfume na Bahia

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  • Nelson Cadena

Publicado em 9 de fevereiro de 2018 às 02:45

- Atualizado há um ano

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Os alemães perderam a guerra, mas não a expertise tecnológica, e invadiram o Brasil com o lança-perfume fabricado pela Rhodia, das marcas Rodo e Righoleto; invadiram, nesse cenário de comercio de suprimentos para o Carnaval também a Bahia de modo que em 1918 – há exatos 100 anos – nos demos ao luxo de adquirir 96.000 bisnagas. Pare aí para pensar meu querido leitor, preste bem atenção: o jornal O Imparcial, em fevereiro do ano referido, nos informa que foram vendidas 96.000 bisnagas, 70% distribuído pelas Lojas Duas Américas, conceituado magazine de moda da Rua Chile que brindava os jornalistas com caixas do produto. Ações de RP bem originais para a época.

Se você gosta de fazer contas, a população de Salvador era, naqueles idos, em torno de 283 mil habitantes (IBGE 1920), ou seja, estamos falando no consumo de uma bisnaga por cada três habitantes. Nos dias de hoje, projetando essa relação de 3 x 1 teríamos 1 milhão de bisnagas sendo consumidas nas ruas. Que horror! Nem tanto assim. O produto era adquirido apenas para brincar, a ninguém lhe ocorria cheirar esse trouço. Baiano é chegado a um cheiro, mas, demorou a descobrir – ainda bem – que o lança-perfume também podia ser inalado. Foi a partir da década de 50 quando a sua formula passou a ter substâncias similares ao éter.

O seu uso original consistia em expelir, jogar nos outros, um jato cujo aroma era semelhante ao “L’Air dus Temps” de Nina Ricci, perfume gostoso para incrementar a paquera: jogava-se um cheirinho no cangote, ou na orelha, assim meio distraído para disfarçar, mas nem tanto que deixasse passar desapercebida a intenção. Tanto foi um símbolo, abre-alas, da paquera que foram lançados no mercado cartões postais com imagens da Colombina e seus dois xodós, o Pierrô e o Arlequim, eles portando bisnagas de lança perfume para seduzir e conquistar a amada.

O curioso é que apesar das 96.00 bisnagas de lança-perfume vendidas alguns setores da imprensa consideravam que o produto não teve a mesma aceitação do que nos anos anteriores e culpavam por isso a novidade do espanta-poeira que os marqueteiros da época resolveram chamar de mamãe-sacode. O Jornal A Capital estampou na sua manchete de primeira página “O mamãe-sacode venceu o lança-perfumes”, culpou a guerra e qualificou o Carnaval do ano referido como “desopilante, sem colorido e comum”. O repórter ouviu o proprietário das Lojas Braga, este declarou que “foi o diabo quem venceu” o lança-perfumes, em função da parcimônia dos gastos. Tivesse ouvido o proprietário das Duas Américas, outra teria sido a sua percepção.

A Capital esforçou-se em justificar a manchete e ouviu outro comerciante pequeno, o proprietário da Casa Manso que também culpava a guerra pela “urucubaca” das vendas fracas de lança-perfume. Argumentava que a escolha do folião era em razão do preço: com 500 reis comprava-se um mamãe-sacode que durava o carnaval inteiro e bem conservado poderia ser aproveitada em outros carnavais. Já, o lança-perfume custava o dobro e não durava o dia tudo. Pelo visto cada folião usava entre cinco a seis, ou, mais bisnagas durante os três dias de festa. O preço elevado despencou com a concorrência de outras marcas Alice, Flirt, Brasil, Ypiranga, Pierrot, Vlan... e o seu consumo diminuiu até entrar na clandestinidade em 1963 quando o presidente Jânio Quadros proibiu o seu uso.

Outra foi a sorte do mamãe-sacode que de adereço informal passou a ter o protagonismo visual nas coreografias dos grandes blocos carnavalescos a partir da década de 80 e em especial na década seguinte.