Na trave: conheça baianas que tiraram 980 na redação do Enem

Alunas citaram Black Mirror, Darci Ribeiro e Lei Áurea 

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  • Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2022 às 13:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo Pessoal

Além dos três estudantes baianos que tiraram mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021, existiram aqueles que chegaram bem perto da nota máxima. As estudantes Carolina Sanches, 19, e Ana Júlia Lustosa, 17, de Salvador, além de Liv Cedraz, de Jacobina, no Centro Norte da Bahia, tiraram 980 na prova, que é a principal porta de entrada para universidades públicas e privadas do país. Elas citaram a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, o antropólogo e ex-ministro Darcy Ribeiro e até um episódio da série Black Mirror, da Netflix.  

Ana Júlia, que se formou no Colégio Oficina, em 2021, talvez nem use a nota do Enem, porque passou em Arquitetura na Universidade de São Paulo (USP). “Sempre tive muita vontade de fazer faculdade lá, foi sempre meu sonho, minha meta de vida”, conta. Ela sempre foi bem nas redações e fazia uma ou duas por semana, para treinar. “Fiz muitos textos e li várias redações nota mil para entender o que a banca cobra”, explica.   Ana Júlia, que tirou 980 na redação do Enem, passou em Arquitetura na USP (Foto: Acervo Pessoal) Para atingir a nota da prova, que teve como tema a ‘Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil’, ela citou o filósofo John Locke. Ana Júlia já tinha feito uma redação sobre o tema no primeiro simulado do ano, no Oficina. “Ele fala que existe um contrato social entre o governo e a sociedade, em que ambos têm direitos e deveres. Só que sem documentos, os cidadãos são impossibilitados de exercer isso”, argumenta.   

Já Carolina e Liv querem Medicina, o curso mais concorrido, que exige a maior nota de corte. Para entrar na Universidade Federal da Bahia (Ufba), a média do aluno teve que ser, no mínimo, 773, no ano passado. O sonho por essa formação começou desde cedo. “Acredito muito em propósito e Medicina é, para mim, como uma espécie de missão. Tenho muita vontade de ter um conhecimento para poder ajudar as pessoas”, explica Carolina. Ela já tem até um estetoscópio, que guarda na mesa de estudos, para se lembrar do objetivo.  

Ela concluiu o Ensino Médio em 2019, no Colégio Sartre COC, e fez dois anos de cursinho, no Interseção. “Tirei 860 e 900 nas edições anteriores, mas o cursinho Interseção que realmente me treinou, recebi ajuda de mais de um professor da instituição, fiz algumas aulas isoladas. Jamais conseguiria aumentar minha nota sem o apoio que tive lá”, conta Carolina. O desejo dela é passar em alguma faculdade pública, de qualquer estado.   Carolina conseguiu melhorar a nota de redação do Enem através do cursinho Interseção (Foto: Acervo Pessoal) Ela também não descarta cursar em alguma universidade particular, se conseguir um bolsa, e ainda pensa em faculdades do exterior, como em Portugal e Inglaterra. “Aonde passar, eu vou”, confessa. No colégio, sempre foi uma aluna exemplar: ganhou duas menções honrosas na Olimpíada Baiana de Biologia (Obabio), participou de projetos voluntários e da Semana Latino-americana e Caribenha sobre Mudança do Clima, um evento da Organização das Nações Unidas (ONU), que ocorreu em Salvador.  

Nos meses que antecederam o Enem, ela fazia duas a três redações por semana. Para fazer a prova, ela sempre usa três repertórios e tem várias citações memorizadas.  Na última edição, Carolina usou Darcy Ribeiro para comentar a desigualdade na sociedade brasileira gerada pela herança escravocrata colonial.  

Já Liv, que também estudou em colégio particular, fez o exame pela segunda vez. Como não gosta muito de escrever, focou em ampliar o repertório através da leitura. “Nunca fui muito boa em redação, porque não tinha informações sobre o assunto, mas sabia que teria que treinar. Então a prática e a leitura me ajudaram muito”, diz.   Liv apostou em prática e mutia leitura para melhorar nota da redação (Foto: Acervo Pessoal) Para argumentar no tema, a estudante usou o filósofo Gilberto Dimenstein e o livro “A banalidade do mal”, de Hanna Arendt, para criticar a escassez de políticas públicas e a negligência da sociedade em buscar informação. “A maioria da população não tem a mentalidade de que o documento de identificação é necessário para ter seus direitos, muito por não ter informação”, explica.  

A faculdade que Liv pretende cursar é a Ufba ou Bahiana. “Desde criança sempre quis fazer Medicina e minha família tem muitos médicos, então foi crescendo essa paixão. Minha irmã acabou de se formar e sempre via o que ela fazia nos hospitais”, afirma. Na reta final para o Enem, ela chegou a fazer uma redação diferente a cada dois dias.