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Daniel Aloísio
Publicado em 27 de novembro de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Uma menina nascida em 2019 na Bahia tem a expectativa de viver quase 10 anos a mais do que um menino nascido no mesmo ano. Isso é, pelo menos, o que foi calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nas Tábuas de Mortalidade 2019, divulgadas nesta quinta-feira. Segundo a pesquisa, a expectativa de vida dos homens é de menos de 70 anos (69 anos e 8 meses), enquanto das mulheres é de quase 80 anos (78 anos e 10 meses). Isso significa dizer que as baianas vivem quase uma década a mais do que os baianos. É a segunda maior diferença de expectativas de vida no país, atrás de Alagoas, com 9,5 anos.>
No país como um todo e em todos os estados, as mulheres têm uma esperança de vida maior do que a dos homens: 80,1 anos para elas e 73,1 anos para ele. De acordo com a geriatra do Hospital Português, Katia Guimarães, essa diferença é explicada por múltiplos fatores, como as diferenças do organismo masculino e feminino e os hábitos de cada perfil:“O homem possui testosterona, hormônio que o faz se arriscar mais ao perigo. Além disso, o homem tem pouquíssimo estrógeno, hormônio que a mulher tem em abundância e que a protege de várias doenças”. No entanto, Katia não sabe explicar o motivo de na Bahia essa diferença entre a expectativa de vida de homens e mulheres ser a segunda maior do país: “Seria necessário um estudo científico que pudesse identificar o que acontece no nosso estado”.>
Por esse mesmo caminho pensa Washington Luiz Abreu, doutor em saúde pública e professor de medicina nas universidades UniFTC, Bahiana e Ufba. “Essa informação é complexa. Em todas as faixas etárias, os homens morrem mais que a mulheres. O que a gente já sabe que influencia essa mortalidade masculina, em geral, é a não preocupação deles com a sua saúde no quesito prevenção. A mulher utiliza mais o serviço de saúde e adoece menos”, disse o professor, alertando também que não há um estudo específico com recorte na Bahia sobre o assunto. >
Questão de genética A aposentada Valdete Conceição tem 78 anos e 9 meses, apenas um mês a menos da idade exata calculada pelo IBGE para a expectativa de vida das baianas. Ela já é viúva e se orgulha da idade atingida, mas não se contenta com isso. Dona Valdete quer viver muito mais. “Meu marido morreu com 76 anos. Não tem ninguém da minha família que chegou a essa idade que eu estou. Minha mãe morreu com 68 e meu pai tinha uns 70. Meus irmãos são todos mais novos e eu sempre digo para eles tomarem cuidado, pois na nossa família o povo vai embora cedo. Como sou bastante religiosa, sempre digo a Deus que eu gosto dele, mas que ainda quero ficar por aqui mais uns anos”, diz ela, com um sorriso no rosto.Valdete classifica esse modo de levar a vida como algo que a ajudou a viver por tantos anos. “Eu fumei até quase 50 anos. Também bebia, mas socialmente. E não praticava exercícios físicos. Com a idade chegando, melhorei meus hábitos. Hoje, durmo duas vezes por dia, faço questão de andar, vou para a igreja diariamente. Só não saio mais por causa da pandemia”, relata a moradora do Cabula VI e frequentadora da Paróquia Ceia do Senhor e Santo André Apóstolo.>
Já o casal Luiz Marciel Fernandes, 85, e Osvaldite Boaventura Fernandes, 79, já superaram a expectativa de vida dos baianos. Luiz, inclusive, já vive 15 anos à frente da média para os homens, segundo o IBGE. “Minha família tem uma genética boa, pois minha mãe viveu até os 91 anos, a avó materna até os 103 e outro tio chegou aos 100. Tenho também quatro tios, um homem e três mulheres, que estão vivos e já superaram os 90 anos”, conta.>
De fato, segundo a médica geriatra Katia Guimarães, questões genéticas são fatores que contribui na longevidade.“Existem estudos que apontam que 25% da expectativa de vida é determinada pela genética e o restante são hábitos saudáveis”, explica.Para viver esses hábitos saudáveis, o casal faz pilates em casa duas vezes na semana e foca em boa alimentação. >
“Eu adoro viver. Gosto de fazer tudo de bom que você pensar no mundo. Adoro viajar, comprar, sair... Pena que essa pandemia obriga a gente a ficar dentro de casa, mas isso não me altera”, diz dona Osvaldite, que tem um recado para aqueles que pretendem viver muito como ela. “Façam tudo que aparecer e façam bem, sem criar problemas em nada. Os problemas só nos levam a uma vida infeliz. Temos que entender que tudo se resolve com paciência e fé em Deus”, conclui.Outros números Ainda segundo o IBGE, em 2019, a esperança de vida do baino ao nascer era de 74,2 anos. Em relação a 2018, esse número representa um aumentou em cerca de 3 meses, mas é a 10ª mais baixa do país e pouco mais de 2 anos menor que a média nacional, de 76,6 anos. >
Entre 1980 e 2019, a chance de uma pessoa de 60 anos chegar aos 80 na Bahia cresceu 90,8% e cerca de seis em cada 10 idosos (580 a cada mil) passaram a ter essa possibilidade de viver mais. Isso representa uma diminuição atual na mortalidade nas idades mais avançadas em comparação com a década de 1980. Isso representou uma redução média de 276 mortes por mil idosos, em 29 anos. >
Foi um aumento de sobrevida proporcionalmente maior que a média nacional. No Brasil como um todo, a probabilidade de um idoso de 60 anos chegar aos 80 passou cresceu 75,6%, o que representou menos 260 mortes por mil no período. >
Segundo o doutor em saúde pública Washington Luiz Abreu, esse cálculo é importante para entender o envelhecimento da população brasileira e para que sejam criadas políticas públicas para essa categoria. “Nossa população de idosos só aumenta e não estamos preparados para acolhê-los. Obrigá-los a enfrentar uma fila é um ato de violência institucional e isso é inadmissível. Ele precisa ter acesso a alimentação saudável e renda. Só reforma da previdência não resolve o problema”, apontou. >
Crianças A taxa de mortalidade infantil na Bahia, em 2019, foi estimada em 15,4 por mil, ou seja, para cada mil crianças nascidas vivas, 15,4 morreriam antes de completar 1 ano de vida. Essa taxa é bem superior à nacional, que é de 11,9 por mil. O indicador mostra, entretanto, uma tendência progressiva de redução, já que em 2018, era de 16,0 por mil. >
Mesmo com a queda, a Bahia segue tendo o 9º índice mais elevado do país. Em 2019, a menor taxa de mortalidade infantil continuou sendo a do Espírito Santo (7,8 óbitos para cada mil nascidos vivos), e a maior, do Amapá (22,6 por mil). >
Dos estados do Nordeste, apenas Pernambuco, com uma taxa de 11,4 mortes por mil nascidos vivos, ficou ligeiramente abaixo da média nacional. Dentre os nove estados da região, a Bahia tem a quarta maior estimativa de mortalidade infantil, menor apenas que as verificadas no Maranhão (18,6 mortes por mil nascidos vivos), Piauí (17,5 por mil) e Alagoas (16,4 por mil). “Todos esses dados são indicadores da qualidade do nosso sistema de saúde. Quanto menor a mortalidade infantil e maior a expectativa de vida, melhor a condição daquele país. No passado, tínhamos taxas bem piores do que a atual. No entanto, ainda temos muito a avançar”, explicou o professor Washington. * Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro. >