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Da Redação
Publicado em 1 de maio de 2020 às 22:45
- Atualizado há 2 anos
"Não há quem goste de ser número, gente merece existir em prosa". Essa é a poesia manifesto que funda o Memorial Inumeráveis, projeto digital colaborativo inaugurado há duas semanas com o objetivo de não deixar que nenhuma vida perdida com a pandemia do coronavírus no Brasil se torne apenas números. "Queríamos ir de encontro a essa lógica que se abate em qualquer grande tragédia humanitária. Estatísticas são necessárias, mas palavras também", defende Rogério Oliveira, empreendedor e idealizador do projeto. (Foto: Reprodução) O nome e o slogan, no entanto, foram dados pelo artista Edson Pavoni, que também está à frente da iniciativa. "Todos os dias a gente acorda com um novo número. Esses números vão perdendo significado, até que vamos nos tornando insensíveis a eles. Escrevi muitas poesias com base nisso, e cheguei nessa ideia de que as histórias penentram em nosso coração num lugar onde os números não conseguem penetrar. A negação do número que deu a ideia do nome Inumeráveis", explica.>
Junto a outros sete amigos jornalistas, escritores, desenvolvedores e empreendedores sociais eles publicaram as primeiras histórias no site https://inumeraveis.com.br/ na quinta-feira (30). Até agora, 129 vítimas tiveram suas vidas contadas em textos afetivos por lá.>
O projeto funciona de forma colaborativa e sem patrocínio de marcas. "Não queremos que a presença de alguma marca iniba possíveis colaboradores de participar do projeto. Com isso, contamos com uma divulgação mais fluida por parte de influenciadores que estão amarrados a contratos e muitas vezes não podem se comprometer divulgando um projeto patrocinado", explica Rogério Oliveira. Devido ao fato de não envolver grandes custos, o projeto também não pede contribuição financeira.>
Jornalistas ou pessoas que gostam de escrever podem ajudar a equipe a encontrar, escrever e editar histórias. Basta mandar um "oi" para o e-mail [email protected]. "Nossa ideia é uma grande colaboração. a gente quer contar todas as histórias, dando os créditos. O jornalista pode ceder o material já publicado em algum veículo e apurado por ele, porque a gente não está procurando histórias inéditas. Nosso desejo é contar todas as histórias", explica a jornalista Alana Rizzo, uma das colaboradoras do Memorial Inumeráveis.>
Amigos, familiares ou conhecidos das vítimas também podem registrar as boas lembranças da pessoa de forma autônoma ou, se preferirem, podem responder a algumas perguntas do formulário, disponível no site, para que uma rede voluntária de jornalistas e escritores prepare e publique a história. >
"Se nem todas as vítimas tiveram a chance de ter um velório ou de se despedir de seus entes queridos, queremos que tenham ao menos a chance de terem a sua história contada. De ganharem identidade e alma para seguir vivendo para sempre na nossa memória", diz a página do projeto.>
Na página principal do site, todas as vítimas são listadas por ordem alfabética com nome completo, idade e uma breve descrição. Por decisão editorial, nenhum texto é acompanhado de foto.>
Agatha Lima, de 25 anos, quarta da lista até então, é apresentada como "uma boa amiga que amava gatos". Sua história foi uma das que mais tocou a jornalista Alana Rizzo. "Outra história que me comoveu bastante foi a do casal Edgard e Eunice,. Eles estavam juntos há mais de 40 anos e morreram num curto espaço de tempo por conta do coronavírus. Tudo muito rápido. E a gente fica pensando em quem fica, nos filhos que perdem pai e mãe de vez, nos netos que perdem avô e avó", comenta Rizzo.>
Apesar de nascer no meio digital, o Memorial Inumeráveis deve ganhar contornos físicos e se transformar em uma instalação permanente em 2021. "A ideia do memorial num espaço físico é a de ter um marco em uma grande cidade onde as pessoass possam ir para visitar, para lembrar. Como o coronavírus ataca nossa capacidade de respirar, estamos pensando exatamente no oposto.O memorial trará todos os nomes em um espaço aberto, arborizado, onde as pessoas vão poder ir para celebrar a vida daqueles que se foram na pandemia", finaliza Edson Pavoni.>