Mestre das estruturas metálicas, engenheiro que projetou CCB deixa legado

‘Calculista brilhante’, Carlos Strauch foi precursor desse tipo de projeto na Bahia

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 4 de abril de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Carlos Emílio Strauch tinha 77 anos e sofreu um AVC (Foto: Acervo Pessoal) Quando, em setembro de 2016, o governo do estado decidiu pela demolição do Centro de Convenções da Bahia (CCB), o engenheiro Carlos Emílio Meneses Strauch se limitou a dizer que o equipamento era perfeitamente recuperável. “É claro que dá para utilizar. Precisa fazer a manutenção no resto do prédio e construir uma nova estrutura na parte do desabamento”, ensinou Strauch, sem conseguir sensibilizar as autoridades.

Em casa, com a família, ele foi menos técnico. E demonstrou um pouco de mágoa. “Ele ficou triste, sim. Ficou bem chateado”, disse ontem, uma de suas filhas, durante o velório do corpo do pai, no Cemitério Jardim da Saudade. Autor do projeto do CCB, Carlos Strauch morreu na madrugada desta terça-feira (3) em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Desde o rompimento de dois tirantes que colocou no chão parte da estrutura do equipamento, Strauch passou a ser bastante procurado por ter sido o responsável pelo projeto. Na época, havia avisado previamente sobre os riscos de um prédio que passou 13 anos sem manutenção e chegou a elaborar o projeto de reforma. “Verifiquei que tinha que substituir os tirantes. Fiz um projeto. Depois começou a burocracia. Não deu tempo”.

Carlos Strauch sabia o que estava dizendo e fazendo. No seu velório, não faltaram depoimentos de que se tratava de um calculista brilhante e precursor do uso de estruturas metálicas como as usadas no CCB. “Nem se falava disso na Bahia quando ele trouxe livros do exterior para aprender sobre o assunto”, revelou o filho, Carlos Emílio Torres Strauch, 51 anos, também engenheiro e aluno do pai.

Strauch se formou na Escola Politécnica da Ufba em 1963. Dois anos depois, já era professor da mesma instituição. Assumiu justamente a nova cadeira para o ensino sobre estruturas de metal, utilizadas em grandes vãos suspensos. “Para usar estruturas metálicas é necessário ter um cálculo muito preciso. Nisso ele era um mestre. Calculista reconhecido em todo o país”, destacou o amigo e professor de engenharia Civil da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), Ibrahim Uehbe.

“O melhor calculista da Bahia. Aliás, não sei se na América Latina teve alguém que projetasse vãos livres e de grande distância como ele fez”, confirmou João Leão, atual vice-governador da Bahia e amigo pessoal de Strauch. “Professor emérito e formador de várias gerações de engenheiros”, ressaltou Caiuby Costa, ex-diretor da Escola Politécnica e atual presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Politécnico, do qual Strauch era integrante.

Projetos O CCB é o seu maior projeto, mas há outros tantos por aí pela cidade e até no interior. Contribuiu na projeção de estruturas metálicas de shoppings como o Barra, o Bela Vista e na ampliação do Shopping Iguatemi (atual Shopping da Bahia). Fez o projeto da ponte metálica de Santa Maria da Vitória, no extremo oeste, com mais de 100 metros de vão.

“Se você for perguntar a qualquer engenheiro que trabalha com estrutura metálicas hoje na Bahia, todos vão dizer que foram alunos de Strauch”, afirma Tatiana Dumet, atual diretora da Escola Politécnica. Carlos Strauch teve seis filhos e deixa sete netos. Morreu depois de assistir à derrocada do seu principal “filho”. “Se você perguntar a qualquer engenheiro sobre a decisão de demolir o CCB ele vai achar um absurdo. O Centro de Convenções é um marco”, resumiu o filho do engenheiro.