Linda e diversa: Salvador pelos olhares de 3 fotógrafos incríveis

Você precisa conhecer as fotos que Antonello Veneri, Uiler Costa e Alves Filho fazem da capital baiana

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  • Daniel Silveira

Publicado em 21 de agosto de 2018 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Antonello Veneri/Divulgação

Último domingo foi o Dia Mundial da Fotografia e, para comemorar, apresentamos três fotógrafos que veem Salvador de jeitos diferentes: Alves Filho, Antonello Veneri e Uiler Costa.

Capital da resistência Sabe aquela foto da mulher que levantou o vestido para cortar os pelos pubianos na praia do Rio Vermelho em pleno 2 de fevereiro, Dia de Iemanjá? Quem fez foi Antonello Veneri, 44. O italiano de Trento é apaixonado pelos contrastes de Salvador, onde vive há quase 10 anos. (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) “O que me encanta aqui é que os extremos andam juntos e se alimentam. O sagrado e o profano, o corpo e a alma, a beleza e o drama... Na Europa é tudo mais cinza”, diz ele. Aqui, ele se encantou de encontrar pelas ruas personagens que acreditava só existir em livros de Jorge Amado: “Eu achava que ele escrevia de uma Bahia folclórica, que talvez nunca nem tivesse existido. Mas, morando aqui, ví tantas vezes a Salvador de Jorge“.

. Dia de festa na Ladeira da Preguiça: contrastes urbanos de Antonello Veneri (Foto: @antonelloveneri/Divulgação) Cadastre seu e-mail e receba novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, tecnologia, bem-estar, pets, decoração e as melhores coisas de Salvador e da Bahia: (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) A fotografia entrou na vida de Antonello quando ele era jornalista e professor de literatura, dos 24 aos 34. “Comecei como repórter, mas a fotografia foi ganhando espaço e, no fim das contas, eu até parei de dar aulas e só fotografava”, conta. (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) Já o Brasil virou morada em 2007, depois de uma longa viagem pela America Latina, na qual ele chegou a morar um ano no Equador. No começo, ele conta que fazia reportagens sobre o Brasil para veículos italianos. Depois, começou a mostrar o Brasil na mídia brasileira. Foi o caso da série de fotos Salvador é um Paraíso, publicada pela revista Vice, em 2016. Em meio aos anéis de Mãe Stella de Oxóssi, a uma travesti nua subindo a Ladeira da Preguiça e a um ônibus pegando fogo, lá estava a tal mulher com as partes à mostra na festa de Iemanjá. (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) Na capital baiana, o primeiro endereço de Antonello foi a Rua dos Perdões, no Santo Antônio Além do Carmo. Depois foi para o Rio Vermelho, para a Ladeira da Preguiça, e hoje está em Itapuã. Mas ele não larga Centro Histórico. “Tenho um projeto com Marcelo (Telles), do Centro Cultural que Ladeira é Essa?, que mistura fotografia e poemas. A gente anda pelas ruas, muitas vezes à noite, sem rumo. Vamos por onde a inspiração levar. Começamos em 2013 e não paramos mais”, conta Antonello. (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) Ele se define como um fotógrafo do incomum. “Nada contra meninos pulando no Porto da Barra. É digno. Mas eu faço fotografia documental é mais profundo. Me tocam os espaços onde, apesar de tudo e do poder querer engolir essas pessoas, elas resistem. É uma forma de resiliência, palavra que agora tá na moda, mas é lindíssima. São os lugares onde essas pessoas encontram formas de existir e resistir”, afirma. (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) “Uma coisa muito importante pra mim foi fazer exposições nos lugares que fotografei. Foi assim na Ladeira da Preguiça e também no Complexo da Maré (Rio de Janeiro), onde fotografei pessoas nas salas de suas casas. Acredito na lei do retorno. As pessoas se abrem, eu acompanho as vida delas”. Uma das imersões foi no Âncora do Marujo, bar de drag queens na Rua Carlos Gomes. O projeto ganhou forma na primeira parada do orgulho LGBT de Trento e Antonello sonha conseguir expor o material por aqui. (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) A guia de oxalá no pescoço é lembrança de outro cotidiano que ele acompanhou de perto: o de Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá. “Há quatro anos, participei de um documentário sobre ela. Me aproximei aos poucos, com grande respeito. Acho meio ridículo aqueles gringos que mal chegam e já se acham. Tive o privilégio de me tornar amigo de Mãe Stella e de fotografá-la fora de situações oficiais”. (Foto: Antonello Veneri/Divulgação) Encontrar obras de Antonello por aí não é fácil. Ele diz que vendas desse tipo são secundárias para ele, que se considera um fotógrafo missionário. “Invisto tudo que ganho com publicações, vendas e aulas em projetos futuros. Minha vida é dedicada totalmente a conhecer e entender o próximo. Então, muitas vezes, tenho que abrir mão da vida pessoal. Mergulhar no cotidiano dos outros exige disposição, tempo e paixão. Nem penso nisso como trabalho, porque é tão pleno e prazeroso... Não me incomoda abrir mão de tantas coisas. Eu passo o tempo sendo curioso. Quando você entende as histórias dos outros, entende a própria também”, diz.

Vista de cima Tudo parece muito pequeno, mas é a forma de olhar Salvador que Uiler Costa mais gosta de usar em seus registros. “Sempre achei bonito. Quando comecei a fotografar, subia em prédios e coberturas”, lembra o fotógrafo, que começou entre 2013 e 2014.  O Nordeste de Amaralina, visto de cima, é onde pobreza e beleza se encontram em Salvador (Foto: Uiler Costa/Divulgação) Hoje, suas fotos são feitas de helicóptero.  “Tudo em Salvador é bonito para fotografar. Aqui, a gente tem uma luz interessante, principalmente entre julho e setembro, que é uma luz ‘mais macia’, nela tudo fica bonito”, conta.  (Foto: Uiler Costa/Divulgação) Entre os destaques, os bairros mais pobres da capital baiana. “Fotografo muitas favelas desde 2015, quando fiz meu primeiro voo”, rememora. “Salvador é uma das cidades com mais favelas no Brasil, daí eu comecei a mapear e fotografar”. Foi uma das formas que ele encontrou de entender a cidade. “Muita beleza e muita miséria convivem”, aponta Uiler.  Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração e pets: Uiler faz trabalhos para empresas de turismo, para órgãos públicos e já participou até de edições da National Geographic. Atualmente, é representado por duas galerias, a Art & emotion fine art gallery, na Suiça, e a Paulo Darzé, aqui em Salvador. Para conhecer melhor sua obra é só acessar seu site uiler.com. (Foto: Uiler Costa/Divulgação) 365 Faróis em um só Há cerca de 15 anos, o fotógrafo Alves Filho começava a se arriscar na fotografia. Quando as câmeras digitais ainda não eram populares, ele deu seus primeiros passos com uma compacta. “Naquele tempo, a câmera devia ter uns dois mega pixels de resolução (rs), eu entrei no Flickr, tinha uma comunidade”, lembra. Ele conta que nessa época havia um grupo de fotógrafos de Salvador em que já postava suas imagens. “Em 2009, criei um site chamado soteropoli.com, que ainda está ativo. Colocava fotos minhas e de fotógrafos convidados”, conta. (Foto: Alves Filho/Divulgação) Foi assim, fotografando pontos turísticos e festas populares da cidade como Lavagem do Bonfim e festa de Yemanjá, que Alves Filho foi descobrindo suas paixões. “Visitava esses lugares e procurava fazer o maior número de fotos de diferentes ângulos”, comenta. Foi assim que surgiu o projeto “Um Farol, 365 Clicks”, em que se lançou o desafio de fazer 365 imagens diferentes do Farol da Barra, seu ponto turístico favorito.

“Meu objetivo era buscar ângulos novos, então rodei aquilo tudo fotografando só o Farol da Barra, foi um projeto bem gratificante”, lembra. O projeto completou sua saga, mas não se encerrou. Em sua conta no Instagram (@alves_filho), ele ainda segue publicando imagens do ponto turístico. “Se você me perguntar, é ele que eu gosto de fotografar”, diz. Foto: Alves Filho/Divulgação Não à toa foi o registro escolhido por ele para demostrar seu olhar por Salvador.  “A cidade é muito fácil fotografar, ela tem beleza natural, tem história, monumentos e a parte cultural. E o Farol consegue juntar tudo isso”, define. O artista conta que, na busca por novos olhares sobre o tão fotografado Farol, já até pediu para entrar em coberturas da região, a fim de conseguir o melhor clique. Suas fotos já renderam uma exposição dentro do Museu Náutico da Bahia, que fica no Farol.