Moradora de prédio que desabou já sabia dos riscos: 'Nem conseguia dormir'

Edificação já havia sido condenada e esvaziada cerca de dez dias atrás

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  • Gabriel Moura

Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 16:45

- Atualizado há um ano

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. por Fotos: Arisson Marinho/ CORREIO

Foto: Reprodução O desabamento do prédio de quatro pavimentos que aconteceu no início da tarde desta quinta-feira (23), no bairro de Narandiba, em Salvador, já era previsto pelos moradores. Eles contaram que a edificação já apresentada problema há meses, incluindo rachaduras e estrutura exposta, e disseram que a situação se agravou nos últimos dias, quando o local foi esvaziado e condenado pela Defesa Civil (Codesal).

“Minha mãe morava no prédio e estava muito preocupada. Há semanas ela nem dormia e vivia falando da construção, que tinha muito medo que ela desabasse, que estava cheia de rachadur. Ela também estava bem chateada, porque recentemente tinha gastado um bom dinheiro reformando e pintando o apartamento, e agora tudo foi perdido”, contou Camila Souza, 20 anos.

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O prédio foi construído há mais de 10 anos, segundo moradores da região. Ele tinha quatro andares e oito apartamentos. Há cerca de 10 dias o local foi totalmente desocupado por ordem da Codesal. Na época, cinco famílias moravam na estrutura. 

Camila também contou que o dono do edifício, identificado apenas como Aristides, chegou a pedir que a mãe dela ficasse no apartamento, mesmo após o local ter sido condenado. O proprietário afirmou que iria reformar totalmente o local - e algumas obras estavam sendo feitas, como a troca do telhado e um reforço nas fundações, mas nada evitou o desabamento. Entulhos do prédio devem ser retirados pela Limpurb até sexta (Foto: Arisson Marinho / CORREIO) O mesmo Aristides também é apontado como o dono de diversas outras construções na região, a maioria delas condenada, incluindo um outro prédio de quatro andares que será demolido até a próxima sexta-feira (24) pela Codesal. Segundo moradores, esse homem é uma espécie de “Grileiro de Narandiba”, que costuma invadir terrenos da região, construir edifícios ilegais e colocar os apartamentos para alugar. 

Na região onde o prédio desabou, próximo à estação do metrô do Imbuí, lado oposto à sede da Coelba, podem ser observadas diversas placas anunciando imóveis para alugar. Segundo moradores, todas se referem a propriedades deste Aristides. Vizinho ao local do acidente, o auxiliar de nutrição Gil Macedo, 40, contou que todos os moradores já sabiam dos problemas nas construções.

“Elas foram feitas de qualquer jeito, em cima do esgoto e com vigas muito finas. Sem nenhum estudo ou critério. Todas são irregulares. Infelizmente, existem pessoas que por falta de condições acabam morando nesses lugares sem estrutura”, lamenta.

Perigo mora ao lado Após o desabamento do edifício, todas as casas ao redor foram desocupadas. Os moradores só poderão retornar às residências após a limpeza dos entulhos e a demolição de um outro prédio de quatro andares - também pertencente a Aristides. A desempregada Jéssica Conceição, 20, mora ao lado do prédio que desabou e diz que está com medo de voltar para casa.

“Há dias alguns entulhos começaram a cair e o prédio começou a inclinar. Desde então todo mundo ficou morrendo de medo, principalmente quando as chuvas chegaram. Até minha casa começou a apresentar rachaduras e agora, após a queda, estou morrendo de medo de voltar”, revela a jovem, que gravou o momento da queda. Veja abaixo.

Chuviscava no momento do acidente, mas horas antes havia chovido bastante na região. Houve um ruído muito alto quando o prédio começou a tombar. "Foi um barulho assustador mesmo. Eu estava na garagem quando minha filha me ligou. Ela percebeu o barulho e quando foi olhar da varanda, o prédio ficou inclinado. Depois ele desabou", diz Anderson Carvalho, que mora a cerca de 100 metros de distância do prédio. 

Anderson também gravou um vídeo da queda, veja:

Enquanto não retornarem para casa, todos os moradores da região irão receber auxílio moradia por parte da Prefeitura de Salvador. O cadastro foi feito no próprio local do acidente. Moradores foram retirados do local (Foto: Arisson Marinho / CORREIO) Versão oficial Logo após o acidente, equipes da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e da Codesal chegaram ao local. Segundo o diretor da Defesa Civil, Sosthenes Macedo, houve uma ruptura da estrutura. “Nossa equipe esteve no local e notificou vários imóveis. Condenou todos eles. Graça a Deus não houve vítimas. Nossas equipes estão no local para avaliar a situação”, diz Macedo. 

Outros imóveis ainda correm risco de desabamento. "É necessário que os moradores deixem esses imóveis, pois o risco de acidente é grande", explica Macedo.  Vizinhos do prédio tiveram que abandonar as casas (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A chuva aumentou após o desabamento. Segundo a Codesal, segue para as próximas 24h a previsão de chuvas fracas a moderadas, podendo ser fortes em áreas isoladas. Essas chuvas estão associadas ao sistema de baixa pressão e podem provovar deslizamentos de terra.

Por meio de nota, a prefeitura informou que a Codesal isolou a área do prédio que desabou e que o que sobrou do imóvel será demolido pela Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), conforme solicitação da Defesa Civil.

Acrescentou também que a informação inicial é que as pessoas que moravam no imóvel eram locatários, já que o prédio pertencia a um particular que alugava os apartamentos, e que o imóvel estava condenado. "No último dia 20, o imóvel já havia sido condenado pela Codesal, pois apresentava patologias como fissuras e oxidação de armaduras, com risco alto de desabamento. Por conta disso, o órgão determinou a evacuação do prédio, que pertence a um particular", afirmou.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.