‘Mexeu com nossas emoções’, diz esposa de dentista sobre prisão de primeiro suspeito

Família acredita que outros dois envolvidos também serão encontrados

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  • Tailane Muniz

Publicado em 6 de julho de 2019 às 12:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

A prisão do primeiro suspeito de ter participado do latrocínio que resultou na morte da dentista Rita de Cássia Guedes Fernandes, 59 anos, no início do mês de junho, trouxe à família da vítima um misto de alívio e angústia. Preso nesta sexta-feira (5), o motorista de aplicativo Paulo Souza Maia, 35, disse que foi “usado” por dois “passageiros”, que teriam lhe solicitado uma corrida.

Esposa de Rita, a comunicóloga Janaíra Barreto, 35, disse à reportagem que se sentiu triste ao ver o rosto de um dos responsáveis pela morte de Ritinha, como refere à dentista.“Foi bem difícil para a família, porque mexeu com nossas emoções, como se a gente estivesse vivendo todo esse pesadelo novamente, de uma maneira muito intensa. Triste. Um cara que tem a minha idade, cheio de energia, podia trabalhar. Podia ter uma vida melhor, apesar de não ser fácil, mas optou por viver assim, destruindo outras famílias”.A viúva disse que teve conhecimento da versão apresentada por Paulo e comentou as contradições do suspeito. Assim como os delegados envolvidos na investigação, Janaíra, que já recuperou o celular da vítima com a polícia, ela crê que não há dúvidas de que o suspeito preso também participou do crime. Paulo é suspeito de matar dentista no IAPI (Foto: Alberto Maraux/SSP) “Como os investigadores disseram, ele se contradiz em diversos momentos. O serviço de inteligência mostra, pelas provas, que não faz sentido a versão dele. Eu não sei se a palavra é conforto, mas saber que ele foi impedido de realizar mais um assalto, que a polícia evitou que mais uma vítima sofresse nas mãos dessas pessoas, é bom”, comenta.

Para a família, reafirma a comunicóloga, é importante a prisão dos outros dois suspeitos, a manutenção da prisão de Paulo, que está preso por força de medida temporária válida por 30 dias, e a elucidação total do crime, embora nada disso traga Rita de Cássia de volta. Para ela, “não é uma luta à toa”. “Nessa oportunidade foi nossa Ritinha, mas poderia ser o filho, o pai, a mãe, o esposo, a mulher de qualquer pessoa. A polícia tirou da rua mais uma pessoa que faz o mal, isso ajuda a passar por isso com o entendimento de que perder ela não foi em vão, a gente luta por justiça por ela e para impedir que essas pessoas continuem fazendo mal a outras pessoas inocentes”.A viúva, que acompanha as investigações, também destacou o trabalho dos agentes do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) e Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsáveis pela investigação do latrocínio, e considerou “rápida” a prisão do motorista.  “Fiquei impressionada com o trabalho da polícia, apesar da gente querer uma solução imediata. O trabalho é feito de um jeito acertado e isso me deixa mais segura e amparada”.  Rita foi morta a tiros após tentar fugir de bandidos (Foto: Acervo Pessoal) Agora, comenta Janaíra, resta ter paciência para aguardar as prisões dos demais suspeitos, o que ela define como “uma questão de tempo e oportunidade”. “Eu não só estou confiante, como não tenho dúvidas de que serão presos”. À reportagem, garantiu que a família vai continuar acompanhando as investigações até a execução das prisões e que, para ela, mais do que nunca, “vale a máxima de que se cada um fizer um pouco da sua parte, talvez a gente consiga ter um mundo melhor”. 

Primeira prisão Apontado pela polícia como um dos responsáveis pelo crime, Paulo Souza foi preso por agentes do DCCP e Departamento de Polícia Metropolitana (Depom), na tarde desta sexta-feira (5), na Baixa do Tubo, localidade de Cosme de Farias, enquanto lavava o veículo utilizado no crime, um Volkswagen Fox, de cor prata, que está em nome da avó dele.

À polícia, o suspeito, que mora na região em que foi preso, informou que dois passageiros solicitaram uma corrida e cometeram o crime. Apresentado à imprensa horas depois da prisão, Paulo disse que buscou os “verdadeiros responsáveis” nos bairros de Cidade Nova e Paripe, no Subúrbio Ferroviário da capital.

Preso sob medida preventiva com validade de 30 dias, prorrogável por mais tempo, ele vai ser indiciado por latrocínio (roubo - ou a tentativa - seguido de morte). Diretor do DCCP, o delegado Élvio Brandão explicou que a versão de Paulo não condiz com a realidade.“Ele diz que é motorista de aplicativo, mas ele não é mais vinculado à plataforma. Atualmente, ele fazia corridas independentes e, aliado a isso, cometia roubos e estava envolvido em atividades criminosas”.O delegado comentou que os agentes envolvidos na investigação chegaram até Paulo por meio de uma pesquisa no banco de dados do Departamento de Trânsito (Detran), que revelou que o Fox, flagrado por imagens de câmeras da região, não se tratava de um veículo clonado.

"Logo que compreendemos que não se tratava de um crime de execução ou um homicídio, fizemos um trabalho na rua com agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e 2ª Delegacia (Lapinha), em busca de assaltantes na região. Além disso, usamos de tecnologia para melhorar as imagens das câmeras, o que permitiu chegar à identificação do carro", disse Élvio, ao comentar que chovia no momento da abordagem criminosa.

'Usado' Após chegar à titularidade do veículo, a polícia entrou em contato com a avó do suspeito que, de imediato, afirmou que o Fox era utilizado pelo neto, Paulo, que é pai de três filhos. 

Ao CORREIO, o suspeito negou ter participado do crime de forma voluntária. Ele disse que acreditava se tratar de uma "corrida normal, com passageiros normais". Prova disso, segundo afirma, é que aceitou o pagamento de R$ 80 ao final do trajeto, na Avenida San Martin, para onde Rita, mesmo ferida, conseguiu dirigir até bater o carro."Não fiz isso, tenho minha consciência limpa. Eu só dirigi e parei quando mandaram eu parar. Depois, um deles veio gritando, mandando eu arrastar, porque estava acontecendo um assalto. Assim, eu fiz. Não vi arma e nem ouvi tiros", narrou o preso, que afirmou à reportagem que não se apresentou à polícia por medo."Eu ia vir [até a delegacia], mas disseram que eu ia ficar preso por 30 anos, fiquei com medo", completou ele, que não tem advogado de defesa. O delegado desmentiu a versão do suspeito.

"O tempo do trajeto que ele diz ter feito não bate com o momento em que a vítima foi morta, por volta de 16h45. A ligação do suposto passageiro teria acontecido ao meio-dia. O valor é exorbitante, se for considerar que ele afirma ter feito a estimativa pela plataforma. Temos provas testemunhais de que ele é um dos autores", disse Élvio. Os outros dois suspeitos já foram identificados, disse o delegado.

As testemunhas do crime também contam uma versão diferente da que Paulo afirma ser verdadeira. De acordo com a Polícia Civil, uma delas disse em depoimento que, após ouvir o disparo, o motorista de aplicativo chegou a arrastar o veículo na tentativa de fugir, depois que o atirador acertou Rita de Cássia.

A Polícia Civil solicita que pessoas que tiverem informações sobre o caso entrem em contato por meio dos telefones (71) 3235-0000 e 190. O sigilo é garantido. Um dos suspeitos procurados teve retrato falado divulgado pela Polícia Civil (Foto: Acervo Pessoal/Reprodução)