Assine

Mesmo em dificuldade, blocos afros vão ao Campo Grande


 

Muzenza, Malê Debalê e Bankoma foram algumas das instituições que desfilaram no Circuito Osmar neste sábado (26)

  • Roberto Midlej

Publicado em 26/02/2017 às 02:40:00
Atualizado em 16/04/2023 às 20:21:05

Os blocos afros de Salvador sempre registraram dificuldades financeiras para levar seu desfiles às ruas, mas neste ano, especialmente, a situação está mais complicada. Ainda assim, bravamente, eles animaram a noite do Circuito Osmar (Campo Grande) neste sábado (26) à noite. O Malê Debalê, que completa 38 anos em março, reduziu o número de participantes à metade, devido à queda de apoio financeiro. "Em ano de crise é assim: quem tem mil, perde quinhentos e fica com quinhentos. Mas, no nosso caso, que já tinha quinhentos, perde quinhentos e fica sem nada", disse Miguel Arcanjo, vice-presidente da institução, pouco antes de o Malê entrar na avenida.O bloco, que costuma desfilar com até três mil integrantes, neste ano foi reduzido à metade, segundo Arcanjo. O maior motivo foi o patrocínio reduzido, de acordo com o vice-presidente: "Nós recebemos patrocínios fantasiosos: o dinheiro só entra depois do Carnaval ou muito 'em cima'. O dinheiro caiu na quinta-feira (23), de Carnaval, mas nem tinha como tirar. Como vou fazer para pagar segurança e pessoal de apoio? Eles querem receber adiantado. O patrocínio tinha que ter saído em outubro ou novembro", diz Arcanjo, em referência ao Projeto Ouro Negro, que pretende manter a visibilidade dos blocos afros e é mantido pelo Governo do Estado. MuzenzaO Muzenza, que também foi às ruas neste sábado (26), relatou as mesma dificuldades. "Como pode um bloco gastar R$ 510 mil para ir às ruas e só receber R$ 170 mil de patrocínio?", questiona Geraldo Miranda, presidente do Conselho do Muzenza. "Este bloco, que simboliza a liberdade da Bahia, não consegue nem cobrir suas despesas. Tínhamos 2 a 2,5 mil integrantes pr Carnaval. Neste ano, foram só mil fantasias".Mesmo com problemas, Malê, Muzenza e um outro tradicional afro, o Bankoma animaram a noite do Campo Grande. Pai Ducho do Ogum, que estava no Bankoma, lembrou a relação do bloco com o candomblé: "A gente saúda os ancestrais antes de sair e faz todas as obrigações no terreiro". Pai Ducho do Ogum disse que sai no bloco junto com sua ialorixá e os filhos de santo do terreiro dele, Terreiro Ilê Axé Awa Ngy.Adson Freitas Júnior, 25 anos, sai no Muzenza há quatro anos e neste sábado estava acompanhado de diversos familiares para desfilar. "O Muzenza é que nem Ivete na Barra: não deixa ninguém de fora. Comecei no bloco junto com meus avós e pais. Agora, trago meu filho, meu sobrinho, minha esposa, minha cunhada... E temos que dar força aos blocos afros da Bahia, porque são eles que valorizam a música da Bahia".