Liberadas só na segunda, praias de Salvador enchem de banhistas

CORREIO visitou algumas praias neste domingo e encontrou banhistas sem máscaras

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 20 de setembro de 2020 às 16:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/ CORREIO

Com a temperatura em 27°C e sensação térmica de 29°C, os praieiros anteciparam o banho de mar na orla de Salvador na manhã deste domingo (20). No último dia de interdição total das praias, muitos estavam em família ou em grupo de amigos. O argumento para furar as regras de isolamento social é de que o risco de contágio pelo novo coronavírus é menor nas praias se comparado a bares, restaurantes e shoppings, já liberados para clientes.

As praias da capital foram liberadas para uso de banhistas pelo prefeito ACM Neto na sexta-feira (18), porém, a regra vale a partir dessa segunda (21). Todas continuarão fechadas aos finais de semana e algumas também às segundas. Em dias de feriado, nenhuma poderá abrir. O uso de máscara é obrigatório enquanto o banhista estiver na areia."Não estamos permitindo o funcionamento das praias no final de semana e nem feriados para evitar aglomerações. No caso do Porto da Barra, do Buracão e da Paciência, elas não vão reabrir porque possuem uma faixa de areia muito pequena e que tradicionalmente aglomeram muita gente, independente do dia", disse Neto."É uma questão de segurança. Mesmo nos dias de semana poderiam ser palco de aglomeração", continuou. "No caso das praias do Subúrbio, Ribeira, Amaralina e Itapuã, elas também costumam reunir muita gente às segundas e por isso não estarão abertas nesse dia", explicou ACM Neto.Todas as outras praias da cidade terão funcionamento de segunda a sexta. O horário é livre nos dias liberados. Praia de Piatã ficou lotada no domingo (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Delegacia O CORREIO percorreu algumas praias como Amaralina, Boca do Rio, Itapuã e Stella Maris e, apesar da pequena presença da fiscalização, os banhistas não se intimidaram.

Em Amaralina, agentes da Guarda Civil Municipal realizavam a orientação para saída de banhistas que estavam na região, nas proximidades do Quartel do Exército, quando um homem, contrariado por ocasião da proibição da prática esportiva (futebol), desacatou a guarnição, "proferindo palavras de teor ofensivo", segundo a Guarda.

Ele ofereceu resistência e foi conduzido à Central  de Flagrantes. Durante a discussão, um guarda teve um ferimento no dedo e precisou ser encaminhado à unidade de emergência para atendimento.

Na praia de Piatã, enquanto três guardas municipais estavam na orla, próximo ao antigo Casquinha de Siri, a população se espalhava em grupos por toda a areia.“Como é que as pessoas não podem vir às praias no sábado e no domingo, os únicos dias de lazer, mas podem no final de semana beber e comer nos bares e restaurantes às margens da praia? Por que aqui não pode, que é local aberto, ventilado, mas é só atravessar a pista que está tudo permitido? O certo era não abrir nada. Como é que permite nos outros dias e no final de semana não? O povo avacalhou”, declarou o vendedor Pedro Paulo Guimarães dos Santos, 33 anos, ao lado do filho Pedro, de 3 anos.A alguns metros dos dois, estava um grupo de quatro banhistas, entre elas a esteticista Alene Guimarães, 36, que já teve a covid-19. “Desde quando começou a pandemia, só saía de casa para ir ao mercado. Mesmo tomando todos os cuidados, eu e a minha mãe tivemos a doença. O mercado tem muito mais riscos, porque é um ambiente fechado, do que a praia”, argumentou, deitada sobre uma canga. Vendedores ambulantes e banhistas na praia de Piatã (Foto: Nara Gentil/CORREIO) O marido dela, o operador de cobrança Esdras Gomes Barbosa Pereira, 31, defende a praia nos finais de semana. “Quem trabalha a semana toda, estuda, cuida de casa e dos filhos, só tem o sábado e o domingo para relaxar. Ir à praia de segunda a sexta é privilégio de poucos”, disse ele, enquanto segurava uma lata de cerveja. 

A opinião do casal é o mesmo entendimento de duas amigas sentadas na areia. “Quem tem dinheiro fica na sua casa com piscina ou vai para a casa de praia. Mas o pobre, que trabalha igual a um condenado, não tem outra diversão. É a praia mesmo”, opinou a técnica em laboratório Emanuela Alcântara Tosta, 33. “Tomar banho de mar e andar na areia. Pra quê coisa melhor para reforçar a imunidade?”, emendou a técnica em segurança do trabalho, Geovana Araújo dos Santos, 34.  

Stella Maris A situação na Praia de Stella Maris não foi diferente. A areia estava tomada de banhistas. O analista de sistema Elton Oliveira, 41, argumentou também que o ambiente aberto oferece menos risco à contaminação. Praia de Stella Maris (Foto: Nara Gentil/CORREIO) “Se você libera durante a semana, por que não o final de semana? Isso é relativo, porque no verão, a segunda na praia da Barra é lotadíssima. É melhor estar aqui na praia do que num shopping ou cinema, por exemplo. Aqui as pessoas estavam afastadas e estamos ao ar livre. Depois desse tempo todo, esta é a primeira vez que viemos à praia”, disse ele, que pegava um sol ao lado da mulher, Ana Cláudia Isensee, 31.“Estamos afastados de outras pessoas, trouxemos tudo de casa para evitar o contato que é comum na hora de se comprar algo, trouxemos nossas máscaras, álcool em gel, enfim, estamos fazendo a nossa parte. Vale mais a consciência de cada um”, declarou, enquanto se bronzeava.   A vendedora Shirlei Doria, 38, pretendia ir com a família aproveitar o domingo nas praias do Litoral Norte. Mas acabou desistindo por conta da distância e resolveu parar em Stella. “Me assustei! Não esperava encontrar tanta gente assim. Mesmo as pessoas um pouco mais afastadas das outras, pensei que aqui estaria vazio. A segurança nós só teremos com a chegada da vacina. Até lá, só precaução”.

Devagar, devagarinho A partir dessa segunda (21), agentes da Guarda Civil Municipal começam a Operação Devagar, Devagarinho em substituição à Tira o Pé da Areia, que foi a fiscalização durante o período em que as praias estiveram com o acesso proibido. Agora, o foco será no cumprimento dos protocolos nessa fase de liberação. 

Ao longo dos seis meses da Operação Tira o Pé da Areia, foram percorridos diariamente mais de 50 km de praia, com o emprego da quase totalidade do efetivo, de forma revezada. A atuação conta ainda com auxílio de uma força tarefa municipal, composta pela Transalvador, Sedur, Semop Fiscalização e Salvamar. Dezesseis pessoas foram encaminhadas para a delegacia por resistência ou desacato.

"A Guarda Civil Municipal está preparada para fiscalizar as praias, como tem feito ao longo de todo esse período em que o decreto esteve vigente. A operação Tira o Pé da Areia foi um grande sucesso, esperamos que a população nos auxilie no cumprimento dos novos protocolos e com isso possamos somar esforços contra a covid-19", afirma Maurício Lima, diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência.