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Da ativista contra o encarceramento à que busca a filha perdida, mãe não é tudo igual
Fernanda Santana
Publicado em 8 de maio de 2022 às 07:00
Se alguém perguntasse o que significa a maternidade para Leonice, Cynthia, Mari Neide e Ana Maria, cada uma teria uma resposta.
Leonice: “Tenho certeza que a melhor palavra que define é amor”.
Cynthia: “Vejo como uma prisão para mim, que fui obrigada a ser mãe solo”.
Mari Neide: “É a realização da mulher”.
Ana Maria: “Para mim, é dar a vida”.
As quatro mulheres acima - cujas histórias você conhece nessa série especial (acesse no links ao lado) - vivem experiências diferentes de maternidade. Ao contarem suas trajetórias, elas mostram como as expectativas sobre o ato de maternar são modificadas a cada dia.
Leonice Galdino, 50 anos, é a mãe do pichador, grafiteiro e artista urbano Scank, assassinado enquanto trabalhava, em fevereiro de 2020, em Salvador. A morte dele a conduziu ao universo da arte urbana. Ela trabalha para mandar o legado do filho vivo.
Cynthia Besteiro, 38 anos, é mãe solo de duas filhas e fala abertamente sobre os arrependimentos que a maternidade traz. “Eu amo minhas filhas, morreria por elas, mas isso não significa que eu goste de ser mãe”, diz.
Mari Neide, 58 anos, vive a experiência de ser mãe de uma menina desaparecida. Há 22 anos, ela, que não quis ter outros filhos, busca a filha.
Ana Maria, 46 anos, se tornou ativista contra o encarceramento desde a prisão do filho. Ela é mãe de outro menino, diagnosticado no TEA - Transtorno do Espectro Autista, e criou, sozinha, os dois. “Ninguém cuida de mim. Eu tomei a decisão de não querer relacionamento, isso dói em mim, mas precisei tomar essa decisão”.
Maternidades diferentes
Historicamente, o conceito de maternidade é cercado de padrões como os que pregam que mães são mulheres felizes com seus filhos, que seriam o complemento do ciclo natural da vida, e plenas com a maternidade.
A diversidade do maternar não é incluída nessa concepção e desconsidera, por exemplo, o fato de 11 milhões de mulheres criarem seus filhos sozinhas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número é quase três vezes a população de Salvador.
Só de 1980 para cá, a discussão sobre a maternidade começou dentro das universidades, do ponto de vista sociológico.“A ideia de maternidade é forjada de maneira muito embrionária na educação das meninas. Falo isso como pesquisadora e como mulher que quis ser mãe”, explica Hayeska Barroso, professora da Universidade de Brasília (UNB) que estuda parentalidade.No Brasil, a expansão dos estudos sobre maternidade aconteceu nos últimos cinco anos. Hayeska vê uma semelhança entre os ideais sobre a maternidade e os discursos sobre o empreendedorismo:“Se der certo, você é a guerreira. Se você não conseguir, entra na fila do desemprego. No fim, a maternidade está sempre em hipérbole - dando certo, que “mãezona você é”, se não, “que erro”. A percepção social sobre a maternidade, que a ciência já provou não ser instinto, apresenta mudança. Uma pesquisa realizada no ano passado pela farmacêutica Bayer mostra que 37% das brasileiras não querem ter filhos.
A armadilha de generalizar também precisa ser superada, acredita Hayeska Barroso. Cada mãe é única e é isso que mulheres como Leonice, Cynthia, Ana e Mari Neide ensinam.
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