Moradores de condomínios de luxo ignoram quarentena em Lauro de Freitas

Município impôs toque de recolher na semana passada

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 19 de maio de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O caso de Anderson Talisca levou as atenções para Lauro de Freitas - município que é quase um irmão da capital Salvador dada a proximidade entre as duas cidades. Lauro começou o seu toque de recolher na última semana e vem registrando alguns casos em que é necessária a intervenção do Poder Público para que as medidas sejam respeitadas.

Talisca não foi o único a ser notificado no último final de semana. Em nota, a Prefeitura de Lauro de Freitas afirmou que fechou o último domingo com 1.362 abordagens orientativas e de conscientização, ainda sem penalizar os infratores.

A maioria das abordagens se concentrou nas entradas da Estrada do Coco (Km-1 e Km-7,5), onde as equipes da operação de segurança montaram bloqueios com viaturas, cones e gradis, para orientar condutores e passageiros de veículos.

O Centro Integrado de Mobilidade Urbana (CIMU) recebeu 30 denúncias de aglomeração e poluição sonora, no domingo, durante o período de restrição que vai das 20h às 5h da manhã. 

Moradora do luxuoso Condomínio Parque Encontro das Águas, o mesmo onde aconteceu o caso de Anderson Talisca, Juliana** afirma que diminuiu o número de casos que presenciou após o decreto do toque de recolher. Contudo, ligou para a polícia nas últimas duas semanas para denunciar aglomeração e poluição sonora em casas vizinhas. Segundo a prefeitura de Lauro de Freitas, no último domingo a polícia precisou solicitar que pessoas aglomeradas em bares da região fossem para suas respectivas casas. 

"Eu espero que siga reduzindo, mas sabemos que há festas dentro de várias casas de luxo por aqui. Às vezes o barulho extrapola, primeiro pedimos ligamos para a portaria e, se não der jeito, acionamos a polícia. As pessoas têm que entender que está chato para todo o mundo ficar em  casa, preso, e que se continuarem fazendo essas festas o isolamento só vai demorar mais pra acabar", contou a moradora, que pediu para ter sua identidade preservada.

O decreto que determina o toque e recolher em Lauro de Freitas é válido até o próximo dia 24 de maio. Morador de Villas do Atlântico, o autônomo Alisson Moraes afirma que por lá, em geral, as pessoas estavam cumprindo o isolamento. Ele diz que incomodava um pouco ver que alguns restaurantes ficavam aglomerados para retirada de alimentos, mas que isso foi diminuindo com o tempo.

"Quando preciso sair para comprar alguma coisa ou ir ao mercado fico observando esse tipo de situação e por aqui em geral está tranquilo", diz.

Em Buraquinho a situação é diferente. O advogado Osvaldo Barreto é taxativo para dizer: não há respeito às medidas de isolamento. O bairro é o terceiro com mais casos confirmados em Lauro de Freita, com 16 infectados. Está atrás, apenas, do Caji e Itinga - que têm 33 cada."Estou abismado com a falta de consciência social da galera. Do bairro nobre à periferia. [Vi movimento em] mercados, lotéricas, agências bancárias, condomínios de luxo com festas no final de semana", relata.Morador de Lauro de Freitas há sete anos, Osvaldo ainda denuncia que os mercados da cidade viraram espécies de "pontos de passeio das famílias que residem aqui". Ele alega que os estacionamentos estão sempre lotados e o movimento na Estrada do Coco aumentou consideravelmente após o toque de recolher.

Lauro de Freitas tem um total de 181 casos confirmados de coronavírus. 50 estão curados, 125 em recuperação, além de 2 internados e 4 óbitos. Caji e Itinga são os bairros líderes em contaminação, com 33 casos cada. A lista ainda conta com 20 casos em Portão, 16 em Buraquinho e 15 em Ipitanga.

O quinto colocado da lista foi outro a chamar atenção no final de semana: na madrugada do domingo (17), a Polícia Militar encerrou uma festa no local que tinha cerca de 70 jovens. Os policiais chegaram à festa após vizinhos fazerem denúncias de som alto.

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco ** Nome trocado a pedido do entrevistado