'Não consigo viver em paz', diz mãe de Emanuel e Emanuelle após laudo

Marinúbia Gomes contou que aguarda a data do júri popular para aliviar a dor de reviver a perda dos filhos diariamente

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  • Amanda Palma

Publicado em 3 de maio de 2017 às 11:39

- Atualizado há um ano

Mãe dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes, a enfermeira Marinúbia Gomes recebeu com satisfação o resultado do laudo pericial da reconstituição divulgado nesta terça-feira (2), que concluiu que a médica Kátia Vargas perseguia os irmãos em alta velocidade, antes de eles serem projetados contra o poste, no bairro de Ondina, em 2013. Para ela, o resultado pode acelerar a marcação da data do julgamento da médica Kátia Vargas. Enfermeira espera que 'justiça tenha a sua vez'(Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO)“Não era novidade para mim, nem pra o Ministério Público, nem para a população, mas não deixa de ser uma satisfação e uma vitória e mais uma esperança, que essa espera angustiante da data (do julgamento) acabe. Estou confiante que a justiça dê seu parecer. Essas coisas mexem muito com a gente, revive muito, não consigo viver em paz com isso”, disse a enfermeira.

Para Marinúbia, as imagens das câmeras de segurança divulgadas ainda em 2013 já mostravam claramente o que tinha acontecido.  “As imagens são óbvias e são claras. A população que me para na rua diz que acha um absurdo a morosidade da justiça em relação a isso”, contou.

Doente também por causa do desgaste emocional, a enfermeira afirmou ainda que o julgamento deve aliviar um pouco do sofrimento dos últimos anos, por ter que reviver sempre a situação e a perda dos filhos de maneira trágica. Apesar de saber que nunca vai esquecer os filhos.

“Vai dar um descanso na minha mente em relação a justiça ser feita. Esquecer que perdi meus filhos eu não vou esquecer nunca. Viver em paz eu não sei se viverei. Eu perdi tudo em minha vida”, lamentou.

A expectativa dela é de que o júri popular seja marcado com brevidade e que o caso seja exemplo para a sociedade. “Eu tomarei isso pra mim como exemplo que as pessoas não podem sair por aí discutindo, que isso sirva de exemplo, não somente de violência de trânsito, que a justiça mostre que tem sua vez, nem Kátia Vargas, nem ninguém pode agir daquela forma”.

A reportagem do CORREIO entrou em contato com a defesa da médica Kátia Vargas, em São Paulo, que emitiu uma nota afirmando que não houve perseguição entre ela e os irmãos e que o laudo é 'falho'.Emanuel e Emanuelle (Foto: Reprodução)ReconstituiçãoA reconstituição foi realizada em dezembro do ano passado, pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), no bairro de Ondina. Cinco testemunhas foram ouvidas e relataram no local o que viram, ajudando a perícia a simular o que aconteceu.

A reconstituição do caso contou com a presença de peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT), policiais, fotógrafos e professores da Universidade Federal da Bahia. Foram utilizados veículos do mesmo modelo que a médica e os irmãos utilizavam.

A perícia usou ainda equipamentos de GPS e tecnológicos para medir com precisão o deslocamento e velocidade dos veículos. A reconstituição foi feita sob o comando do perito criminal Paulo Botelho e acompanhada pelo diretor do Departamento de Polícia Técnica, Elson Jéferson Neris Silva. Também estavam presentes o advogado da médica Kátia Vargas e um perito contratado por ela. Reconstituição, em Ondina (Foto: Bettto Jr/CORREIO)Kátia Vargas negou em vídeo A médica Kátia Vargas disse pela primeira vez, em vídeo gravado pela defesa e divulgado à imprensa em dezembro de 2013, que não jogou o carro que dirigia contra a moto onde estavam os irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes. "Não posso assumir algo que não fiz. Acredito na Justiça dos homens e na divina. Se perdermos a fé na Justiça, acho que perderemos a fé na vida. A verdade existe e tem que aparecer", disse Kátia Vargas.A oftalmologista ficou dois meses presa e foi liberada no dia 16 de dezembro. Denunciada pelo Ministério Público da Bahia por duplo homicídio qualificado, a oftalmologista estava presa desde o dia 17 de outubro.  "O acidente é trágico mais para ela (mãe de Emanuel e Emanuelle) do que para mim. Apesar do sofrimento, eu estou viva, mas sei que esta dor não tem preço, não tem tamanho, não tem tempo pra passar. Não sei nem se passa".