Mãe de adolescente agredida por cantor de rap pede medida protetiva: 'Apanhamos muito'

Vítima diz ter recebido mensagens de intimidação de pessoas ligadas a Dark MC após denúncias

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  • Tailane Muniz

Publicado em 8 de setembro de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

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Dark MC nega acusações (Foto: Reprodução/Instagram) Até terça-feira (4), quando a reportagem entrou em contato, a mãe da adolescente de 16 anos - que registrou ocorrência na polícia após ter sofrido agressões físicas e verbais do então namorado, o cantor de rap Clóvis de Oliveira Santos Júnior, o Dark MC, 23 -, não queria comentar o assunto com a imprensa.

Após receber mensagens em tom de intimidação, no entanto, a mãe da menina, que também foi vítima das agressões, resolveu relatar ao CORREIO, com exclusividade, a madrugada do dia 29 de agosto, que ela define como "um pesadelo".

A mulher, que prefere não se identificar, solicitou, nesta quinta-feira (6), duas medidas protetivas. Uma para ela, na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), e outra para a filha, na Delegacia de Repressão ao Crime contra a Criança e o Adolescente (Dercca). 

As vítimas precisaram sair de casa, no bairro da Santa Mônica, em Salvador. Elas foram agredidas, física e psicologicamente, por quase três horas. 

A mãe da jovem afirmou que gostava de Dark, com quem a filha mantinha um relacionamento há cerca de cinco meses, admirava seu trabalho como músico, mas já esperava que as "crises excessivas de ciúmes" do rapaz fossem acabar mal. Músico teve ao menos três shows cancelados (Foto: Reprodução/Instagram) Conforme a titular da Deam, delegada Heleneci Nascimento, a Justiça tem até 48 horas, após o pedido, para autorizar a medida."Depois de assinada pelo juiz, o citado [o músico] vai ser comunicado da decisão para estar ciente de que qualquer aproximação das vítimas pode resultar na prisão em flagrante", explicou à reportagem. A delegada disse que, independente da medida, o processo segue sendo investigado pela Polícia Civil por meio da Ação Pública Incondicionada, que é quando a polícia é informada da agressão e, mesmo que a vítima retire a queixa, o caso continua em andamento.

"Neste caso, de lesão corporal contra mãe e filha, a Lei Maria da Penha diz que, por qualquer circunstância, a autoridade policial [delegado] tem que continuar investigando o crime, mesmo que a lesão seja de natureza leve. A lei [Maria da Penha] diz que a ação precisa continuar mesmo sem a representação da vítima".

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Conforme Heleneci, antes mesmo da medida ser deferida pela Justiça, no entanto, caso se sintam ameaçadas, as vítimas podem solicitar apoio da Polícia Militar - que tem autonomia para prender o músico em flagrante, no caso de tentativa de aproximação. 

O Departamento de Polícia Técnica (DPT) tem o prazo de 30 dias, que pode ser prorrogável por mais 30, para enviar um laudo médico com resultados dos exames de corpo de delito à Deam, para que o inquérito seja protocolado e encaminhado ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) - que fornece a denúncia à Justiça.

O CORREIO procurou o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Veja relato da mãe:

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Eu resolvi falar por dois motivos: primeiro, porque alguns veículos da imprensa divulgaram informações mentirosas como, por exemplo, que tudo aconteceu no meio da rua, e que minha filha relatou ameaças. Ela não disse que estava sendo ameaçada em lugar nenhum. 

Após as intimidações, ela deve ter sido coagida a gravar vídeos dizendo que tudo não passava de boato. Mas não eram boatos, são fatos. Ela sofreu e está sofrendo muito. Eu e ela somos as duas vítimas disso tudo. Como ele [Dark] diz em uma música, resolvi falar porque 'eu quero pregar a realidade'.

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Nós fomos, sim, intimidadas por pessoas ligadas a ele. Entraram em contato mandando a gente fazer um vídeo dizendo que era boato. Eu disse que não faria, responderam: "ah, então você vai ver".

Devem ter feito o mesmo com minha filha, e ela aí fez o vídeo. Se você analisar a imagem dela, parecia que ela estava perturbada, ela não estava sóbria naquelas imagens. Por conta dessas intimidações, pedi a medida protetiva.

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Conheci Dark há cinco meses, quando minha filha levou pra me apresentar. Já tinha comentado comigo que estava gostando, porque nós sempre tivemos uma relação muito aberta. Ela sempre me contou tudo, me disse que tinha conhecido ele em uma batalha de rap.

A primeira impressão que tive dele não foi das melhores, por ele ter muita tatuagem. Besteira, mas eu ainda não estava acostumada com esse universo do rap, então primeiro eu fui contra. Ainda assim, não impliquei, então ela passou a levar ele lá para casa mais vezes.

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Ele morava em Rio Sena, mas ia com alguma frequência pra minha casa. Sempre foi um rapaz muito prestativo, que me tratou com respeito sempre, que nunca me negou um favor.

Há mais ou menos dois meses as coisas começaram a ficar diferentes. Eles começaram a brigar muito, sempre por ciúmes. Porque os dois são ciumentos, mas ele supera. Chega a ser psicopata.

Há um mês, mais ou menos, ele passou a morar próximo da gente. Eu soube só agora que ele foi jurado de morte no Rio Sena, onde foi nascido e criado, por isso se mudou para a Santa Mônica.

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Eles vinham brigando muito. Namoraram dois meses, se separaram e depois voltaram, então são mais ou menos cinco meses. No São João nós viajamos e eu lembro que, porque ela olhou para o lado, ele teve um comportamento psicopata e começou a brigar.

Antes disso, eu via ele como uma pessoa calma, sempre me tratou por 'dona', com muito respeito. Só que de uns dois meses para cá, eles passaram a brigar muito por causa do ciúme dele. Ciúmes de muitos músicos que são conhecidos dele, inclusive.

Ele é uma menina de personalidade forte, então acabava discutindo muito. Eu sou mais maleável, eu penso antes de fazer, ela costuma agir por impulso.

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As brigas aconteciam na minha frente. Mas nunca vi ele xingando ela. A gente ia para os lugares, do nada começavam a brigar. Ela me dizia: "não minha mãe, ele vai melhorar, foi só daquela vez, fique calma. Mas eu acreditava que ele fosse piorar. 

O pesadeloEstava eu, duas vizinhas, minha filha e meu filho [que tem 7 anos]. Ele chegou pouco antes de uma hora da manhã. A vizinha foi me mostrar uma foto no celular, e minha filha pediu para ver.

Imediatamente, ele já começou a xingar ela, na minha frente: "quer ver o quê, desgraça? você é vagabunda", ele gritava.

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Eu ouvia e não acreditava. Fiquei perplexa e, a princípio, só observei. Ela foi e revidou com xingamentos. E achei estranho ele aparecer, porque sabia que ela tinha terminado com ele, não sei por qual motivo, acredito que pelo ciúmes.

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Depois de xingar, Dark deu um tapa no rosto dela, e eu revidei com um tapa na cara dele, em defesa. E aí ele veio pra cima de mim, foi quando ele me deu tapas e murros no braço. 

Um ia pra cima do outro, ele me pisou, ele puxou ela pelos cabelos, engarguelou minha filha. Ele chegou a trancar ela no quarto e eu não pude evitar, só depois consegui arrombar a porta. Apanhamos muito. Eu sei que ela deve ter batido nele, porque ela tem gênio forte. Mas eu tenho certeza que, se eu não tivesse lá, ele teria matado ela.Só conseguimos tirar ele da nossa casa com a ajuda dos vizinhos. Ele estava alcoolizado, mas não bêbado. Estava consciente do que fez, sim.

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Depois que ele saiu, ela chorou muito, gritou muito, ficou em pânico. Eu fiquei muitos dias sem dormir, vim dormir ontem [quinta-feira, 6], mais de uma semana depois. Eu fico tendo flashs do que aconteceu, ele agredindo ela. E agora, estar falando sobre isso, me faz chorar, porque é muito triste. Mas eu precisava, porque as pessoas precisam saber.

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Depois de tudo, ele tentou entrar em contato com ela, pedir desculpas, disse que amava, aquelas coisas. Ela não está em casa, está em outro lugar. Saímos por uma questão de segurança.

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Hoje eu tô em paz com minha consciência, mas tenho medo que ele apareça.  Porque eu não sabia que ele já tinha sido preso. Soube de tudo só agora e para mim foi um choque. Eu acho que enquanto profissional Dark é muito bom no que faz como músico, mas eu espero que ele não se aproxime, e que pague pelo que ele fez para mim e para minha filha.