Não está fácil para ninguém: veja como o coronavírus afeta o seu bolso

Entenda os impactos da epidemia na economia e o efeito disso no mercado financeiro e na vida do consumidor

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  • Priscila Natividade

Publicado em 10 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Timothy A.Clary/AFP

A Bolsa de Valores  caiu, o preço do barril do petróleo também. O dólar segue em alta, quase próximo ao patamar de R$ 5. O mercado financeiro está de cabelo em pé. Só o Produto Interno Bruto  (PIB) que não cresce. Mas e o consumidor, o que tem a ver com isso?  No final das contas, a epidemia do coronavírus chegou para todo mundo, o que deve afetar o crescimento do país. Dados divulgados pela ONU,  ontem,  apontam que se o surto não for parado, a economia brasileira poderá ter um aumento de apenas 1% este ano. Menos crescimento significa menor geração de empregos.

O valor do quilo do pão, que é feito com trigo importado, não vai subir de imediato, muito menos o preço da carne bovina ou o litro do combustível. Pelo menos por agora, como explica o economista do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz. “A oferta desses produtos é grande e um efeito de alta do dólar é equilibrado com a queda do petróleo. A gasolina é o melhor exemplo: a baixa do valor do barril compensou a questão do câmbio”, diz. 

Ainda de acordo com ele, o consumidor continua arredio na hora de comprar alguma coisa, outro fator que, neste primeiro momento, deve frear o repasse do custo. “A demanda está desaquecida por conta do desemprego. Tínhamos uma situação crítica antes do coronavírus e chegou a esta piora, porém isso não deve promover uma aceleração da inflação rapidamente”, afirma ele  

Tudo depende muito do tempo que esta epidemia vai durar. Segundo o economista e professor da Universidade Federal da Bahia, Oswaldo Guerra, quem vai sentir os efeitos em curtíssimo prazo são as pessoas que vão viajar para o exterior, principalmente se elas pensam em fazer compras com o cartão de crédito. 

“As compras externas estão bastante comprometidas. Os bancos começam a cobrar o dólar do dia nos pagamentos via cartão de crédito. É importante evitar comprar coisas que são indexadas a moeda”, pontua Guerra. 

O professor explica ainda o contexto econômico que está por traz do pânico do coronavírus para o mercado financeiro. “O cenário é de absoluta incerteza em toda a economia mundial. Com isso, os grandes investidores estão tirando o dinheiro do Brasil e colocando em países seguros como os Estados Unidos, valorizando a moeda de lá”. 

Paralelo a esta debandada de capital estrangeiro, o governo não dá a resposta que o investidor quer.  “O desemprego continua alto, o crescimento é pequeno e a instabilidade política e a dificuldade em aprovar as reformas continuam. A crise é internacional, mas os problemas brasileiros permanecem diante de toda esta tensão”, completa Oswaldo Guerra.

Ainda que o álcool em gel não resolva a disseminação do corona na economia, quem tem dinheiro investido em ações deve repensar os objetivos e prazos da sua reserva financeira. Oswaldo Guerra orienta que tudo vai depender do seu apetite de risco, se tem coração ou não para ver o preço das ações caírem. 

Paciência

“As pessoas começam a correr em manada sem refletir.  Só tire o dinheiro da Bolsa se o seu investimento for de curto prazo. Depois que a situação normalizar - sabe lá Deus quando - tenha paciência para suportar. A regra da Bolsa de Valores é comprar na baixa e vender na alta”, diz.  

Por mais contraditório que pareça, o momento é bom para quem quer entrar no mercado por conta do preço baixo das ações. “Sem tem dinheiro, compre. Mas tenha paciência para suportar esse turbilhão de emoções até que as ações voltem a subir”, defende o economista. 

Por isso, o sócio da BP Money, Leonardo Souza, recomenda diversificação. O investidor de longo prazo é quem mais vai se beneficiar com esse cenário. “É importante você diversificar toda sua carteira. Uma parte em investimentos em renda fixa e outra parcela em renda variável. Não é a primeira crise que nós passamos e o mercado deve corrigir esse preço”. 

Capital em fuga

Nesse pânico generalizado, se tem alguém perdendo dinheiro, esse alguém é o Brasil, como concorda o professor e vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-BA), Gustavo Casseb. “O que a população precisa é que o PIB volte a crescer. Quando a gente olha um desajuste como esse de instabilidades e incertezas, a alta volatilidade do dólar é concreta e talvez esta coisa momentânea custe um semestre de recuperação de uma economia que já vem em passos lentos”, diz. 

A gente até queria dar uma boa notícia e dizer que a disputa entre Arábia Saudita e Rússia que levaram a queda do valor do barril de petróleo vai levar o consumidor a pagar mais barato pelo litro de gasolina quando passar no posto hoje. Mas ainda não vai dar.  “É um dia de casa vez. A queda do petróleo é uma briga geopolítica, uma queda de braço entre o Oriente e a Rússia. Pode gerar um ajuste do bem no preço. Mas também dificilmente vai haver um surto inflacionário em um curto espaço de tempo”, analisa. 

SEU DINHEIRO

Dólar  O dólar disparou e fechou o dia chegando a R$ 4,72, por causa do tombo no preço do petróleo e pelo avanço do coronavírus, que afugentaram os investidores da bolsa. Esta foi a maior alta da moeda registrada desde novembro de 2019. O consumidor que vai viajar para o exterior ou comprar em sites estrangeiros com o cartão de crédito com taxas indexadas ao dólar deve sofrer o efeito imediato desta turbulência. 

Petróleo  A tensão generalizada nos mercados globais na guerra de preços do óleo entre Rússia e Arábia Saudita, dois dos maiores produtores de petróleo do mundo, derrubou o preço do barril, que despencou entre  24,10% e  24,6% (petróleo Brent e petróleo WTI, respectivamente). Na prática o consumidor não vai acordar pagando menos pelo combustível, até porque o valor do preço nas refinarias da Petrobras é também indexado pelo dólar que está quase batendo na casa dos R$ 5. Logo, a queda, na verdade, pode equilibrar a alta cambial e evitar alta da gasolina no Brasil. 

Quem tem investimentos na bolsa  Se a reserva for de longo prazo, a orientação é manter as ações na bolsa. Só se deve  retirar o investimento em casos de emergência. Apesar do cenário imprevisível, o investidor pode recompensar a perda quando as ações voltarem a crescer. 

Para aqueles que pensam em investir no mercado financeiro  Os especialistas dizem que este é o melhor momento para comprar ações por conta do preço baixo. No entanto, é preciso ter paciência para esperar  a bolsa voltar  a subir.