Metade dos moradores de lar de idosos no bairro do Uruguai está com covid 19

A falta de espaço nos abrigos e a ausência do suporte das famílias dificultam o manejo e o tratamento dos asilados

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Desde o início da pandemia, os funcionários e residentes do Lar Feliz estavam relativamente tranquilos com os possíveis riscos de contaminação com o novo coronavírus, afinal os cuidados adotados garantiriam a segurança do grupo. Mas há cerca de dois meses, a chegada de um interno com um quadro de saúde delicado mudou a realidade do local. 

Hoje, o espaço localizado no bairro do Uruguai, na Penísula Itapagipana, tem sete dos 15 abrigados contaminados, três dos seis funcionários de licença médica também por conta da doença e até a proprietária está infectada com a covid-19.

Segundo a responsável pelo abrigo, Célia Maria Lopes da Silva, 66 anos, o residente doente apresentava um quadro constante de vômito com sangue e, antes de dar entrada no Lar Feliz, foi testado para tuberculose e covid, com resultado negativo. “Estranhamos a situação, mas tivemos a confirmação médica de que estava tudo certo com esse abrigado, que vinha com um histórico pessoal muito delicado e que necessitava desse suporte de acolhimento”, relata. 

O abrigado foi transferido para o gripário dos Barris, mas a contaminação já estava em curso, com o agravante de que o Lar Feliz não dispõe de espaço para fazer o isolamento dos doentes. Hoje, a luta da direção do abrigo é conseguir a transferência desses residentes contaminados para um outro espaço, onde consigam tratamento hospitalar adequado. Enquanto a transferência não acontece, os funcionários relatam o temor de continuar nas atividades.  O espaço está localizado no bairro do Uruguai, na Penísula Itapagipana (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A funcionária Josemara do Carmo, por exemplo, relata o receio de voltar para casa e entrar em contato com o filho pequeno. “Vivemos uma situação muito delicada, pois alguns abrigados não possuem família conhecida, e os que possuem familiares nem sempre podem contar com o suporte para que possam ser cuidados nesse período”, diz.

Josemara teme por sua saúde e dos demais colegas que trabalham em regime de 24 horas e, por vezes, precisam fazer horas extras por não contarem com substitutos. “Gostaríamos que os órgãos públicos de saúde pudessem nos dar apoio para que pudéssemos ajudar essas pessoas sem comprometer a nossa segurança e a segurança dos nossos familiares”, desabafa.

Poder público As assessorias de comunicação da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab) e Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informaram que não existe um protocolo de ação específico para esse público, mas que os casos suspeitos precisam ser encaminhados para uma Unidade de Pronto Atendimento ou um posto de saúde e, uma vez que o caso seja confirmado e haja necessidade de internamento, há a regulação para os hospitais de campanha. A informação da Sesab e da SMS é que o processo é feito de modo rápido. 

O Ministério Público da Bahia informou que tem conhecimento de que as Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPIs)vêm sendo monitoradas, de forma contínua, pela Comissão Intersetorial de Monitoramento de ILPIs da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, que fornece orientações, treinamento e auxilia quando existem casos suspeitos ou positivos nas instituições. A Secretaria de Saúde Municipal de Salvador também tem atuado nesta mesma frente.

O MP disse ainda que, em todo o Estado, também foram expedidas recomendações para que os dirigentes das ILPIs observem as orientações do Ministério da Saúde relacionadas ao coronavírus e adotem medidas de prevenção populacional entre os idosos e os respectivos colaboradores. "Ademais, recomendou-se que os dirigentes comuniquem os casos suspeitos aos profissionais das equipes que atuam na Atenção Primária à Saúde, cumpram as determinações administrativas dos órgãos públicos visando à prevenção e dissipação da doença, restrinjam as visitas aos idosos pelos familiares, mantendo-os informados das condições de saúde e gerais dos longevos através dos meios de comunicação possíveis, além de comunicarem ao Poder Público Municipal responsável eventuais dificuldades em adquirir insumos para a prevenção da doença".

Em maio deste ano, o abrigo São Vicente de Paula, em Ilhéus, no sul da Bahia, chegou a diagnosticar 20 residentes com a covid-19 - um idoso de 65 anos faleceu pela doença. O abrigo examinou 69 idosos que moram no local, além de 38 funcionários e sete cuidadores. Em junho, a vigilância epidemiológica de Itabuna, também na região sul, registrou 54 idosos e nove colaboradores do Abrigo São Francisco de Assis contaminados. No mesmo mês, Itaberaba, próximo à Chapada Diamantina, identificou 21 idosos infectados no Lar dos Velhos.