Marinha e Petrobras acham 'assinatura' da Venezuela em manchas de petróleo

Bolsonaro disse que há a possibilidade de que o derramamento de óleo em praias do Nordeste tenha sido criminoso

Publicado em 9 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta terça-feira (8), que há a possibilidade de que o derramamento de óleo em praias do Nordeste tenha sido criminoso. Ele, no entanto, ponderou que as investigações ainda estão em curso e evitou comentar sobre o envolvimento de outros países."Não quero gerar um problema com outros países. (...) É um volume que não está sendo constante. Se fosse um navio que tivesse afundado, estaria saindo ainda óleo. Parece que criminosamente algo foi despejado lá", disse Bolsonaro nesta manhã ao deixar o Palácio da Alvorada em direção ao Palácio do Planalto.O presidente afirmou que não há prazo para o fim das investigações e apontou dificuldades para se chegar a conclusões "A densidade é um piche, um pouco maior que a densidade da água salgada. Então, não fica na superfície. Ele fica submerso. Esse é outro problema que estamos enfrentando lá", disse.

Uma investigação feita pela Petrobrás e pela Marinha identificaram a mesma “assinatura” do óleo da Venezuela no petróleo que apareceu nas praias do litoral nordestino. Em um relatório sigiloso endereçado ao Ibama, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, a Petrobrás apresentou uma análise comparativa com o petróleo venezuelano, que tem características diferentes ao brasileiro. 

De acordo com uma fonte da alta cúpula do governo que foi ouvida pelo Estadão, não é possível dizer que todo o vazamento que atinge as praias do Nordeste tem a mesma origem, mas análises já realizadas em algumas manchas concluíram, com 100% de certeza, que se trata de material de origem venezuelana. Essa análise reforça a suspeita de que o óleo, que já chegou a mais de 130 pontos no litoral de nove estados do país, tenha vazado de algum navio. 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acompanhou Bolsonaro na saída do Alvorada. Salles afirmou que o fluxo de óleo está em um movimento constante de ser levado para a costa e depois para o mar, o que dificulta o recolhimento do material. "Nosso papel é agir rápido como tem sido feito para retirar o que está em solo, mas também aprofundar a investigação para descobrir a origem", disse Salles.

Na segunda-feira (7), o ministro havia afirmado que mais de 100 toneladas de borra de petróleo já tinham sido recolhidas nas praias do Nordeste - a maior parte (cerca de 58 toneladas) no Estado de Sergipe. Manchas de óleo, ainda de origem desconhecida, já foram identificadas em pelo menos 133 pontos do litoral desde o começo de setembro, em 68 cidades dos nove Estados do Nordeste.

O presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco informou, na terça, que o volume recolhido equivale a mais de 500 barris de petróleo. "Isso indica que não é simplesmente a lavagem de um tanque de um navio. Alguma coisa extraordinária aconteceu, não sabemos o que é nem cabe à Petrobras, mas a outros órgãos, como Polícia Federal, Marinha, que têm essas atribuições", disse. Ele não quis comentar o teor de um parecer enviado pela Petrobras ao Ibama, que indica compatibilidade entre o óleo que vazou no litoral brasileiro com o produto produzido por países africanos e pela Venezuela. "Esse relatório é reservado, confidencial, da Petrobras para o Ibama. Não tenho autorização para divulgar, é uma comunicação a uma instituição de Estado, então, cabe ao Ibama e a outras autoridades divulgar informações", disse.

Sobre as razões do vazamento, Castello Branco disse haver várias possibilidades. "Como leigo, pode ter sido naufrágio de um petroleiro, transbordo de petróleo de um navio para outro que tenha falhado, mas eu sinceramente não consigo imaginar", afirmou. "Hipoteticamente, poderia ser um naufrágio de navio, que não vai transbordar petróleo imediatamente, e existe possibilidade de esse material ser liberado gradualmente”.