Marcio Luis Ferreira Nascimento: Supernova Axé

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  • Marcio L. F. Nascimento

Publicado em 9 de março de 2017 às 09:24

- Atualizado há um ano

Uma explosão avassaladora de sons – uma batida característica, uma mistura de percussão e guitarras, uma sonoridade ímpar, diferente e contagiante, marcou o Carnaval em 1987. O ritmo e o timbre do samba-reggae, absolutamente únicos, e os ensurdecedores tambores do Olodum causavam fascínio e admiração, com uma música incrivelmente dançante. Esta foi uma das criações do genial músico, percussionista e maestro brasileiro Antonio Luís Alves de Souza (1955-2009), o Neguinho do Samba.Este novo estilo musical recebeu erroneamente o nome de Axé Music no mesmo ano, termo debochado que o grande jornalista e crítico musical brasileiro Hagamenon Brito deu à nova onda musical que conquistava o Brasil. Tudo bem – no Carnaval nem tudo é levado a sério, muito menos uma ironia. Significando energia, axé é muito mais que uma saudação: é a força mágica que sustenta os terreiros de candomblé. De toda sorte, o termo vingou, transformando-se num grande sucesso.A batida que pulsava corações daquele carnaval havia estourado primeiro boca-a-boca, e depois nas rádios. Chamava-se “Faraó (Divindade do Egito)”, um marco da MPB de enorme êxito, imortalizada na bela voz de Margareth Menezes bem como pela cadência contagiante da – para muitos, inesquecível – Banda Mel (www.bamdamel.com.br, fundada em 1984). Tal história foi contada, entre outras tantas, no belíssimo documentário do publicitário e cineasta Francisco Kertész – “Axé: Canto do Povo de um Lugar” (2017).É certo que nem toda música de Carnaval baiano é axé, e sua história remonta aos inesquecíveis Adolfo Antônio Nascimento (1920-1978) e Osmar Álvares Macedo (1920-1997), que em 1950 tocavam frevo em inovadoras guitarras elétricas criadas por eles mesmos em cima de um Ford modelo A, 1929. Nascia então o trio elétrico, maior atração do carnaval baiano, que o incomparável músico, escritor e poeta Caetano Emanuel Viana Teles Veloso celebrou em “Atrás do Trio Elétrico” (1969), o primeiro hino especialmente composto para este que é considerado o maior fenômeno de massa brasileiro.Outra explosão, esta estelar, ocorreu naquela semana de pré-carnaval, terça, 24 de fevereiro. Coincidentemente, ao mesmo tempo em que rufavam os tambores deste especial estilo percussivo, introduzindo os primeiros versos da canção: “Deuses, Divindade Infinita do Universo...”, ocorreu um raríssimo, espetacular e colossal evento astronômico denominado Supernova. Antes, havia uma estrela supergigante azul, extremamente quente e luminosa, denominada Sanduleak -69° 202, situada a aproximadamente 168 mil anos-luz da Terra – na borda da Grande Nuvem de Magalhães, na Nebulosa da Tarântula, facilmente vista a olho nu.

Após seu dramático e catastrófico colapso, passou a ser conhecida como 1987A. Toda supernova consiste numa titânica explosão – literalmente, a morte de uma estrela. Este evento, descoberto pelos astrônomos Ian Keith Shelton , e Oscar Duhalde no Observatório astronômico Las Campanas (www.lco.cl), foi a mais brilhante explosão estelar registrada desde a invenção do telescópio.Existe hoje uma melhor compreensão da formação do universo graças aos registros de fenômenos como a Supernova 1987A. Por exemplo, mais recentemente foi possível verificar que tais explosões podem afetar o tecido do espaço-tempo, criando poderosíssimas ondas gravitacionais, ecoando em todas as direções do universo, liberando estrondosas quantidades de energia. Energia que – é sempre bom lembrar – em iorubá significa axé! Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA