Maragojipe: suspeita tem prisão preventiva decretada e marido dela é solto

Inquérito das mortes por envenenamento foi concluído nesta quarta (7)

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  • Fernanda Varela

Publicado em 7 de novembro de 2018 às 20:00

- Atualizado há um ano

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Elisângela (à esquerda), principal suspeita dos crimes, está presa; ao lado, Jefersson e vítimas (Foto: Reprodução) O inquérito do caso das mortes da marisqueira Adriane Ribeiro, 23 anos, e das duas filhas, Gleysse, 5, e Ruteh, 2, todas por envenenamento, foi concluído nesta quarta-feira (7). Um dos acusados, Valci Boaventura Soares, marido da principal suspeita, Elisângela Almeida de Oliveira, que estava preso desde o dia 11 de outubro, foi solto por falta de provas. O caso aconteceu em Maragojipe, no Recôncavo baiano.

"O inquérito foi concluído e remetido à Justiça. A prisão temporária de Elisângela foi convertida em preventiva. Em relação ao seu companheiro, Valci, não houve elementos de prova para indiciá-lo e ele foi solto hoje à tarde", explicou ao CORREIO o delegado Marcos Veloso, titular da Delegacia de Maragojipe e responsável pela investigação do caso. Elisângela segue presa na cidade, sem previsão de uma possível transferência.

A soltura de Valci foi acompanhada pelo pescador Jefersson Eduardo Brandão, 29, casado com Adriane e pai das meninas. Segundo a irmã dele, Paula Brandão, 35, o momento foi de muita emoção, já que, para o marido e pai das vítimas, Valci também teve participação nos crimes."Ele (Jefersson) chorou muito, desabafou. Está sendo um momento  muito difícil; ele está abatido. Só vai de casa para a igreja. Ele não conseguiu voltar a morar na casa que dividia com elas, e está com nossa mãe (Raimunda)", conta a irmã.Ainda segundo Paula, seu irmão vai concluir a reforma da casa em que morava com a mulher e as filhas, mas "só vai voltar para buscar as coisas". "Ele não quer mais morar naquele lugar", reforça ela, que ainda acredita que Valci pode ser incriminado futuramente.

"Valci foi solto hoje. Mas isso não quer dizer que, futuramente, não venha a aparecer alguma coisa contra ele, né? A prisão dela (Elisângela) já tá como preventiva. Quando a gente saiu de lá, ela ainda não sabia", completa Paula.

As mortes Em entrevista coletiva, Veloso disse ainda que a provável autora dos crimes pediu a uma sobrinha cabeleireira para que mentisse no inquérito, com o objetivo de despistar a polícia."Ela é fria, calculista. Capaz de calcular todos os seus passos. Ela traz uma conversa que parece verdadeira, mas não é. Assim ela foi conquistando a família de Jefersson. Ela começou a criar um amor doentio pelo Jefersson", explica.O delegado contou também como ocorreram as mortes. Gleysse Santos da Conceição, 5, estava com fome e pediu comida à mãe, que lhe deu um prato de frango e arroz. Quando voltou à cozinha, Elisângela se aproximou e colocou veneno no alimento. Ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu.

A segunda vítima foi a caçula Ruteh Santos da Conceição, 2. Segundo o inquérito, Elisângela preparou panquecas e serviu para Jefersson e para a menina. Uma hora e meia depois, a criança sentiu os primeiros sintomas, foi levada para a UPA de Maragojipe e também morreu.

A última a ser assassinada foi a mãe, que recebeu das mãos da amiga da família um copo com chocolate quente. Adriane se recusou e alegou dor de barriga, mas Elisângela insistiu e a vítima ingeriu o líquido. Todas as vítimas ingeriram um tipo de inseticida agrícola. Adriane e as filhas, Ruteh e Gleysse (Foto: Acervo Pessoal) Relembre o caso Adriane e suas duas filhas foram mortas entre os dias 30 de julho e 13 de agosto. As mortes chamaram a atenção, principalmente, por terem ocorrido em situações ainda não esclarecidas em três segundas-feiras seguidas. Primeiro faleceu Gleysse, no dia 30 de julho, depois Ruteh, no dia 6 de agosto, e por último, Adriane, no dia 13 de agosto.

Após pedido da Polícia Civil, e decisão favorável da Justiça, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) realizou a exumação dos corpos. De acordo com o DPT, tanto Ruteh, que foi a segunda a morrer, quanto Adriane já haviam passado por necropsia. O corpo de Gleysse, no entanto, não havia passado pelo processo – como foi a primeira a morrer, e os exames preliminares indicaram um alto teor de açúcar no sangue, a morte foi considerada como uma causa natural.

As mortes da menina mais nova e da mãe é que levantaram a suspeita do envenenamento, segundo a polícia. Os dois últimos laudos cadavéricos, no entanto, não haviam apontado a presença de substâncias tóxicas e, por isso, a Justiça decidiu autorizar, também, a exumação de Ruteh.

A assessoria do DPT informou que os peritos entenderam que deviam "aprofundar a perícia" no corpo de Ruteh, além de colher material da caçula.

No dia 11 de outubro, Elisângela e Valci, que frequentavam a mesma igreja de Adriane, foram presos por suspeita de envenená-las. Segundo a Polícia Civil, Elisângela teria usado inseticida agrícola para matar Adriane e as duas filhas. Ainda de acordo com a polícia, o casal coagiu testemunhas para que não dessem informações e destruiu provas que poderiam revelar seus envolvimentos nos crimes. 

Eles são moradores de Conceição da Feira, no Centro Norte do estado, e frequentavam a casa das vítimas.

Após a prisão, Jefersson falou sobre a relação de Elisângela com sua família e revelou que a mulher nutria paixão por ele. Veja a entrevista que ele deu ao CORREIO. Ela nega.

Relacionamento Jefersson e Adriane se conheceram na escola, namoraram e começaram um relacionamento entre idas e vindas. A mãe de Adriane não aceitava Jefersson: assumidamente ex-usuário de drogas - segundo ele, apenas maconha e sem nenhum envolvimento com tráfico. No antigo perfil de Jefersson no Facebook, numa publicação de 2015, há menção ao símbolo da facção Bonde do Maluco, conforme mostrou reportagem do CORREIO.

Os anos passaram e, em 2013, Adriane engravidou da primeira filha, Gleysse. Jefferson já estava encostado pelo INSS, após um grave acidente de moto, em 2011, provocar afundamento e traumatismo craniano. “Era o jeito da mãe aceitar”, brinca Jefersson.

Os dois tiveram a segunda filha, Ruteh, e tiveram uma vida de casados até a oficialização da união. Mas, com algumas turbulências. Sobretudo conjugais. Há um ano, quando entrou para a Igreja Universal, frequentada pela esposa desde anos antes, confessou ter traído a esposa com uma ex-namorada. Traição perdoadas por Adriane.

“Por isso, também não faz sentido que essa mulher [Elisângela] vá para um vídeo dizer que a gente estava brigado [ele e Adriane]. Nós estávamos bem. Ela tinha inveja disso, inveja de Adriane”, acredita.

Veja a cronologia do caso:Antes de 30 de julho - O cachorro da família foi a primeira vítima do veneno. Ele morreu dias antes da primeira vítima. 30 de julho - Gleysse Santos da Conceição, 5 anos, filha mais velha do casal, morre após passar mal. Na época, a família acreditou que ela tinha sido vítima de uma complicação do diabetes. 6 de agosto - Na segunda-feira seguinte, a irmã dela, Ruteh Santos da Conceição, 2, também passa mal e é levada às pressas para a UPA de Maragojipe, onde morre. 11 de agosto - Adriane desabafa nas redes sociais: “Amores?. Eu lutarei para chegar no Céu, para abraçar vocês”.  13 de agosto - Também numa segunda-feira, Adriane passa mal num culto e é levada ao hospital, onde morre. 17 de agosto - O delegado Marcos Veloso pede a exumação do corpo de Gleysse. Primeira a morrer, ela acabou enterrada por “morte natural”. 5 de setembro Justiça autoriza e o Departamento de Polícia Técnica exuma os corpos de Gleysse e Ruteh. 14 de setembro - O juiz Lucas de Andrade Cerqueira Monteiro autoriza busca e apreensão na residência do casal Elisângela e Valci, colegas da igreja das vítimas. 15 de setembro - Parentes de Adriane e das filhas são ouvidos pela polícia, assim como o casal Elisângela e Valci.  20 de setembro - Sete pessoas são ouvidas pelo delegado Marcos Veloso, numa acareação. 21 de setembro - Mandado de busca e apreensão é cumprido na residência do casal Elisângela e Valci.  28 de setembro - A decisão que autoriza o cumprimento do mandado de busca é publicada no Diário Oficial de Justiça. 11 de outubro - Elisângela e Valci são presos suspeitos de usar inseticida para matar Adriane e as duas crianças. 16 de outubro - Polícia divulga o resultado da acareação. Segundo os investigadores, Elisângela tinha interesse no marido da vítima e matou mãe e filhas na esperança de ficar com o viúvo. Valci teria ajudado a acobertar o crime e atrapalhava as investigações. 19 de outubro - O marido e pai das vítimas, Jefferson Brandão, é ouvido novamente pelo delegado Marcos Veloso, junto com a irmã Josina e o cunhado Gilson, depois de Elisângela dizer que ele batia na esposa. 7 de novembro - A prisão temporária de Elisângela é convertida em preventiva. Valci foi solto por falta de provas.