'Mataram sem direito a defesa', diz moradora da Gamboa sobre ação da PM

Três pessoas foram mortas. PM diz que houve troca de tiros, mas comunidade contesta

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  • Da Redação

Publicado em 1 de março de 2022 às 09:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Moradores da Gamboa afirmam que equipes da Polícia Militar chegaram atirando e executaram três jovens da comunidade na madrugada desta terça-feira (1º). Em nota, a PM diz que os policiais foram averiguar uma denúncia e ao chegar foram recebidos a tiro. 

Uma moradora afirmou que um dos rapazes foi morto na frente da tia, que pedia para que ele tivesse a vida poupada. "Já chegaram pegando os meninos que estavam e divertindo por causa do carnaval. Pegaram eles, levaram para casa ali, botaram de joelho", contou ela. "Ele covardemente atirou no sobrinho na frente da tia. Os meninos trabalhadores. Um trabalha no banco, o outro vende roupa. Eles mataram sem direito a defesa. Mataram primeiro para depois perguntar", continuou.

Segundo ela, os policiais chegaram ao local por volta de 1h. "Agiram com covardia com morador, usando bomba, spray de pimenta, xingando de 'puta', 'vagabunda'", acrescentou. Ela questiona o papel da polícia. "É essa polícia que a gente quer pra gente aqui em Salvador? A polícia foi feita pra nos proteger, não pra nos matar. Eles mataram os meninos sem direito a defesa. São três mães que estão chorando hoje. Aqui tem gente trabalhador, morador de bem". afirmou. "Tá todo mundo revoltado. A Gamboa está triste, a Gamboa está de luto. Queremos justiça", finalizou.

ProtestoPor conta da situação, moradores fizeram protesto nesta manhã, fechando a Avenida Contorno tanto na subida para o Campo Grande, quanto na descida de acesso ao Comércio.  A PM diz que os policiais foram "hostlizados" na região e o policiamento foi reforçado.

Na madrugada, foram baleados e morreram Alexandre dos Santos, 20 anos, Patrick Sousa Sapucaia, 16, e um terceiro rapaz identificado somente como Cauã. Os moradores contam que os três estavam em um bar e foram levados pelos PMs para uma casa, onde foram baleados. O local teria sido lavado pelos policiais em seguida. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi acionado para fazer a perícia nessa casa. 

Tia de consideração de Alexandre, a camareira Saionara Bonfim, 31, disse que falou com o rapaz instante antes dos tiros. "Eu chegava em casa do trabalho quando encontrei com Alexandre na entrada da comunidade. Ele estava com uma caixa de som na mão e até brincou comigo. 'Isso é hora de chegar?'. Foi o tempo que cheguei em casa, tomei um banho e um café e logo escutei os tiros. No dia seguinte, soube que os três foram retirados do bar da comunidade e levados para uma casa abandonada, onde foram mortos com tiros na cabeça. Eles próprios lavaram o local com água corrente", contou Saionara. Tia diz que falou com Alexandre pouco antes do jovem ser morto (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Em nota, a PM diz que equipes da Rondesp foram até o local após denúncias de que homens armados estavam transitando na Avenida Lafayete Coutinho, entre a Avenida Contorno e a Gamboa, na madrugada de hoje. Lá, diz a PM, as equipes foram recebidas a tiros por um grupo. Houve revide e depois a PM encontrou três feridos, que foram socorridos para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde morreram. Outros suspeitos conseguiram fugir.

A polícia diz que com o trio apreendeu um revólver calibre 38; duas pistolas, sendo uma de calibre .40 e outra de calibre 380; 177 papelotes de maconha; 233 pinos e dez embalagens de cocaína; 130 pedras de crack; três aparelhos celulares; uma balança eletrônica, R$ 172,00 em espécie e um relógio de pulso. A ocorrência foi registrada na Corregedoria da PM.

O coronel Paulo Coutinho, comandante da PM-BA, também comentou o fato. "Nossas equipes foram atender uma demanda de homens armados naquela localidade. Ao chegar no local, houve por parte dos que estavam armados, resistência", afirmou ele à TV Bahia. "Não queremos em hipótese alguma óbitos, infelizmente aconteceu algo dessa natureza", disse. Ele ainda prometeu uma apuração do caso. “Nosso PM está para defesa do cidadão e só ele sabe o que encontrou nessa operação. Todos os fatos serão esclarecidos e nós passaremos para a sociedade baiana tudo o que aconteceu”.