Museu da Misericórdia entra em reforma; obra custará R$7,2 milhões

Requalificação deve finalizar em dezembro de 2022; Museu permanece fechado para visitação

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  • Marcela Vilar

Publicado em 30 de julho de 2021 às 11:32

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Arrison Marinho/CORREIO

O Museu da Misericórdia, um dos mais visitados da Bahia, situado no Centro Histórico de Salvador, entrará em reforma a partir do mês que vem. A estrutura, do século XVII, tem quase a mesma idade que a capital baiana - foi construída pelo primeiro governador-geral do Brasil Tomé de Souza, primeiro prefeito de Salvador, e também primeiro provedor da Santa Casa da Misericórdia. 

O trabalho de restauração será feito, principalmente, na fachada do Museu, no teto da Igreja da Misericórdia, além do mobiliário e dos 45 painéis de cerâmica e forro que a envolvem. As obras ainda vão ampliar o prédio, que terá novos espaços para exposições, auditório para 100 pessoas e um laboratório de conservação e restauro. Quando reaberto, ele também oferecerá novas tecnologias para visitantes.  

Segundo a prefeitura de Salvador, que autorizou o início da reforma, a previsão para reabertura é em dezembro de 2022. Até lá, ele estará fechado para visitação do público. A assinatura da ordem de serviço para o início das obras foi realizada nesta sexta-feira (30), pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis. 

Nos quase 500 anos de história, o Museu da Misericórdia já foi de tudo: o primeiro hospital da cidade, depois, uma creche, centro administrativo, e, em 2006, se tornou o espaço cultural que é hoje. Atualmente, pertence à Santa Casa de Misericórdia da Bahia (SCMBA), uma entidade filantrópica. É a segunda reforma feita neste século. A média de visitantes, quando o museu estava aberto, chegava a 200 pessoas por dia. 

“Já tivemos uma reforma no museu, entre os anos de 2004 e 2006, que recuperou parte dele. Desta vez, teremos uma reforma completa, inserindo novos espaços mais adequados e com climatização. Esse investimento veio em um momento importante para que possamos reabrir”, pontuou o provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, José Antônio Rodrigues Alves. 

O Museu guarda basicamente toda a história de Salvador e do Brasil, já que aqui foi a primeira capital do país e onde tudo começou. Obras como a cadeira feita exclusivamente para a visita do imperador D. Pedro II, em 1859, a escrivaninha do jurista baiano Ruy Barbosa, que foi funcionário da Santa Casa da Bahia, quadros que retratam Antônio de Lacerda, projetista e executor da obra do Elevador Lacerda, e Raimunda Porcina de Jesus, que alforriou os escravos da Filarmônica dos Chapadistas, fazem parte do acervo. Ao todo, são mais de 3.800 peças.  

Rodrigues Alves destacou ainda a relevância da obra, para que o Museu continue como principal ponto de visitação da cidade. "Vamos ter a oportunidade de ampliar uma área do museu e reformar uma área que não foi reformada antes. A outra parte funcionou de forma precária. Então isso estará resolvido definitivamente. Além disso, vamos ter um espaço mais adequado. Esse investimento vem num momento importante para que a gente possa reabrir o museu mais visitado da cidade”, acrescenta o provedor da Santa Casa. 

A reforma será coordenada pela Superintendência de Obras Públicas (Sucop), com financiamento do Ministério da Justiça, através da Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD). O projeto da obra precisou ser aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), pois o equipamento foi tombado pelo Instituto em 1938, devido à presença de mais de quatro tipos de mármore.  

O edital para licitação da obra foi lançado pela prefeitura, em maio de 2021, e a empresa vencedora da licitação, no valor de R$ 7,2 milhões, foi a construtora Pentágono, mesma empresa que fez a restauração da Casa da Música Brasileira.  

Segundo a prefeitura, a Casa da Música será inaugurada em breve, ainda em agosto, em frente à praça Cairu, no bairro do Comércio. As obras para a revitalização do Mercado Modelo fazem parte do mesmo fundo, o FDD, e só falta a licitação ser aprovada para que as obras se iniciem. Além da Casa da Música, será entregue ainda este ano o Arquivo Histórico de Salvador, também no Comércio, está em fase de obras. 

Todo esse trabalho de restauro faz parte do projeto da prefeitura de Salvador de valorização do Centro Histórico e retenção dos turistas. “Nosso grande desafio é manter o turista em Salvador. Antes, ele ficava, em média, de três a quatro dias. Agora, ficam de 6 a 7 dias. Eles permanecem porque estamos oferecendo equipamentos que possam ser visitados”, justifica o prefeito de Salvador, Bruno Reis, durante a assinatura da ordem de serviço que deu início às obras. 

De 2013 até agora, foram mais de 40 monumentos e espaços reformados pela prefeitura de Salvador, somente nessa região - confira a relação no final da matéria. “Essa restauração vem dentro de uma estratégia nossa de recuperação de equipamentos do Centro Histórico e dar uma cara nova à cidade, com o objetivo de resgatar toda a história e cultura que estão marcadas em nossos prédios”, completa Reis.  

Segundo a museóloga do Museu da Misericórdia, Osvaldina Cezar, a reforma possibilitará a apresentação de peças da coleção do museu que ainda não foram expostas, além da capacidade para receber exposições de outros parceiros e instituições que contribuem para a dinamização do espaço. 

“Com a criação dos espaços de reserva técnica e laboratório de restauração, poderemos ampliar nossa ação técnica e educativa junto a escolas de formação de mão de obra especializada, além de faculdades e universidades, atendendo aos estudantes dos cursos de Museologia, Restauro e Arquitetura, como também estudantes de cursos técnicos de conservação e restauro, por meio das aulas temáticas, visitas agendadas e promoção de cursos”, observou. 

A reforma promoverá também mais acessibilidade. “A reforma também contemplará a instalação de um elevador que possibilitará maior deslocamento e ligação entre os pavimentos do museu, o que significa a ampliação da acessibilidade física para pessoas com dificuldade de locomoção e portadoras de deficiência”, ressaltou a museóloga. 

Sobre o Museu   Inaugurado em 2006, o Museu da Misericórdia está instalado em um palacete do século XVII, onde funcionou o primeiro hospital da Bahia. Tombado pelo IPHAN, o prédio abriga peças relacionadas a personalidades, como a cadeira que foi utilizada por D. Pedro II durante visita à Bahia, em 1859, e a escrivaninha de Ruy Barbosa, que foi funcionário da Santa Casa de Misericórdia da Bahia (SCBA) em 1876, no cargo de inspetor da repartição central. 

Certificado pelo Sistema Brasileiro de Museus/MINC, o Museu da Misericórdia também mantém a exposição fixa das 14 peças que representam as Obras de Misericórdia da Santa Casa, feitas sob encomenda por artistas como Bel Borba, Christian Cravo, Calasans Neto, Mário Cravo Júnior, Eliana Kertész e Tatti Moreno. 

Obras requalificadas pela prefeitura de Salvador nos últimos 8 anos  Casa do Rio Vermelho – Jorge Amado e Zélia Gattai (Rio Vermelho)  Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana (Forte Santa Maria)  Espaço Carybé das Artes (Forte São Diogo)  Casa do Carnaval da Bahia (Centro Histórico)  Recuperação da Casa do Benin (Pelourinho)  Recuperação do Espaço Cultural da Barroquinha (Centro)  Recuperação do Teatro Gregório de Mattos (Centro), que ganhou a Galeria da Cidade para exposição de artes visuais  Recuperação das bibliotecas Edgard Santos (Ribeira) e Denise Tavares (Liberdade) 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro