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“Ele saiu para trabalhar, quem ia imaginar receber uma ligação dizendo que ele estava morto?”, lamenta tio
Bruno Wendel
Publicado em 23 de outubro de 2020 às 06:00
- Atualizado há um ano
“Ele saiu para trabalhar, quem ia imaginar receber uma ligação dizendo que ele estava morto?”, questiona o tio do taxista Carlos Eduardo de Souza Marques, 39 anos, que saiu na noite de quarta-feira do Jardim Cruzeiro, Cidade Baixa, para atender a um chamado no próprio bairro e acabou assassinado na Calçada. O corpo dele foi encontrado ao lado do passageiro Wagner Igor Conceição Sicopira, 22, também morto no episódio. Carlos Eduardo Marques (Foto: Reprodução) A mulher que acompanhava Wagner, cujo nome foi preservado neste texto, é a peça chave desse mistério, pois foi poupada pelos criminosos, que abordaram o táxi ainda no Jardim Cruzeiro. Na manhã desta quinta, a informação inicial era que a testemunha ainda não tinha sido oficialmente interrogada no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).
Por enquanto, não há informações sobre os enterros de Carlos Eduardo e nem de Wagner Igor. Sobre a investigação, a assessoria de comunicação da Polícia Civil disse que o caso se trata de um assalto, mas não informou o que os bandidos levaram. “A 3ª DH/BTS vai apurar a morte do taxista Carlos Eduardo de Souza Marques, atingido por um disparo de arma de fogo, durante um assalto, no bairro da Calçada. A vítima chegou a ser socorrida para a UPA de Roma. Outro homem, identificado como Wagner Igor Conceição Sicopira, também foi baleado e morreu no local. O carro do taxista foi localizado, na madrugada desta quinta-feira, na Avenida Barros Reis e será periciado”, diz nota. A polícia não informou se as vítimas têm antecedentes criminais
Segundo a Associação Geral dos Taxistas (AGT), em Salvador e Região Metropolitana, já foram 12 taxistas assassinados este ano, 362 assaltos a taxistas e 58 táxis tomados de assalto.
Crime Carlos Eduardo morava no Jardim Cruzeiro, junto com a mulher, Mariana Regina das Neves Carvalho, e uma filha de oito anos. Por volta das 20h, ele saiu no táxi GM Cobalt (PLK-0402). Representantes da AGT, que foram acionados junto com a polícia logo após o crime, conversaram com a testemunha ainda no local. Eles não souberam informar o destino da corrida, mas relataram ao CORREIO que a mulher sentou do banco do carona e o Wagner seguiu no banco de trás, porque ainda no bairro, o casal pediu ao taxista para parar numa rua, pois iam pegar outros dois amigos.
Quando o táxi chegou à rua indicada para pegar os amigos do casal, todos foram surpreendidos por três homens armados que anunciaram assalto. Os criminosos entraram no banco de trás e o táxi seguiu com seis pessoas – o taxista, o casal e os assaltantes – para a Calçada. Lá, o táxi entrou numa área do Colégio Estadual Landulfo Alves, defronte ao Supermercado Mercantil Rodrigues.
No local, os criminosos retiraram a mulher do carro, que ficou de cócoras a uma curta distância carro. Em seguida, o taxista e o passageiro foram ordenados a sair e, posteriormente, baleados. Os bandidos fugiram com o táxi, que foi abandonado sob um dos viadutos da Rótula do Abacaxi. Em nota, a Polícia Militar informou que, de acordo com informações da 16ª CIPM, por volta das 19h43 desta quarta-feira, policiais militares foram acionados pelo Cicom para atender a uma ocorrência de homicídio na Calçada. Depoimento Na manhã desta quinta-feira, a mulher do taxista foi ao DHPP para prestar depoimento. Ela estava acompanhada do tio de Carlos Eduardo, o comerciante José Marques, 51, que aguardava a autorização da polícia para pegar alguns documentos no táxi, estacionado em frente ao prédio. Marques é o dono do veículo: “Em 2015, ele ficou desempregado. Como o Cobalt estava parado lá em casa, dei para ele trabalhar como taxista”.
Antes de ser taxista, Carlos Eduardo foi funcionário da Ford, em Camaçari, e de um posto de combustíveis em Stella Maris. “Estamos até agora sem acreditar. Ele era amigo de todo mundo, muito querido, conhecia muita gente. As pessoas estão ligando e não acreditam que isso aconteceu”, declarou o tio. Ele disse ainda que a morte do sobrinho é um mistério que não pode deixar de ser desvendado: “Até onde a gente sabe, os bandidos não levaram nada, até o carro abandonaram. Mataram ele, o passageiro e deixaram uma testemunha para contar tudo? Está muito estranho”.