Livro que Crivella mandou recolher se esgota na Bienal do Rio

Fiscais da prefeitura foram hoje ao evento para verificar "venda de livros impróprios"

  • D
  • Da Redação

Publicado em 6 de setembro de 2019 às 13:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Todos os exemplares da história em quadrinhos "Vingadores, a cruzada das crianças" à venda nos estandes da Bienal do Livro do Rio se esgotaram em cerca de meia hora nesta sexta-feira (5), de acordo com o G1. Fiscais da prefeitura foram à Bienal hoje. Os fiscais estavam acompanhados pelo subsecretário de operações da Secretaria Municipal de Ordem Pública, o coronel Wolney Dias. À Folha, ele afirmou que a visita é para verificar denúncias de que livros impróprios estão sendo comercializados no evento. "Não é censura. Estamos cumprindo uma recomendação da Procuradoria Geral do Município".

Segundo a organização da feira, às 9h39 de hoje, todos os pontos que vendiam a graphic novel já não estavam mais abastecidas com a história. Na quinta, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, determinou que a HQ fosse recolhida por ter "conteúdos impróprios para menores". A organização da Bienal afirmou que não faria isso. A história tem um beijo gay.

"Não é correto que elas tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades", afirmou Crivella ontem. A prefeitura reforçou nesta sexta que cumpria o Estatuto da Infância e do Adolescente e afirmou que pode cassar a licença da Bienal por conta da atitude. "Livros assim precisam estar em um plástico preto, lacrado, avisando o conteúdo", diz Crivella em vídeo divulgado em suas redes sociais.

A direção da Bienal divulgou ontem uma nota afirmando que não retiraria o livro e que o evento dá voz "a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser".

"Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+. A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor", informa a Bienal.

A HQ traz a históia dos Jovens Vingadores. Na história, os personagens Wiccano e Hulkling são namorados.

Fiscalização A Prefeitura divulgou nota citando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "A legislação determina que publicações com cenas impróprias a crianças e adolescentes sejam comercializadas com lacre (embaladas em plástico ou material semelhante), com a devida advertência de classificação indicativa de seu conteúdo", diz a nota. "No caso em questão, a Prefeitura entendeu inadequado, de acordo com o ECA, que uma obra de super-heróis apresente e ilustre o tema do homossexualismo a adolescentes e crianças, inclusive menores de 10 anos, sem que se avise antes qual seja o seu conteúdo", continua o texto.

A nota diz ainda que a editora Salvat sabia dessa obrigação, "tanto que a obra estava lacrada". "Não havia, porém, uma advertência neste sentido, para que as pessoas fizessem sua livre opção de consumir obra artística de super-heróis retratados de forma diversa da esperada", diz.

Os frequentadores "têm direito à livre opinião e opção quanto ao conteúdo de leitura de filhos e adolescentes, pessoas em formação", alega a prefeitura, afirmando que não há qualquer tipo de censura na orientação.