Makota Valdina, seu legado é inestimável

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  • Da Redação

Publicado em 20 de março de 2019 às 13:32

- Atualizado há um ano

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Quando estava morando em Salvador, fui um abençoado em ter na minha formação pessoas como Makota Valdina, Ubiratan Castro, Carlos Moore, Luiza Bairros, Wilma Reis, Fernando Conceição, dentre outros grandes mestres que diariamente me orientavam no coletivo teatral que eu fiz parte durante 14 anos, o Bando de teatro Olodum. Uma formação cheia de esclarecimentos, descobertas e realização de sonhos.

No sentido da descoberta destaco Makota Valdina, mulher que me disse de forma coesa, numa das mesas de debate, o quanto era importante assumirmos a nossa ancestralidade partindo do princípio de que nós negros não éramos descendentes de escravos mas sim de africanos escravizados. Frase que iluminou a minha criação e a criação do Bando na montagem do espetáculo Áfricas, em que ganhei o meu primeiro prêmio como ator coadjuvante no Prêmio Braskem de teatro no ano de 2007.

Makota Valdina trazia consigo a resistência numa sociedade extremamente regida pelo resquício do processo de escravidão e deixava isso transbordar quando entrava no teatro para ver que narrativa era aquela que os negros e negras estavam se propondo a construir. Vejo na sua presença, naquela época, uma espécie de espada capaz de cortar o umbigo que ligava a nossa cultura contemporânea, mais próxima do que queremos, com a Semana de Arte Moderna que aconteceu em 1922 e que deixou clara a intenção de perpetuar a ausência do negro na cultura brasileira, distante do que queremos.

Com o olhar e ouvidos atentos de quem precisa aprender, não deixei de guardar uma palavra dita por essa mulher que veio ao mundo e cumpriu a sua missão de libertar homens e mulheres de todas as cores, mas em especial NEGROS E NEGRAS, deste país. As suas palavras afiadas faziam jus à sua vivência e servem de referência para qualquer ser humano quando se trata de respeito às diferenças em sobretudo, quando se trata de revolução e avanços da comunidade negra nesse país.

É uma perda inestimável para nósm que ainda estamos por aqui resistindo. Precisamos continuar construindo outras referenciais políticas, religiosas e econômicas com a  ida de Makota Valdina para o Orun. Uma mulher Bakulo que cumpriu sua missão deixando seu admirável legado.

Reencarne Makota.