Moradores e comerciantes da Boca do Rio fazem planos para faturar no Festival Virada Salvador

Festa já movimenta reservas de hotéis, que esperam ocupação de quase 100%

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 8 de novembro de 2019 às 06:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Secom/Divulgação

Casas alugadas, hotéis esperando lotação máxima e comerciantes com recorde de vendas. O cenário poderia facilmente representar os arredores dos circuitos de Carnaval, mas é na Boca do Rio que essas mudanças já podem ser vistas. Na região, circularão 500 mil turistas, que, segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), vêm à capital para o Festival Virada Salvador.

A estrutura da festa, que acontece de 28 de dezembro a 1º de janeiro de 2020, ainda não começou a ser montada - o que só deve começar a acontecer no final deste mês. O Festival, no entanto, já começou a mudar a realidade do bairro que abriga a Arena Daniela Mercury. O espaço recebe, pela terceira vez, a segunda festa de Réveillon mais procurada do país. Para quem mora perto da arena, o Ano Novo acabou se tornando quase um segundo Carnaval: cheio de oportunidades de se divertir e empreender. 

É o caso do comerciante Ezequiel de Santana, dono de um restaurante na orla do bairro. “Esperamos durante o ano todo a chegada dessa festa para dar uma movimentada aqui, as coisas não vão muito bem. O resultado é certo. Para nós, que trabalhamos na orla, é maravilhoso”, conta ele, que tem uma melhora de 30 a 40% nas vendas a cada Réveillon. Ezequiel de Santana espera aumentar as vendas do restaurante em 40% no periodo da virada (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Ezequiel explica que o restaurante Moqueca Brasil não muda a faixa de preços do cardápio quando os turistas chegam. Apesar dos valores normais, os itens disponíveis acabam recebendo uma atenção especial para atrair mais clientes. “Faço um cardápio especial, uma promoção, algo que ajude a atrair mais clientes. Ano passado, eu fiz isso e deu certo, vou analisar a possibilidade de fazer novamente. Não temos ambição de explorar os clientes, aumentando os preços por causa da proximidade com a festa”, detalhou ele. O comerciante conta que fatura, em média, R$ 18 mil mensais. Com o incremento trazido pela festa, espera que o número ultrapasse os R$ 25 mil. 

A expectativa de Ezequiel tem razão de ser. Segundo a Secult, os turistas gastam, em média, R$ 872,05 ao longo dos cinco dias de festa. Desse valor, 35% é investido em alimentação. O setor é o campeão de gastos de quem vem a Salvador. Completam o pódio gastos com transporte (28%) e compras (18%).

Hospedagem  Seguindo a lista dos principais gastos dos turistas na virada, o quarto lugar fica com a hospedagem (14% do valor médio gasto pelos turistas). A escolha de onde se hospedar, contudo, acaba sendo bastante variada e não se limita apenas aos hotéis e hostels clássicos.

No caso da família da designer gráfico Jamile Santiago, por exemplo, parentes de todo canto do país chegam para curtir a festa e ficar hospedados na casa, que fica bem próxima da arena. “Pra mim é como um segundo Carnaval. A casa fica cheia. Tem parente que chega no Natal e já fica pra curtir a festa toda”, relata ela.

O movimento da grande quantidade de pessoas que circula pela Boca do Rio não incomoda a moradora, pelo contrário. “Geralmente não tem nada aqui, no Réveillon é mais movimentado, seguro, tem mais vida no local”, defende.

Por conta da quantidade grande de familiares e amigos convidados que hospeda, Jamile nunca usou o Réveillon para ganhar um dinheiro alugando quartos da casa, mas não descarta a possibilidade. “Já alugamos em outras épocas, de São João, Carnaval. No Réveillon como estamos muito perto, a casa acaba sendo bem procurada pelos parentes, que são convidados. Mas estou pensando em alugar no ano que vem”, explicou. Proprietária investe no aluguel por temporada para aproveitar o movimento do Festival Virada  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)  Também moradora da área,  Angela Dantas resolveu fazer diferente. Ela costumava fazer contratos longos do aluguel de uma quitinete, próximo à festa, mas vai mudar de estratégia. “Agora quero ficar em aluguéis mais curtos, aproveitar o movimento da festa e também o Centro de Convenções, que já vai ser inaugurado. Quero trabalhar com esse turismo de temporada”, explicou.

A proprietária ainda não definiu exatamente o preço do pacote para quem quiser ficar em sua quitinete nos 5 dias de festa, mas conta que o valor da diária deve ficar em torno de R$ 60 por pessoa. “É uma quitinete, que dá pra abrigar de duas a quatro pessoas, vou fazer o pacote dependendo de quantos dias a pessoa quiser ficar”, disse.

Hotéis Quem prefere escolher a hospedagem mais clássica, em hotéis, pode esperar encontrar os empreendimentos cheios  São por volta de seis hotéis na região da festa que esperam atingir perto de 100% da sua ocupação.

No ano passado, foi registrada uma ocupação de 84% durante os cinco dias de festival. Para essa virada, a Secult projeta um crescimento de 9,5%, esperando que a ocupação chegue a 92% durante toda a festa. O aquecimento esperado já começa a ser sentido.  Na área, é possível encontrar diárias de R$ 180.

Responsável por um dos hotéis da região, o Pisa Plaza Hotel, Marcos Pondé já registra 40% de reservas para o período. “Esse número, com certeza, tem influência da festa. É muito interessante para região porque não é uma festa de um dia só. A gente consegue fazer o pacote mais atraente”, explica ele.

A antecedência grande com que a quantidade de reservas começa a aumentar tem relação com o lançamento da festa feito pela prefeitura, também meses antes. “A Prefeitura lança o Réveillon com bastante antecedência, para que os turistas se programem e consigam comprar passagens aéreas com preços mais acessíveis para poder vir para o Festival, que é um dos maiores do Brasil. O evento é gratuito e acontecerá em um local belíssimo, de fácil acesso e com excelentes atrações”, acredita o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA), Sílvio Pessoa.

O total de 500 mil turistas esperados representa um crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Desse total, 238.195 pessoas são provenientes do interior da Bahia, 181.164 de outros estados brasileiros e 47.633 de diversos países.

Parque dos Ventos A Superintendência de Obras Públicas (Sucop), da Prefeitura de Salvador, informou que as obras do Parque dos Ventos estão em ritmo acelerado, com previsão de conclusão para dezembro.

Em uma área de cerca de 80 mil m², o parque será construído na Boca do Rio, entre o futuro Centro de Convenções de Salvador e a Arena Daniela Mercury – exatamente naquele ponto da Orla onde, nos anos 2000, funcionou o shopping Aeroclube Plaza Show.

O Parque dos Ventos tem investimento de cerca de R$ 7,9 milhões, em recursos próprios e prevê parede para escalada e rapel; pistas de patins, pump track e parkour; arvorismo, anfiteatro, área de convivência e parque infantil.

*Colaborou Eduardo Dias, com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier