MAV: Entenda o que é a doença neurológica

A adolescente Nielly Carneiro dá exemplo de superação após tratamento cirúrgico

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  • Do Estúdio

Publicado em 4 de dezembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: divulgação

Nem sempre uma dor de cabeça é tão inofensiva. Nielly Carneiro sabe bem disso. Aos 15 anos, estava na escola, em Senhor do Bonfim, interior da Bahia, quando teve uma crise de enxaqueca muito forte e sentiu parte do corpo dormente. Foi para casa e pediu à avó a costumeira combinação de analgésico e nozmoscada, que a acompanhava todos os meses no período mestrual. Mas daquela fez não surtiu muito efeito.

Pediu, então, para ser levada ao médico e, após uma bateria de exames, foi diagnosticada com Malformações Arteriovenosas (MAV). Mas o que queria dizer aquilo? “A princípio não foi uma coisa assustadora, porque era algo complementamente desconhecido. A única coisa que eu sabia era a partir de uma pesquisa na internet. Eu tinha 15 anos e não entendia muito o que estava acontecendo”, relembra.A MAV ocorre durante a formação embrionária. “É quando a pessoa não forma direito a conexão de uma artéria com um vaso, uma veia. Nesta união, ao invés de se formar capilares, que são vasos menores, ficam como bolos malformados, como se fosse um novelo de uma linha”, explica Conceição Neves Ferraz, neurologista do Hapvida.Por ser uma doença rara, com menos de 150 mil casos ao ano no Brasil, é encontrada incidentalmente em exames de imagem de rotina ou quando a pessoa tem sintomas clínicos bem específicos, geralmente na fase adulta. “Se o paciente não procurar o médico por conta de uma dor de cabeça muito forte, dormência, fraqueza ou crise convulsiva, ela fica assintomática a vida inteira”, ressalta a especialista.

O diagóstico se faz através de uma bateria de exames específicos, como angiografia digital cerebral por subtração. Muitos casos são pequenas malformações, tratadas com embolização e radioterapia, cauterizando o vaso. Os agudos podem ou não ser tratados com cirurgia. “Hoje em dia os casos cirúrgicos são pouco indicados, porque tem que ponderar o dano que a malformação está fazendo versus o dano que a cirurgia pode fazer ao tentar retirar”, alerta a médica.Alertas para doença neurológicas

- Dor de cabeça crônica, que não é habitual

- Epilepsia

- Dormência no corpo

- Fraqueza em membrosSuperação

Casos mais complexos, como o de Nielly, são excessão à regra. Em um grau mais avançado, recomenda-se a cirurgia. Foi o que aconteceu com ela, há três anos, quando precisou ser transferida às pressas de um hospital em Senhor do Bonfim, interior da Bahia, para o Hospital Teresa de Lisieux, em Salvador.

Apenas neste momento, a adolescente passou a entender que a doença ia muito além de perder os cabelos. “Eu fiquei sabendo do risco de morte, que era de 30%, depois que o médico explicou que eu iria operar. Eu vi minha mãe chorando e nunca tinha visto. Foi aí que fiquei preocupada”, conta a garota.

Apesar de muito bem-sucedida, a cirurgia trouxe algumas sequelas imediatas para Nielly, como dificuldade de falar e de mexer os membros. “Isso acontecece quando a MAV está em uma área eloquente, importante. Quando mexe nesta área, você pode alterar a fala ou o movimento de uma perna, por exemplo. A reabilitação vai depender de onde está a malformação. Casos mais delicados ficam nas regiões motoras, sensitivas ou muito próximas ao córtex”, explica a neurologista do Hapvida.

Mesmo com tamanha dificuldade, a recuperação de Nielly foi muito rápida. Ainda na UTI, na mesma semana que operou, já começou a falar. Uma conquista impressionante, sem dúvida, de uma menina que já aprendia ali o real significado de superação. Aos poucos foi recuperando totalmente a fala e os movimentos, com a ajuda de fonoaudiólogo e fisioterapeuta. De remédio, toma ainda hoje apenas anticonvulsivos.“Há um ano e pouco, eu ainda me sentia um pouco triste em falar, mas passei por tudo isso. Eu não gostava que ninguém falasse, mas hoje não me importo e acho até legal. Eu acho muito legal ter que dividir isso com alguém e dar exemplo de força para viver”, relata Nielly. Hoje, aos 19 anos,  ela voltou à rotina normal. Ingressou num curso de técnica de enfermagem e já trabalha na área.Após a MAV, a relação com a família ficou ainda melhor. “Eu passei a ter um vínculo maior de proximidade com minha mãe. Esse tempo que eu fiquei no hospital, a gente criou ainda mais o laço. Sempre fui muito família, mas agora estou ainda mais. Procuro sempre estar perto e ser também mais paciente com as coisas e as pessoas. Depois de uma situação dessa, é dificil não repensar em tudo. Foi o que eu aprendi. Ter amor à vida”, conta, emocionada, Nielly.

Exames que diagnosticam MAV

- Tomografia computadorizada (TC) cranioencefálica

- Ressonância nuclear magnética (RNM) cranioencefálica

- Angiografia ou arteriografia digital cerebral por subtração

- Angiotomografia cranioencefálica

- Angiografia cranioencefálica por ressonância magnética (RM)

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