Lições para a Era das Crises

Agenda Bahia Tempo 21 - Trilha Sonhar: Pandemia expõe necessidade de empreendedores entenderem o momento do ciclo de vida das empresas

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  • Priscila Natividade

Publicado em 30 de outubro de 2021 às 05:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Felipe Muñoz conta que abrir uma galeria de arte dentro da barbearia ampliou a experiência oferecida ao cliente e o faturamento (foto: divulgação)

 Antes era uma barbearia e tudo ia bem nas duas unidades: uma na Pituba e outra no Rio Vermelho. Com cinco anos, o negócio conquistou sua estabilidade e estava tudo “bem redondo”, como define um dos sócios da A (Bar)bearia (@a.barbearia), Felipe Muñoz.  Mas aí veio a pandemia.  “Fomos pegos de calças curtas e tivemos de reestruturar", lembra. "Encerramos o serviço na unidade do Rio Vermelho. A transformação foi gradual. Vimos a oportunidade de mexer na marca, sobretudo, com algo que eu sempre amei muito que é arte. E aí, era a oportunidade de se reinventar”, comenta.   Em agosto, A (Bar)bearia Bar e Barba reabriu sua unidade da Pituba repaginada, trazendo para a fase de retomada uma galeria de arte com exposição de trabalhos de artistas mais alternativos. Nos últimos três meses, passaram pela Arte do Clube (@artedoclube) exposições de Susano Correia, POMB, G U I N R, Onekbc¸a, Pedro Pondé e Agá. O faturamento está 10% acima da  pré-pandemia.  “Foi realmente uma reinvenção. A gente se transformou hoje na única galeria dentro de uma barbearia no mundo - pelo menos, eu ainda não encontrei nada assim no Google. Foi apostar no novo, no diferente, no que não está sendo feito. Já temos um cenário de clube mesmo, as pessoas vão, não só para fazer o serviço, mas para bater um papo, aproveitar as exposições, tomar um café ou uma cerveja. Agregou experiência”, destaca Muñoz.  Fases Introdução ao mercado, fase de crescimento, maturidade e declínio. Esses são os ciclos de vida de cada negócio, explica o consultor José Nilo Meira, que também é produtor rural e exportador. “O primeiro momento é de grandes desafios, dúvidas e dificuldades. Na fase de crescimento, as empresas já possuem uma consolidação no mercado. Em seguida, vem a maturação, (quando) a marca já é conhecida pelo público, tem boa estrutura de capital e não se preocupa tanto em crescer, e sim em proteger seu nicho de mercado”, fala. 

O declínio é a fase que tem que ser adiada ao máximo.  “São poucas as empresas que se tornam longevas, passando por várias gerações. Para evitar o declínio as empresas devem estar sempre se reinventando e se colocando em sintonia com as mudanças do comportamento do consumidor”, explica o consultor.   

Após passar pelo ciclos de criação, diferenciação e maturidade, Muñoz - da A (Bar)bearia - acredita que a pandemia foi importante para a empresa sair da ‘zona de conforto’, com a injeção de um novo negócio dentro de outro.  “Eu percebo que hoje abrimos um espaço para não ficar só naquele ciclo de maturação do negócio. Incrementamos com exposições que são temporais e com isso conseguimos estar sempre inovando constantemente”, pontua.   Assim como A(Bar)bearia , no último ano, todas as empresas foram afetadas pela crise do coronavírus, umas mais e outras menos. “Muitas adotaram um processo de enxugamento, buscando estratégias de sobrevivência. Até mesmo as empresas maduras e bem capitalizadas sofreram, sendo obrigadas a adiar planos e a demitir funcionários. Conhecer em que ciclo a empresa se encontra é fundamental para saber lidar com cada desafio que as fases da vida empresarial lhes impõem”, reforça José Nilo. 

Oportunidade Cenário caótico para muitas empresas, fim das atividades para outros.  Mas tem um terceiro grupo, para o qual  a pandemia trouxe oportunidades. 

Para Wagner Gomes, analista técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-BA), a crise acelerou ciclos. Números do Sebrae mostram que, no início da contaminações, no ano passado, o que levaria cinco anos para as empresas adotarem formatos novos de atendimento e presença digital aconteceu em só  quatro meses.  “Sem dúvida, as atividades ligadas à alimentação, medicação, serviços de tecnologia, educação e cuidados com a saúde passaram por essa reinvenção. O que mudou foi a forma para a aquisição dos produtos ou serviços: o delivery, drive-thru, compra remota, atendimento a distância, aulas e reuniões on-line”.

Por outro lado, segmentos na área do turismo, eventos e entretenimento, moda, artesanato e economia criativa ficaram entre os mais impactados. “Flexibilidade, mentalidade inovadora, capacidade de adaptação, observação do cenário e rápida reação são caraterísticas de empreendedores que tiveram bons resultados durante a pandemia”, acrescenta o analista.   No caso da Fazenda Esperança (@fazenda_esperanca_), o tempo correu a favor. Faz um pouco mais de um ano que o que empresário Leonardo Santos dava seu jeito para não perder a produção de mel quando as feiras livres fecharam. Era um comércio informal que, com  muitos contatos de WhatsApp e entrega a domicílio, se tornou, recentemente, uma loja física  na Pituba.   “Experimentamos um crescimento exponencial. Hoje o desafio é conduzir o comércio eletrônico com a loja, mantendo a qualidade, a excelência do serviço e os preços atrativos em ambos”, afirma.    “Com as restrições de circulação social, as pessoas modificaram os hábitos e a forma de consumo. No auge da pandemia, a Fazenda Esperança conciliava todos esses fatores: oferecia produtos saudáveis, entregava em domicílio, fortalecia os pequenos produtores e investia em ações sociais. Apostar todas as fichas na expansão, mirando nesses diferenciais foi o grande trunfo”, comemora. 

Para conhecer o ciclo do seu negócio 

Plano de negócios  Faça um planejamento estratégico anual, com o levantamento dos seus pontos fortes e fracos, bem como as ameaças e oportunidades relacionadas ao seu ciclo de vida (Matriz SWOT); 

 Público-alvo   Embora crescer seja sempre desejável, é bom estar atento à qualidade dos novos clientes na hora de realizar vendas a prazo, por  exemplo. 

Fidelização    Buscar clientes novos é importante, porém, mais importante ainda é manter a fidelidade dos compradores atuais, realizando uma boa gestão de carteira;  Cuide do fluxo de caixa  Realize investimentos com a fonte de financiamento adequada, seja com capital próprio, seja com capital de terceiros, com custos e prazos adequados;   Mercado    Fique de olho no que está acontecendo no mercado e não deixe de escutar o que ele tem a dizer, avaliando o que é tendência. Se reinvente sempre para adiar, ao máximo, a chegada até à fase do declínio do negócio. 

O Agenda Bahia 2021 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Unipar, parceria da Braskem, apoio da Sotero Ambiental, Tronox, Jotagê Engenharia, CF Refrigeração e AJL Locadora e apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Sistema FIEB, Sebrae, Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Rede Bahia e GFM 90,1.

O programa do Agenda Bahia 21 pode ser assistido aqui