Mercado financeiro: drones, leitores de emoções e robôs videntes vão orientar investidores

Plataformas devem ser cada vez mais simples e amigáveis, e mercado está muito mais Black Mirror que nunca

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  • Priscila Natividade

Publicado em 8 de julho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Priscila Natividade/ CORREIO

Um drone do tipo militar que sobrevoa uma plataforma de petróleo e monitora seu escoamento bem antes de sair o anúncio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).  Ou um sistema de reconhecimento de voz que compara a entonação da voz do presidente americano Donald Trump para que o gestor do fundo consiga identificar o impacto daquilo que será dito por ele no mercado financeiro antes mesmo dele dizer alguma coisa. Parece Black Mirror, mas na verdade estas são só algumas tecnologias que já estão presentes no mercado de investimentos. 

Há quem pense que estas estratégias são absurdas. Mas até mesmo no Brasil, um futuro como esse não está assim tão distante. Gestoras de fundos de investimento como a Giant Steps Capital começaram a desenvolver um algoritmo que consegue em menos de um segundo ler, interpretar, pensar e agir diante dos comunicados divulgados pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) – coisa que um analista de investimentos humano leva, no mínimo, cinco minutos para executar. 

“A mudança vem acontecendo, e tudo de uma forma muito rápida. No mercado quem tem o melhor acesso à informação ganha mais dinheiro e hoje tudo muda muito na velocidade de um twit. Isso permite que a gente consiga reagir ao mercado um pouco antes do que um profissional humano”, explica o responsável pelo relacionamento com investidor da Giant, Pedro Simonetti. 

E essa tecnologia rápida vai chegar de forma cada vez mais simplificada para o investidor. Isto porque a popularização dos produtos do mercado de investimentos nos últimos anos e também os efeitos da aprovação da reforma da previdência devem aumentar a demanda por uma aposentadoria complementar e desmistificar cada vez mais a ideia de que investir é coisa de rico, ou, ainda, que a única forma de fazer uma reserva financeira é manter o dinheiro na poupança. 

Segundo o sócio e chefe de tecnologia do Grupo XP Investimentos, Thiago Maffra, a tendência é, cada vez mais, simplificar a forma de investir. “É o que a gente costuma chamar de experiência Netflix: um canal que o investidor possa fazer isso 9investir) sozinho, mas sem, no entanto, deixar de estar integrado a outros canais”, afirma. A mesma agilidade em investir está também em pensar novos produtos, como acrescenta Maffra e por isso o Grupo promoveu durante os dias 4 a 6 de Julho, em São Paulo, a 8ª edição da Expert XP, evento que traz o que há de mais atual no mercado de investimentos. 

“Desde que começamos a transformação digital da XP em 2017,  criamos um modelo para dar mais agilidade a esta jornada do cliente. Comparando com o modelo antigo, se antes se gastavam meses, anos para ofertar aquela entrega, hoje é desenvolvido em menos tempo. As transformações além de serem rápidas passaram a ser também curtas”, afirma Maffra. 

Na XP, o uso de tecnologia móvel (mobile) é o principal canal de investimento utilizado pelos usuários. “Somos hoje o maior player destas plataformas digitais. E nesse sentido, o cliente é colocado no centro das decisões e não em um produto, como acontece em um banco comum, por exemplo. Para isso, ele baixa o aplicativo e abre uma conta sem qualquer custo em minutos. Quanto mais a gente simplifica o processo de investir, mais e melhor este cliente investe”, pontua. 

Menos conservador

Mas para onde vai esse dinheiro? Se por um lado, investir vai ficar cada vez mais simples, por outro, quem quiser de fato garantir uma boa rentabilidade vai ter que perder o medo da renda variável. Para a sócia e diretora financeira da Acqua Grupo, Paula Godinho, a tendência está na diversificação da carteira, sobretudo no mercado de ações. Isto porque com a queda da taxa de juros, que deve se estender nos próximos anos, para ganhar rentabilidade o investidor vai ter que arriscar. 

“Atualmente, com R$ 15 você já consegue entrar no mercado de ações e com isso diversificar sua carteira. O cenário é muito favorável para que as pessoas se lancem neste tipo de aplicação. Isso a gente não está falando de novos produtos, mas da perspectiva de sair da zona de conforto da renda fixa”, analisa. 

Assim como o mercado de ações, os fundos de investimento também fazem parte dessa linha mais disruptiva e menos conservadora, como defende Paula. “Por traz de tudo isso está a educação financeira. Ampliar esse conhecimento com um pouquinho a mais de risco”.

BAIANOS TÊM R$ 35 BI NA VELHA E TRADICIONAL POUPANÇA

Na mesma proporção da popularização dos produtos do mercado de investimentos e do acesso cada vez mais crescente a aplicações fora da poupança, o ‘boom’ das assessorias de investimento também atinge Salvador. E o motivo está justamente em quanto o baiano tem alocado na poupança. Segundo um levantamento feito pelo Acqua Grupo Investimentos, Salvador e mais a Região Metropolitana somam juntos, atualmente, R$ 35 bilhões na poupança. Associada à XP, o Acqua Grupo é uma das assessorias de investimento que participaram do Expert XP. Na Bahia, são 16 escritórios (Foto: Priscila Natividade/ CORREIO) “A gente olha o número de poupanças e isso estimula a gente a buscar esta migração para outros investimentos. É um mercado bem promissor”, afirma a sócia e diretora financeira da Acqua, Paula Godinho.  Em menos de um ano, o grupo especializado em assessoria de investimento abriu 13 escritórios em Salvador, 16 na Bahia. Em todo país, são 700 – crescimento em 2 anos que chega a 150% com R$ 3,6 bilhões aplicados. Por mês, a captação média só no estado chega a R$ 10 milhões.

“Salvador foi o primeiro lugar que nós escolhemos para essa fase de expansão no Nordeste. A Bahia ainda tem um número baixo de escritórios, um mercado pouco atendido. Percebemos também uma desmistificação muito grande da ideia de investimento por parte do baiano, quando antes se achava que mercado financeiro era coisa só da capital paulista”, completa Paula.

E o perfil deste investidor baiano ainda é muito conservador. Entre os produtos mais procurados na Acqua, mais da metade diz respeito a título do Tesouro Direto e a produtos de Renda Fixa (60%). Em seguida, vem os fundos, com 30%. Pelo menos 10% são de investimentos alternativos. De acordo com o responsável do escritório da Acqua no estado, Pedro Rabelo, a linha de uma carteira mais conservadora é uma herança que o investidor acaba trazendo dos bancos. 

“A gente recebe muitos investidores que buscam as primeiras informações. O investimento em uma carteira mais agressiva é muito tímido. Leva um tempo para que o baiano aceite o risco e essa linha mais disruptiva. Por traz de tudo isso, o pano de fundo é a educação financeira, junto a um cenário favorável para as pessoas se lançarem mais no mercado”, analisa. 

A ideia não é mudar o perfil, mas diversificar esta carteira: “a taxa de juros está muito baixa e deve manter isso por muito tempo. Para ter 1% de rendimento ao mês é preciso ter risco e criar uma carteira dentro desta perspectiva”. 

Crescimento rápido 

Para o líder de relacionamento da rede de assessores da XP, Rogério Carvalho, um outro movimento ajudou muito a aumentar a participação da Bahia no mercado de investimentos: a transição dos gerentes que antes eram vinculados a um banco para o trabalho nos escritórios de assessoria. 

“Mais da metade do crescimento da XP em Salvador  se deve a esta migração. São profissionais que deixaram as metas que tinham que bater nos bancos para uma carreira muito mais empreendedora, onde ele se torna sócio do escritório. E outro detalhe que vale ressaltar: eles trouxeram os clientes de alta renda que atendiam nas agências para esses escritórios”. 

Ainda segundo Carvalho, Salvador é a praça que mais cresceu no Nordeste. De um ano para o outro, a presença da empresa aumentou 200%. “Os escritórios que mais se destacam quase triplicaram sua captação. Saíram de R$ 300 milhões para R$ 1 bilhão”, afirma. 

A expectativa é a de replicar essa experiencia em outros estados do Nordeste, como acrescenta o diretor. “Salvador respondeu muito rápido a este estímulo e agora o desafio é replicar isso em Recife (PE), Fortaleza (CE), João Pessoa (PB) e Natal (RN)”. 

DICA DA SEMANA: O QUE SABER ANTES DE ABANDONAR A POUPANÇA

Renda fixa:  É o tipo de investimento que o investidor sabe antecipadamente a remuneração ou retorno que terá. É o que acontece, por exemplo, com a compra de títulos públicos. 

Renda Variável: São investimentos cuja remuneração ou retorno de capital não pode ser dimensionada no momento da aplicação nem em uma data futura, como no caso das ações, por exemplo. 

Juros compostos: É a aplicação de juros sobre juros e eles vão aumentando conforme o tempo passa. Ou seja, para ter uma boa rentabilidade é preciso pensar no retorno deste investimento a longo prazo. 

Selic: É a taxa básica de juros, que está atualmente em 6,5%.  

CDI: O Certificado de Depósito Interbancário é a taxa que lastreia as operações interbancárias (entre bancos). A taxa cobrada entre eles regula o mercado de renda fixa (CDB, LCI, LCA) e os fundos de investimentos. 

*A repórter viajou para a Expert XP a convite do Acqua Grupo