Medalhas e recordes: conheça Samuel, promessa da natação baiana

Jovem nadador é recordista e foi eleito melhor atleta infantil do país nos últimos dois anos

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 13 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
Samuel foi eleito melhor nadador infantil no Brasil nos últimos dois anos por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

"Vai perder, vai ganhar, vai perder, vai ganhar, perdeu!.... ganhou! Michael Phelps na batida de mão!", assim o narrador Galvão Bueno descreveu a sétima medalha de ouro conquistada pelo norte-americano Michael Phelps na Olimpíada de Pequim-2008. Ao vencer o sérvio Milorad Čavić na batida de mão, ele se igualou ao conterrâneo Mark Spitz como o maior vencedor em uma mesma edição de Jogos Olímpicos, marca que ainda ultrapassou ao vencer o revezamento 4x100 medley com a equipe de seu país. 

Quando tudo isso aconteceu, Samuel Lopes tinha apenas dois anos de vida. Hoje o soteropolitano tem 13 primaveras completas e sonha em seguir os passos de Phelps. E as primeiras braçadas de sua caminhada têm marcas de sucesso: desde que se registrou na Federação Baiana de Desportos Aquáticos (FBDA), em 2017, ele bateu seis recordes e conquistou o Campeonato Baiano e o Norte-Nordeste em 2017 e 2018. Nos dois anos, foi eleito o melhor atleta de sua categoria, a infantil, para atletas a partir de 13 anos. 

Em maio, ele se tornou campeão brasileiro em quatro provas - 100m livre, 100m e 200m costas e 100m borboleta -na edição disputada em Belo Horizonte. Nem mesmo o próprio Samuel esperava se dar tão bem com a natação quando começou a praticar o esporte há cinco anos.

Mãe de Samuel, Jiciara Lopes, 47, conta que a família colocou o garoto na natação para tentar melhorar um problema com a timidez. Quem vê Samuel nota de longe a personalidade introspectiva do aspirante a nadador profissional. Enquanto conversava com a reportagem do CORREIO na piscina olímpica do Bonocô, o garoto com seu 1,87m desviava olhares e falava baixinho, com uma timidez latente. O tom de voz só mudou quando provocado sobre se ele quer mesmo seguir carreira no esporte.“Eu quero ganhar as Olimpíadas e ser campeão mundial. Eu adoro nadar, faço isso com muito amor”, falou com firmeza.Só o sentimento explica tanta força de vontade. A rotina é dura para o garoto, que é ainda um adolescente. Treinando no clube da Aceb sob os cuidados do técnico Luís Rogério Arapiraca, Samuel nada de segunda a sábado. Em dias que tem treino dobrado, vai para o clube praticar das 5h às 6h, depois corre para a aula em um colégio particular de Salvador e retorna para uma nova sessão de treinamentos no turno da tarde.

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O pai, Rogério Lopes, é quem acompanha o prodígio nas viagens, treinos e competições. Ele afirma que Samuel é um garoto muito disciplinado e que, mesmo com o dia a dia apertado, não deixa a desejar nos estudos. Muito pelo contrário: no último exame geral que fez no colégio, uma espécie de simulado preparatório para o Enem, a menor nota que obteve foi 80%. Rendimento que enche os familiares de orgulho.

Irmã mais velha de Samuel, Rebeca revela que o garoto é muito competitivo. “Ele odeia perder”, contou antes de concluir que por conta disso ele não mede esforços para abrir mão de coisas que são naturais na adolescência em troca de melhorar a performance e conquistar medalhas. Isso acaba recaindo, também, na dedicação aos estudos, afinal de contas o acordo dentro de casa é claro: sem boas notas, não tem natação.

Foco em melhorias Só no último ano foram 24 recordes quebrados por Samuel, sendo seis deles brasileiros. Para Luís Arapiraca, que é ex-nadador, é preciso manter os pés no chão e focar em melhoria de performance - o que, consequentemente dará mais troféus, medalhas e visibilidade para o jovem atleta.

O treinador diz que neste segundo semestre vai aumentar as sessões de treino na água de oito para nove semanais, complementadas por outras três sessões de aprimoramento da forma física. Os objetivos de curto prazo para Samuel são o Norte-Nordeste em setembro, aqui na Bahia, e o Brasileiro em Porto Alegre no final do ano. “Eu insisto muito nisso: o atleta tem que evoluir independente da medalha. Estamos treinando e pensando na evolução dele enquanto atleta. Ele é um menino muito bom de trabalhar, escuta as orientações, segue a estratégia e nunca tem problema com corpo mole”, conta Arapiraca.Samuel também se cobra bastante. Ele conta que ainda precisa trabalhar muito a forma física para conseguir manter o ritmo intenso dentro da piscina por um maior intervalo de tempo. No último Brasileiro, por exemplo, ele nadou seis provas e assume que o rendimento caiu à medida que foi cansando.

Além de elevar o desempenho técnico e físico, Samuel ainda busca mudar um pouquinho sua introspecção. Foi para diminuir um pouco a timidez que a família teve a ideia de colocá-lo para praticar a natação. Era sabida a necessidade de conversar com colegas, treinadores, além de ficar exposto ao público durante as competições. Participar de torneios, inclusive, não era das atividades preferidas de Samuel quando iniciou na modalidade.

“Ele foi tomando gosto aos poucos. No começo tinha vergonha e não gostava muito. Mas aí os resultados começaram a aparecer, ele foi se apaixonando e agora está bem melhor”, lembrou Rebeca, enquanto observava o irmão desfilando suas braçadas na piscina. Samuel não parece temer os desafios, muito pelo contrário. Seja na piscina ou consigo mesmo, o garoto se mostra disposto para fazer o que for preciso em busca do sonho de ser nadador profissional. A rotina não assusta.  

*Com supervisão do editor Herbem Gramacho