Na pipoca de Bell, todo mundo se reconhece

Foliões curtem e 'balançam' juntos há muito tempo

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Quando eu estava no ensino médio, a senha para começar a confusão, o empurra-empurra, na sala eram os versos de Saia Rodada. Vista sua saia bem rodada/ Com a blusa decotada/ Que lá vem a batucada/ Levantar poeira, eira. E a gente fingia que era a pipoca do Chiclete com Banana. Lá naquele tempo, minha visão da galera que curtia a banda comandada por Bell Marques (sem parentesco, para ficar claro) do lado de fora das cordas era de gente que queria brigar.  A música era só o ritmo para sair distribuindo socos em um monte de desconhecidos, procurando briga até que viesse uma guarnição da polícia e todo mundo fingisse que nada aconteceu. Ledo engano. Essa podia ser até a realidade há muito tempo atrás. Hoje em dia, com quase 40 anos desde que a banda surgiu, ainda com Missinho na voz, e quase seis anos após o trauma da saída de Bell do Chiclete, a pipoca é um lugar de reconhecimento. Todo mundo ali já se viu em outros carnavais e nutre o mesmo sentimento pelo cantor e pela história da banda: amor.  O ápice dele é Carlinhos Bomba. Tatuagens? São quatro só na cabeça, fora braços, costas... Tem pata do Camaleão, barba de Bell, logo do Chiclete. Carlinhos é celebridade na pipoca. Fala com todo mundo, tira foto e sai com um celular no pau de selfie filmando a si próprio e ao trio. Tem gente que fabrica camisa especial para sair ao lado trio (tinha até um cidadão com uma com ‘Bel (sic) Marques’ escrito), tem marido e mulher trajado da mesma forma, cortes de cabelo com a patinha do Camaleão, bandanas e muitas, muitas tatuagens.  Quem está dentro do bloco também se reconhece. Tem cordeiro que está ali há mais de 20 anos, outros que já curtiram a pipoca e, agora, estão do lado de dentro da corda. O sentimento os une.  Isso não quer dizer que o bicho não pegue. Existe um local próprio para isso, podemos dizer. Se você quiser se arriscar, a legenda está aí do lado. Do lado do trio, onde o som é mais alto, é para poucos. Mesmo com um policiamento que dava poucas brechas para que galera “balançasse” como queria, nos primeiros acordes de Cabelo Raspadinho, o ritmo começou a aumentar e quando eu vi, parecia um tsunami vindo em minha direção.  As pessoas olham para trás e os olhos parecem ver a morte chegando. Adiante seu lado, senão passam por cima de você. E não adianta nem ser cadeirante. Na hora do aperto, tá todo mundo no mesmo barco. É balançar e torcer pra música acabar ou a polícia passar. Colado na corda do Camaleão, jornalista viveu a pipoca de Bell (Foto: Arissson Marinho/CORREIO) Calma Ainda assim, se alguém estiver balançando exageradamente, sozinho, vai ser repreendido. Um cidadão, próximo a mim, num momento em que o trio estava parado, ‘balançava’ demais. Foram pelo menos três pessoas a chegar no ouvido dele e gestualizar como se pedisse calma.  E olhe que tem uma galera grande naquela pipoca, viu? Do ‘alto’ dos meus 1,65m e sozinho, era fácil sumir em meio à multidão, que anda no ritmo da música, seja na pista principal ou na calçada. Ontem, no último dia do Camaleão, coincidiu d’As Muquiranas saírem um pouco atrás. E elas, claro, chegaram mais cedo para atazanar quem estava seguindo Bell, dando um clima até menos ‘bélico’ à pipoca. Próximo ao Cristo, quando fiquei um pouco mais para trás, era normal encontrar gente com pressa para pegar o ‘balanço’ lá na frente. Ali, entre o trio principal e o trio de apoio do bloco, dava até para conversar, ou comprar uma cerveja sem aperto. Tinha turistas e outros foliões tranquilos. Um lugar propício para quem quiser acompanhar e balançar ao ritmo de Bell Marques.

Guia da pipoca de Bell

Sinal verde - Tá de boa:  Laterais após o trio principal, quase já no trio de apoio, laterais do trio de paoio e fundo do bloco. Pode ir que tá tranquilo.Sinal amarelo - Se balançar, dá pra curtir, mas fique esperto: Na frente do trio principal e no início das laterais antes dele também.

Sinal vermelho - Não vá que é barril: De um pouco antes do trio principal - sobretudo no lado direito - até o final dele. O pico é bem do lado de onde Bell costuma aparecer.

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