Major Denice Santiago anuncia que deixará comando da Ronda Maria da Penha

Troca no comando acontece após a publicação da exoneração de Denice Santiago no Diário Oficial

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  • Da Redação

Publicado em 9 de março de 2020 às 18:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Hortélio/CORREIO

Em meio ao salto de 32% no número de feminicídios na Bahia em 2019, 101 casos contra 76 em 2018,  a Ronda Maria da Penha, que começou há cinco anos em Salvador para combater a violência contra a mulher e foi ampliada para 15 municípios, vai entrar em operação em outras oito cidades do estado. 

Idealizadora da Ronda Maria da Penha e atual comandante, a Major Denice Santiago anunciou que vai deixar o comando da operação. A informação foi dada por ela mesma, durante evento realizado nesta segunda-feira (9), em celebração aos cinco anos da ronda na Bahia.

Durante a solenidade, realizada no auditório da União dos Municípios da Bahia (UPB), no Centro Administrativo da Bahia (CAB), Denice informou que será substituída pela Major Flávia Barreto.

"Hoje é um dia especial porque tenho que celebrar os 5 anos maravilhosos da ronda e seus avanços, mas também é meu dia de ir. Deixo o comando da ronda com esta, que é minha filha, a major Flávia. A ronda também é uma filha que hoje anda sozinha, mas precisa de apoio para continuar a crescer. Flávia, eu passo hoje para você um pedaço de mim, que me ajudou a ficar viva quando eu tive os piores momentos da minha vida. Passo mais que o brasão, eu te passo o meu projeto de vida. Eu só posso pedir que continue um caminho bem forte e consolidado para que minha filha cresça”, afirmou Major Denice.

A troca no comando acontecerá apenas após a publicação da exoneração de Denice Santiago no Diário Oficial do Estado. Major Denice está à frente da ronda desde julho de 2015.

A especulação é que Denice deixa o posto para se preparar para concorrer à prefeitura de Salvador, pelo Partido dos Trabalhadores (PT). A desincompatibilização do cargo na Polícia Militar é obrigatória por lei para quem quer se candidatar, mas Denice pode retornar caso não seja eleita. 

Questionada, a major não respondeu se será candidata. Ela se limitou a dizer que vai seguir a vida e esperar a próxima missão. “Vou cuidar de mim e tudo que compreende meu ser”, respondeu a policial.

A Ronda Maria da Penha acompanha mulheres com medidas protetivas em 16 cidades baianas. Desde a sua criação, a ronda protegeu 6.693 mulheres e evitou 271 feminicídios. A operação foi criada para o enfrentamento e prevenção à violência doméstica e familiar praticada contra as mulheres.

Cinco anos da ronda A Ronda Maria da Penha começou apenas em Salvador. Cinco anos depois, a operação de combate à violência contra a mulher possui sede na capital e núcleos em 15 municípios do interior baiano. Outras oito cidades vão receber a tropa especializada, são elas: Teixeira de Freitas, Camaçari, Bom Jesus da Lapa, Cruz das Almas, Jequié, Irecê, Catu e Entre Rios.

Para a comandante da Ronda Maria da Penha, major Denice Santiago, a interiorização da operação é uma ferramenta de gestão em Segurança Pública. “É uma ferramenta para que para a gente possa levar para esses espaços esse debate sobre a violência contra a mulher para onde a vida acontece. Temos que dialogar neste espaço”, afirmou.

Nesta segunda-feira (9) na União dos Municípios da Bahia, no CAB, uma solenidade marcou os cinco anos da ronda. Desde a sua criação, a operação atendeu 6,6 mil mulheres e realizou 27 mil fiscalizações, além de 217 prisões na Bahia. O real desejo de Denice é que a ronda não fosse mais necessária. "Enquanto isso não acontece, trabalharemos para que cada vez mais mulheres se sintam seguras e possam denunciar agressões", afirmou a comandante da tropa especializada.

O governador Rui Costa corrobora com esta afirmação e ressalta o desejo de construir uma sociedade sem agressão às mulheres. “Espero que em breve possamos ter uma sociedade sem essa violência. Isso é algo para ser construído como política pública, mas também com uma grande mobilização da sociedade. Todo mundo precisa se mobilizar a favor da paz e contra qualquer tipo violência, principalmente contra a mulher", disse.

Apesar dos dados do Atlas da Violência apontar que a Bahia registrou uma taxa de homicídio de mulheres de 6,3 a cada 100 mil pessoas do gênero feminino em 2017 - maior que a média nacional (4,7), a major acredita que não é possível pensar a violência a partir do território. “A violência contra a mulher faz parte de uma conjuntura cultural de toda a civilização e a Bahia não diverge disso. O que é o movimento de incentivo às denúncias e essas denúncias aparecem”, afirmou, sem deixar de ressaltar que os números de violência contra a mulher ainda são subnotificados pois muitas vítimas acabam não denunciando a agressão.

A Ronda Maria da Penha acompanha as mulheres protegidas por medidas judiciais, que são identificadas com a ajuda das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam). O projeto atende, atualmente, mais de seis mil mulheres, fazendo ações como visitas domiciliares e acompanhamento em audiências judiciais.

Como resultado de termo de cooperação técnica entre as secretarias estaduais de Políticas para as Mulheres (SPM) e da Segurança Pública (SSP), Defensoria Pública (DPE), Ministério Público (MPBA) e Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), a Ronda Maria da Penha ainda promove palestras de conscientização e possui uma 'Carta de Serviços', com informações úteis sobre a tropa e o trabalho que desenvolve.

* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier