Lula ataca Lava Jato, Ciro e diz que Rui não era sua 1ª opção na Bahia

Ex-presidente preferia candidatura de Gabrielli em 2014, mas Wagner o convenceu de que Rui era a 'Dilma' dele

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  • Gabriel Moura

Publicado em 14 de novembro de 2019 às 17:58

- Atualizado há um ano

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. por Mauro Akin Nassor/CORREIO

O ex-presidente Lula (PT) participou nesta quinta-feira (14) da reunião da Executiva Nacional do partido em Salvador, primeiro compromisso político do petista após ter sido solto na última sexta-feira (8) por decisão do Superior Tribunal Federal (STF), que impediu a prisão de condenados em segunda instância. No encontro, o ex-presidente criticou a Operação Lava Jato, cujas investigações o levaram a ficar presoso por 580 dias na sede da Polícia Federal em Curitiba, voltou a defender a tese de que foi vítima de um julgamento político e disse novamente que foi condenado sem provas.

De acordo com Lula, sua prisão teria sido parte de uma ação orquestrada pelos Estados Unidos. “Estou convencido de que foi a Justiça dos Estados Unidos que está por trás de toda essa safadeza que foi feita na Lava Jato. Aí algumas pessoas dizem que eu não posso ser duro em minhas críticas, mas quem diz isso não tem noção do que é colocar na cadeia um senhor de 70 anos por 580 dias”, afirmou o ex-presidente, que disse ainda ter preferido cumprir a prisão para não ser tachado de "fugitivo"“Para falar a verdade foi eu que escolhi ser preso. Tive a oportunidade de entrar em alguma embaixada ou ir para outro país, mas recusei por não querer passar a imagem de fugitivo. E quando teve essa possibilidade de eu receber a liberdade provisória também não quis. Não quero ficar preso em minha casa e também não sou pombo para usar tornozeleira eletrônica”, brincou.Ao deixar a cela onde estava, Lula disse que os brasileiros deveriam seguir o exemplo do Chile, onde diversas manifestações contra o governo estão ocorrendo, e partir para o ataque. Durante a reunião o petista voltou a subir o tom contra a oposição, defendeu a polarização e disse que o período na cadeia fez com que ele retornasse mais “forte e disposto a lutar”. (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “Estão falando por aí que com a minha soltura vai criar-se uma polarização. E é para criar mesmo. Iremos polarizar em 2022 como fizemos em 90, 94, 98… Em todas as eleições após o regime militar. Eles podem inventar o candidato que quiserem, desde o (governador de São Paulo, João) Dória até o ‘Caldeirão do Huck’ (o apresentador Luciano Huck), mas nunca irão tirar o PT da disputa eleitoral”, defendeu.

O tom mais agressivo de Lula foi defendido por outros petistas durante a reunião, como o ex-senador do Rio de janeiro Lindbergh Farias e o deputado federal e líder do partido na Câmara, Paulo Pimenta. Em coletiva, o ex-prefeito de Sâo Paulo Fernando Haddad, candidato da legenda nas eleições presidenciais de 2018, também manteve o mesmo tom.“Nós temos que ir para a rua lutar mesmo. No Chile o presidente acabou reconhecendo que errou e sentou com os manifestantes para costurar um acordo. Não existe democracia sem a oposição, e é isso que nós representamos. E não é oposição ao Brasil, mas ao projeto do Bolsonaro que é pautado em intolerância e violência”, defendeu Haddad.Haddad falou sobre a possibilidade de Lula disputar as eleições de 2022. “No que depender de nós, ele irá recuperar os direitos políticos e voltar a disputar a Presidência. E é esse o foco da nossa luta, a anulação da sentença dada por um juiz parcial”, disse.

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Mal-estar e a 'Dilma' de Wagner Enquanto o ex-presidente estava preso, criou-se um mal-estar entre ele e o governador da Bahia, Rui Costa (PT), após o baiano dizer, em entrevista à Veja, que o PT não deveria se basear apenas no “Lula-livre”. Em resposta, Lula afirmou que Rui deveria jogar menos para si e mais para o partido. Apesar disso, ambos trataram de botar panos quentes na situação.

À imprensa, Lula revelou que ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli era a sua escolha para disputar o governo da Bahia nas eleições de 2012, mas foi convencido pelo então governador Jaques Wagner de que Rui era a melhor opção.  “Eu meu nome era o do Gabrielli, até tirei ele da presidência da Petrobras para isso. Comuniquei minha escolha ao Wagner, que não respondeu nada. Algum tempo depois, ele me chamou e disse que gostaria que um secretário dele, um tal de Rui Costa, disputasse as eleições. ‘Olha, presidente. Esse menino é como se fosse a minha Dilma, um secretário que eu confio’, me disse o Wagner. Com a indicação eu acabei cedendo e apoiando a escolha”, relembrou.Já Rui disse que nunca teve nenhuma aresta para aparar com Lula e garantiu que não há nenhum problema na relação entre os dois. “O PT, desde a sua criação, sempre se caracterizou por debates muitos duros e acalourados. E a grande virtude do partido é que a gente briga, mas na hora H a gente se junta e vai para a luta. E num momento de uma conjuntura adversa, no mundo inteiro, nós nos unimos”, afirmou.

Sem autocrítica Outro assunto abordado durante a reunião foi a opinião de muitos especialistas que pedem que o PT faça uma autocrítica. Lula rejeitou veementemente a ideia. Apesar de reconhecer que o partido errou em alguns pontos, o ex-presidente afirmou que a missão de criticar cabe apenas à oposição.

“Quem quiser está à vontade para criticar o partido no que quiser, só não espere que esta iniciativa parta do próprio PT. Não iremos fazer oposição a nós mesmos. O partido pode ser encrenqueiro, mas irei lutar por ele até o fim. Nós temos uma filosofia aqui dentro, que é a de que, na dúvida, iremos defender até o final os nossos companheiros, não importa o que aconteça”, bradou.

Críticas a Ciro Além de Bolsonaro e Moro, outro quadro político que foi muitas vezes mencionado pelo petista em tom de crítica foi o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT), ex-aliado de Lula e da ex-presidnete Dilma Rousseff. Para atacar o pedetista, Lula chegou a fazer uma analogia com a dupla Ba-Vi.

“Alguém espera que o Bahia afrouxe quando jogar contra o Vitória? E olha, eu sou Bahia, viu? Bora ‘baêa’ minha porra! O Ciro achar que a gente teria que deixar de ter candidatura própria para apoiá-lo em 2018 é piada. Não iremos fazer o que ele quer, encolher para ele crescer. Se Ciro quiser nos vencer, que dispute conosco”, afirmou. 

O próximo compromisso político de Lula ocorre neste domingo (17), em Recife (PE), no festival 'Lula Livre'.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier e edição do editor Jairo Costa Júnior