MP orienta municípios a adotar cuidados especiais com os corpos de vítimas da covid-19

Familiares não devem ter contato físico com os corpos, nem com os equipamentos e materiais que possam estar contaminados

Publicado em 17 de maio de 2020 às 10:23

- Atualizado há um ano

Prefeituras, hospitais e empresas funerárias dos municípios de Valença, Cairu e Presidente Tancredo Neves foram orientados pelo Ministério Público estadual a adotar providências para cumprir as exigências sanitárias compatíveis com o trato das vítimas fatais da covid-19, desde a liberação dos corpos pelos hospitais, passando pelos cuidados funerários até o enterro.

A recomendação da promotora de Justiça Lívia Luz Farias segue as orientações do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e busca reduzir o risco de transmissão da Covid aos profissionais de saúde, do sistema funerário, bem como aos parentes e às famílias das vítimas.

O MP recomenda que os familiares das vítimas não tenham contato físico com os corpos no momento da despedida, nem com os equipamentos e materiais próximos que possam estar contaminados. Os trabalhadores que irão lidar com os corpos deverão ser informados que a vítima morreu em decorrência da Covid.

O transporte do corpo, seu tratamento funerário e os procedimentos necessários ao enterro devem ser realizados por profissionais habilitados a lidar com vítimas da doença, munidos de todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários. Todo o velório deverá ser realizado com caixão fechado, no “tempo mais breve possível”, com a presença de, no máximo, 10 pessoas, respeitando-se um distanciamento mínimo de 1 metro. A recomendação é que integrantes de grupos de risco ou com sintomas de doenças respiratórias não deverão acompanhar as cerimônias.  

Em Cairu, há suspeita de que cinco familiares foram infectados durante o sepultamento de uma idosa de 77 anos, que morreu na última quinta-feira (7). Ela estava internada na Santa Casa de Misericórdia de Valença com suspeita da doença, mas a confirmação chegou apenas na última segunda-feira (11), através da divulgação do diagnóstico pelo Laborário Central (Lacen), em Salvador.

Segundo a Secretaria de Saúde do município, o corpo da idosa deixou a Santa Casa em um caixão lacrado e foram dadas orientações para que ele não fosse aberto durante o funeral, o que não parece ter sido levado a sério. A suspeita da violação ocorreu porque a prefeitura local testou 12 pessoas que estiveram no velório e cinco testaram positivo para a doença. Fontes locais afirmaram que o caso aconteceu na Gamboa, ilha vizinha a Morro de São Paulo.

Em conversa com o CORREIO, um familiar dela, que preferiu não ser identificado, confirmou que houve velório, mas nega que a urna funerária tenha sido aberta durante a despedida. Os familiares disseram, ainda, que o serviço médico municipal não mencionou, em nenhum momento, que o caso de Nilzete era suspeito de contaminação pelo coronavírus.

O município afirmou em nota que "em nenhum momento pode-se afirmar que os demais familiares testados positivos foram infectados durante o velório". Já a secretária de Saúde do município baiano, Italuana Guimarães, frisou ainda ao CORREIO que Cairu segue as orientações do Ministério da Saúde e garante que elas foram passadas à família pelos enfermeiros. Entre essas recomendações está a do limite de 10 pessoas nos sepultamentos para evitar aglomerações.

Procurada, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirmou que, desde o dia 9 de março deste ano, disponibilizou uma nota técnica com orientações em relação ao manejo de óbitos em domicílio, instituições de moradia, unidades hospitalares, espaços públicos e funerárias após a morte no período desta pandemia.

No documento, a Sesab orienta que não devem acontecer velórios em domicílios com o objetivo de evitar aglomeração de pessoas e também afirma que "os ambientes e objetos com os quais o falecido teve contato deverão ser desinfetados com água sanitária a 0,5% ou 1% ou álcool 70%".

Por que não pode abrir o caixão? A infectologista Melissa Falcão explicou ao CORREIO que é arriscado deixar vítimas fatais da covid-19 com caixão aberto porque mesmo após o óbito o paciente infectado ainda pode transmitir o vírus para pessoas que entrem em contato com o cadáver.

“O corpo ainda pode armazenar o vírus depois do óbito e transmitir a doença para outras pessoas através da secreção. Os familiares não devem entrar em contato com o corpo mesmo após a morte do paciente”, afirmou.

Por se tratar de uma doença nova, a medicina ainda não sabe precisar por quanto tempo após a morte a vítima da covid-19 carrega o vírus ou pode infectar quem entre em contato com o corpo.