Líder do BDM, traficante 'Presidente' é morto em confronto com a PM

Integrantes da facção declaram luto e fizeram homenagens nas redes sociais

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  • Bruno Wendel

Publicado em 8 de maio de 2020 às 17:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

(Foto: Divulgação/SSP) Quando a Secretaria de Segurança Pública (SSP) estampou o rosto de Tiago Neri Rosa, 36 anos, em outubro do ano passado, no Baralho do Crime, ele era o 8 de Espadas, conhecido como Canela ou Tico. Apesar de não ter havido mudanças no carteado da SSP, no jogo do Bonde do Maluco (BDM), Tiago atualmente era o Rei de Espadas e passou a ser chamado de “Coroa” e “Presidente” - expressões usadas para definição de chefe supremo.

A ascensão se deu com a morte do fundador do BDM, Zé de Lessa, em dezembro de 2019. Mas, assim como Lessa, Tiago é hoje mais uma carta fora do baralho, após ter sido morto em confronto com Polícia Militar nesta quinta-feira (7), no bairro de Brotas, em Salvador.

“Ele era atualmente o chefe da facção à qual fazia parte. Os relatos que temos é que Tiago era um dos cabeças e que posteriormente, com a morte de Zé de Lessa, passou a ser o 01, liderança maior. Não pense nele como dono de boca, como mais um gerente. Era mais do que isso. Era atualmente o dono da facção que é hoje o grupo criminoso do estado, com lideranças em Salvador e outros municípios”, declarou comandante da Rondesp Atlântico, major Edmundo Assemany. A unidade foi responsável pela ação que resultou na morte do traficante na Rua Irmã Dulce. Traficante é lembrado pela facção nas rede sociais  Tiago foi enterrado às 15h, no cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas. A morte dele repercutiu entre seus soldados nas redes sociais. Em um perfil do Instagram que o CORREIO teve acesso, uma foto de Tiago aparece sem camisa sentado numa mesa tomando uma água de coco. Na postagem são usados dois emojis – um na cor azul que encobre o rosto do traficante e um outro na cor vermelha, com olhar raivoso e choroso. Abaixo, um texto corrido, sem pontuação, com erros de ortografia e emendado com emojis de corações partidos e expressões de raiva “Deus bote oh coroa em um bom lugar tá no coração coroa canela pra sempre em nossos coraçãos presidente (sic)”. 

No aplicativo WhatsApp, circula um vídeo de 29 segundos retratando o sentimento da facção: luto. São imagens de Tiago sozinho e acompanhando de outras pessoas com a trilha sonora ao fundo “Esperava eu chegar”, música do MC Kevin o Chris com a participação do MC Cajá. Em uma das imagens, Tiago aparece usando uma fantasia do bloco afro Filhos de Gandhy. No encerramento, a frase “Do pescoço para baixo é Canela”.

Tiago, junto com Zé de Lessa e Marcelo Batista dos Santos, o Marreno, morto pela polícia em setembro de 2017, fundaram o BDM. Inicialmente, a intenção era fazer uma dissidência da facção Caveira nos moldes do Primeiro Comando da Capital (PCC), maior organização criminosa do país. No entanto, na ocasião, houve um racha e o grupo independente, liderado por Zé de Lessa, se tornou independente.

De acordo com fontes da SSP, na separação, os criminosos mais cruéis se filiaram ao BDM. Desta forma, no lugar de alianças, passou a conquistar os espaços à força, valendo-se dos ataques em grupos, os chamados “bondes”, e o uso das redes sociais para espalhar o terror psicológico – divulgação de vídeos de mutilações e decapitações de rivais.

Levando em consideração que a maioria das pessoas envolvidas no tráfico não chega aos 30 anos, pois morre em confronto com a polícia ou pelos rivais, Tiago, com 36, era considerado um 'idoso'. “Um homem experiente no crime e por isso já não jogava mais na ponta, dando a cara a tapa, fazia um jogo mais recuado, ordenando, planejando, era um cara esperto, mas para a criminalidade”, pontuou major.  

Morte De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) Tiago liderava o BDM, responsável por tráfico de drogas, homicídios, roubos a bancos e carros-forte, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de menores. Na manhã desta quinta-feira (7), policiais da Rondesp Atlântico receberam informações de outras forças estaduais de segurança e da Polícia Federal sobre o possível esconderijo do foragido da Justiça. 

Na Rua Irmã Dulce, em Brotas, o traficante foi encontrado dentro de um imóvel. Ele foi cercado, mas tentou fugir atirando contra os militares. Houve confronto e o foragido acabou atingido. Mesmo socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), o criminoso não resistiu aos ferimentos.

Com ele foram apreendidos uma pistola calibre 380, carregador, munições e dois tabletes de maconha. "Agimos com rapidez para evitar que o líder de facção escapasse. Na ação, nenhum policial nem inocente ficaram feridos", relatou o comandante da Rondesp Atlântico, major Edmundo Assemany.

Namorada Tiago foi encontrado num apartamento que ele alugava por R$ 500 para a namorada. O imóvel é num prédio antigo. Os vizinhos relataram à polícia que o traficante era visto poucas vezes e não era de conversa. “Contaram que Tiago era muito sisudo, chegava sempre de cara fechada e que algumas vezes testemunharam as agressões físicas dele para com a namorada”, contou um policial que participou da ação. 

Os moradores disseram à polícia que, apesar disso e de algumas visitas de “gente com cara de ladrão”, não desconfiaram que Tiago era um traficante. “A maioria dos moradores do prédio é de pessoas que passam o dia todo fora, mas que nas poucas vezes que estavam em casa, perceberam que saiam do apartamento de Tiago algumas pessoas tidas como estranhas, relacionadas principalmente no modo de se vestir e de se comportar”, contou o policial. 

A namorada de Tiago não foi encontrada no apartamento. “A gente não sabe o grau de participação dela nisso tudo. Mas, uma coisa temos certeza: pode não ter participação ativa, mas ela não é santa, tenho certeza que sabia o que ele fazia”, disse o PM.  Zé de Lessa fundador do BDM (Foto: Divulgação) Zé de Lessa O então bandido mais procurado do estado, o baiano José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, foi morto no dia 4 dezembro do ano passado pela polícia no estado do Mato Grosso do Sul.  Fundador e líder da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM), ele era o Às de ouros do Baralho do Crime da SSP, um arquivo que reúne os principais criminosos do estado.

A SSP destacou que Zé de Lessa tinha envolvimento com ataques a bancos, assaltos a carros-fortes, sequestro e tráfico de drogas. Ele estava escondido no Paraguai. Em 2018, ele quase foi preso, segundo a SSP-BA, mas fugiu.

"Estávamos há alguns anos trocando informações com a Polícia Federal e inclusive com a Polícia do Paraguai. Sabíamos que ele estava lá, trazendo droga para abastecer o BDM aqui no nosso estado e que, por algumas oportunidades, nós tivemos quase próximos de pegá-lo, mas graças a Deus a polícia do Mato Grosso do Sul nessa ação conseguiu tirar ele de circulação. Para nós é um alívio e agora é trabalhar em cima das informações que eles detêm lá. Já pedimos para a inteligência [da SSP] averiguar o que tinha com ele, quem estava andando com ele para ver se tem a informação de prática de outros crimes aqui no estado", afirmou na ocasião o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, via WhatsAp para o CORREIO. O secretário estava na Aústria, onde participa de viagem institucional para compra de novos armamentos.