Líder de facção, Dona Maria diz estar grávida e anuncia livro sobre sua vida

Acusada de diversos crimes, traficante afirma que renda vem de pensão da mãe

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  • Bruno Wendel

Publicado em 30 de setembro de 2019 às 17:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Alberto Maraux/Divulgação SSP-BA

De cabelos loiros e arrumados, Jasiane Silva Teixeira, 30 anos, a Dona Maria, entrou de cabeça erguida no auditório do prédio-sede da Polícia Civil e parou rente ao banner da instituição, na manhã desta segunda-feira (30). A aparência era diferente da imagem divulgada dela Secretaria da Segurança Pública (SSP) no Baralho do Crime, em 2017, mas a postura continuava a mesma de uma líder de uma organização criminosa.

Durante entrevista coletiva à imprensa, Jasiane, que é apontada como a líder da facção Bonde do Neguinho (BDN), fez questão de responder às perguntas dos jornalistas. Ela disse que desconhece a maioria das acusações e afirmou que, depois de tudo, vai lançar um livro. Também contou à polícia que está esperando um filho."Deus tem um plano em minha vinha. Inclusive, vou escrever um livro na editora que quiser. Eu tenho certeza que o meu final vai ser de transformação. Se você tem a oportunidade, pegue o seu limão e faça uma limonada”, disse, em tom de ironia.Dona Maria foi presa na última quarta-feira (25), em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, junto com o também traficante Márcio Faria dos Santos, o Carioca, braço financeiro da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) no Leste Paulista.

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Segundo o diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), delegado Marcelo Sansão, o estado será beneficiado com a prisão de Dona Maria.

“Dona Maria fazia a capitalização muito grande dos recursos com os grupos criminosos não só daqui, como os de fora também, principalmente em São Paulo, onde estava sob acompanhamento de um grupo criminoso. Não só armas e drogas, mas os crimes de Vitória da Conquista, questões de roubos, homicídios, tráfico terão uma redução com a prisão de Dona Maria. Não é à toa que estava como a Dama de Copas no Baralho do Crime. Foi um trabalho de investigação brilhante coordenado pela nossa inteligência”, comemorou Sansão.

O delegado falou sobre o impacto do BDN em Vitória da Conquista e adjacências.“São dezenas de homicídios. A frieza dela é muito grande. Ela consegue potencializar a ação do grupo criminoso não só pela inteligência, mas também pela violência. A ocupação do território é feita pelo seu gerente, o Neguinho. Muitas mortes feitas com requintes de crueldade", disse Sansão.Segundo ele, o impacto dos homicídios era muito forte em Vitória da Conquista. "Então, a gente precisava dessa resposta e agora seguimos com o acompanhamento dos demais integrantes do seu grupo e também dos rivais na tentativa de ocupar a região que a facção dela ocupa”, completou o delegado. Segundo ele, Neguinho deverá assumir a liderança do BDN.

Gravidez À polícia, Dona Maria disse estar grávida. Mas, para o delegado, é uma tentativa dos advogados dela para conseguir algum tipo de vantagem, a exemplo da prisão domiciliar.

“Na sexta, ela veio com a informação de que estava grávida e então a gente solicitou a perícia para que fizesse coleta de material para confirmar a versão, mas ela não quis. A gente acredita que ela está trazendo uma informação inverídica nesse sentido, mas a gente vai fazer a confirmação, até porque, se ela estiver grávida, não vai conseguir esconder. Ela tem dois filhos pequenos, mas não vivem com ela”, disse Sansão.

Em depoimento exclusivo ao CORREIO, Jasiane voltou a negar a maioria dos crimes e disse que "não é um monstro". Assista.

Em outubro do ano passado, três homens foram presos em Vitória da Conqusita em uma aeronave usada no transporte interestadual de drogas. Segundo a polícia, o avião era do BDN e era monitorado há cerca de um ano e meio. O trio foi capturado no povoado de Baixa do Cocá, que fica distante cerca de 37 quilômetros de Conquista, após equipes da 10ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Vitória da Conquista) identificarem uma pista clandestina em uma fazenda do local.

O BDN buscava pasta base de cocaína na Bolívia, passava pelo Pará e depois distribuía para outros estados brasileiros, entre eles a Bahia, segundo a polícia. Com os suspeitos, foram apreendidos o avião monomotor, pouco mais de R$ 7 mil em espécie, uma pistola calibre 9 mm (uso restrito) e uma caminhonete de luxo. O delegado comentou a movimentação financeira da facção.“No avião, foi apreendido no ano passado um volume grande de drogas, essa movimentação não foi a primeira. O que descobrimos é que a aeronave vinha fazendo a circulação entre países da América Latina, passando por outros estados do Brasil para ser distribuído uma droga de qualidade. Essa aeronave está hoje em uso policial e foi comprada nos Estados Unidos em 2017 e pela Dona Maria. Tem facilidade de descer em qualquer pista e por isso é muito utilizado para essa atividade ilícita. É um fusca dos aviões”, contou o delegado.O delegado disse ainda que, com o dinheiro do tráfico, Jasiane vivia uma vida luxuosa, gastando o dinheiro com roupas, viagens, procedimentos estéticos e até arcava com o custo do estudos de parentes. “Pagava a faculdade de Medicina de uma parente no Rio de Janeiro. É uma faculdade cara em Petrópolis e o pagamento era feito através da atividade ilícita de dona Maria”, contou.

O delegado falou em seguida que Jasiane será encaminhada para a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado da Bahia (Seap), que irá mandá-la a uma unidade. “A Seap está ciente da periculosidade dela, mas, aqui na Bahia, não existe cela individual para mulheres. Diante do perigo que ela representa, a minha vontade é encaminhá-la para o sistema prisional federal, mas não recebe mulheres”, declarou Sansão.    

Livro Sabatinada pelos jornalistas, Jasiane respondeu algumas perguntas na maior tranquilidade. Em outras situações, ela usou o deboche. No final, disse que pretende lançar um livro para contar sua trajetória. Sobre as acusações de ser a líder do BDN, da compra de um avião, ela disse “desconhecer”.

“Eu quero dizer que isso é holofote em cima de mim. Eu sou uma simples mulher como outra qualquer que me deram uma fama que desconheço. Estou aqui por captura, porque tinha uma sentença a cumprir. Eu não me declaro inocente, porque a partir do momento que a polícia determina a prisão de uma pessoa, algo tem, mas estou vendo um holofote muito grande”, disse.

Ela afirmou reconhecer apenas uma de inúmeras acusações: associação para o tráfico. Segundo a polícia, ela responde processo também por tráfico e homicídio, neste caso, a morte de um agente penitenciário em Jequié.“Aonde estão esses milhões? Se eu tivesse esses milhões, estaria presa? Estaria desse jeito. Cadê o luxo? Nossa, como vocês são, heim? Adoram fazer burburinho. Estou famosa mesmo. Vocês gostam, né? (...)", disse ela.Sobre ter se recusado a fazer um exame para confirmar a gravidez, ela não quis confirmar. "Estou com suspeita de gravidez. Vocês querem realmente saber? Mas eu não vou falar, para mim já deu. O certo seria falar na presença de minha advogada. Desde o dia que fui presa, não deixaram falar com ela. Não me consideraram uma ligação”, afirmou.

Segundo Dona Maria, sua renda era fruto da pensão da mãe. “A minha mãe foi casada com um desembargador e recebe uma pensão", declarou.