Missas e doações marcam terceiro domingo da quaresma em Salvador

Caminhada Penitencial é adiada pela terceira vez, pela pandemia  

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  • Da Redação

Publicado em 20 de março de 2022 às 13:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

O terceiro domingo da Quaresma, período litúrgico que antecede a Páscoa, foi diferente, em Salvador. Ao invés da Caminhada Penitencial, que reúne mais de 200 mil pessoas em um percurso da Basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia à Igreja do Bonfim, o dia foi celebrado com missas nas duas igrejas. Essa tradição, promovida pela Arquidiocese de Salvador, acontece há mais de 30 anos, mas, pela pandemia da covid-19, não pôde acontecer, pelo terceiro ano consecutivo.  

Isso não impediu que o atleta e coordenador comercial Jackson Ramos, 44, fizesse a caminhada sozinho, como faz há quase 20 anos, e parasse para assistir a um pouco da missa na Conceição da Praia. Mesmo morando fora de Salvador agora, ele faz questão de vir todos os anos. “Uma vez por ano venho da minha casa e passo aqui. É uma forma de renovar os votos católicos e acredito muito em querer fazer o bem ao próximo, ter um significado na vida das pessoas”, afirma Ramos.   Jackson Ramon faz a caminhada penitencial todos os anos, mesmo durante a pandemia (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Há três anos, ele não só faz o percurso entre os dois templos, que tem oito quilômetros, como também adicionou uma outra parada. “Fui na Igreja de Irmã Dulce fazer um pedido pela primeira vez, para um amigo que tinha câncer, um tumor no cérebro, e fui atendido. A partir daí, inseri a Igreja da Santa no percurso. Ele foi curado e tenho certeza que foi por conta dela. Por isso, faço essa renovação”, conta o coordenador comercial.  

Já a enfermeira Marly Silva, 51, saiu direto do plantão no hospital para assistir à missa de 7h30, na Conceição da Praia, onde frequenta há 34 anos. Ela, que é devota da santa que dá nome à igreja, fez várias vezes a Caminhada Penitencial. “Minha mãe era católica e continuo a tradição. Nossa Senhora da Conceição da Praia representa muito para mim, ela sempre me acolheu e sempre tive fé nela toda minha vida”, relata.  

A dona de casa Zizi Passos, 67, trouxe a filha “de coração”, Laísa Bulhões, 33. “Sou católica e do candomblé desde pequena. Sempre vou à missa e sempre gostei de participar dos retiros”, confessa Zizi. Era, inclusive, o dia do aniversário de Laísa, que é mercadóloga. “Sou devota de Nossa Senhora da Conceição, que representa Oxum, no candomblé. Escolhi o dia de hoje, que é meu aniversário, para começar o dia abençoado, agradecendo e renovando um ciclo”, conta Laísa, que trouxe a filha, Sara Maria, 5.   Sara, Laísa e Zizi foram à missa na Igreja Conceição da Praia (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Bonfim  Assim como Jackson Ramos, a aposentada Ângela Maria, 66, fez o percurso entre as duas basílicas, a pé. Ela tem o hábito de vir todo domingo à igreja. “Participei da missa às 7h30, na Conceição da Praia, e vim caminhando de lá até aqui [Bonfim]. Vim conversando com Deus, buscando sua presença e pedindo a ele para que eu consiga cumprir as coisas que prometo e tire esse espírito ruim de falta de caridade”, desabafa Ângela. 

No caso de Antônia Santiago, a presença ali em Bonfim era fruto de promessa. De Brasília, ela e o marido, João Seixas, vinham uma vez por ano ao santuário, pedir a cura da doença dele, um câncer no esôfago. Mesmo Seixas não resistindo, Antônia veio ali agradecer. “Desde que meu marido faleceu, não consegui vir aqui. Mas, hoje, vim agradecer, porque, às vezes, somos egoístas, mas Deus sabe o que faz”, pontua.    Antônia veio de Brasília agradecer ao Senhor do Bonfim (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Manhã de fé  O trajeto da Conceição da Praia ao Bonfim tem cerca de oito quilômetros e é conhecido como “Do colo da Mãe à Mansão da Misericórdia”. Mesmo sem a caminhada, a fé segue intacta. “O importante é partir do colo da mãe, na Conceição da Praia e concluir na Mansão da Misericórdia, que é a Igreja do Bonfim. Dizemos que esse percurso é do Colo da Mãe, porque parte da ternura desta mãe que é mãe de Jesus, que nos abraça, à Mansão da Misericórdia de Jesus, que é o Senhor do Bonfim”, explica o Arcebispo de Salvador, o cardeal Dom Sérgio da Rocha.  

Essa manhã de missas e reflexão tem tudo a ver com o propósito da quaresma. “É o tempo de conversão e da penitência, que são os sacrifícios, as renúncias que as pessoas podem fazer para poder viver melhor o Evangelho, como, por exemplo, o amor ao próximo. Quando procuramos amar as pessoas, sobretudo, o mais próximo sofredor, temos também ocasião para sacrifícios”, detalha Dom Sérgio.   Fiéis acompanham missa na Nossa Senhora da Conceição da Praia (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Essa penitência, segundo ele, deve ser feita em três esferas. “Hoje, temos um tríplice olhar, olhamos para Deus, para sua misericórdia e pedimos perdão; olhamos pra nós, reconhecendo a nossa fragilidade, nossos pecados, para poder melhorar nossa fé e nossa vida cristã; e o terceiro olhar, que é o olhar para o próximo, com compaixão, misericórdia. Isso nos faz melhorar cada vez mais para chegar à Páscoa reconciliado com Deus e os irmãos”, esclarece o cardeal. 

A programação das missas pôde ser acompanhada, ao vivo, pelo canal youtube.com/arquidiocesedesalvador e pela Rede Excelsior de Comunicação (AM 840 e FM 106,1). Em todas as 110 paróquias de Salvador, a Arquidiocese também coletava doações, como alimentos não perecíveis, itens de higiene, roupas, etc. O Exército ajudou no transporte e logística das doações.  Exército ajudou paróquias a receberem as doações (Foto: Paula Fróes/CORREIO)