'Não me sinto segura', diz advogada que acusa vizinha de racismo

Vítima reafirmou que só não foi agredida fisicamente porque o porteiro interveio

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  • Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2022 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução: Redes sociais

“Quando você morrer nem o urubu vai te querer de tão ruim que você é, sua cadela negra, macaca sapecada”, esses foram alguns dos ataques racistas que a advogada Yldene Martins, 41 anos, sofreu por parte de uma vizinha em um condomínio de Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia.

A vítima, que também é conselheira estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na Bahia, contou que também foi ameaçada de agressão física. 

Yldena afirmou que está em busca de justiça desde que foi vítima de racismo na última sexta-feira (17). "É uma situação muito lamentável, estou muito abalada e preocupada, já que eu moro sozinha e ela mora no meu condomínio, mesmo que em outro edifício. Não estou me sentindo segura aqui depois do ocorrido”, declarou a advogada. 

O discurso de ódio da agressora, identificada como Floraci Chaves dos Santos Coqueiro, começou quando a advogada pediu que ela retirasse o carro da sua vaga. A partir daí a vizinha começou a dizer que ela estava “fazendo questão de uma garagem e que quando ela morresse a vaga não iria com ela”. 

“Ela me chamou de urubu preto, cadela vagabunda preta, de macaca sapecada e várias outras palavras de baixo calão, sempre associando à minha cor. Ela pegou a sandália pra me bater e falou: ‘eu vou dar uma surra agora nessa cadela negra, nessa macaca sapecada’. Ela tirou a sandália dela e só não me bateu porque o porteiro não deixou”, relatou Yldene. 

A advogada contou ainda que acionou a Polícia Militar, que foi ao local, mas não encontrou a acusada. Depois disso, Yldene registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil e contou com apoio da categoria para enfrentar a injúria racial que sofreu. "Estou tendo apoio da OAB, mas o síndico do condomínio ignorou a situação, até hoje não veio falar comigo pessoalmente, ele só soltou a nota de repúdio depois da repercussão na mídia, fui ignorada por ele. Eu que procurei, e ele ainda estava levando o caso como uma simples briga de vizinhos”, disse. “Nunca passei por racismo tão explícito, por isso minha reação de choque, fiquei espantada, chorei muito, mas não podemos nos calar diante de um crime desse. A punição precisa ser mais rigorosa nestes casos, é inadmissível que isso ainda aconteça”, finalizou a advogada. O condomínio se manifestou em nota: “A administração do condomínio Residencial Vog Capriccio vem através deste informar que repudia qualquer ato discriminatório de racismo ou de qualquer outra natureza. Repudia também qualquer atitude de violência seja ela física ou verbal que possa ocorrer em qualquer circunstância, bem como no descumprimento de regras do regimento interno. Acreditamos na Justiça, através da ação direta da PM de Vitória da Conquista e do poder judiciário, estamos certos de que através dos órgãos competentes essa ocorrência será devidamente apurada, as testemunhas ouvidas e os culpados devidamente punidos”.

O caso

Segundo consta no boletim de ocorrência, obtido pela TV Sudoeste, a vizinha, identificada como Floraci Chaves dos Santos Coqueiro, teria xingado Yldene de nomes como "urubu negro", "cadela negra" e "negra vagabunda", antes de a tentar agredir com um chinelo. Nesse momento, ela teria dito "Eu vou dar uma surra agora nessa cadela negra, você me paga". Foi quando o porteiro interferiu.

A OAB saiu em defesa da profissional e manifestou "sua irrestrita solidariedade à jovem advogada". A Ordem destacou um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), fixado em outubro do ano passado, que considera que o crime de injúria racial é espécie do gênero racismo, sendo, portanto, inafiançável e imprescritível, conforme o artigo 5º, inciso XLII, da Constituição Federal.

A Ordem e a Subseção de Vitória da Conquista repudiaram o racismo sofrido e reafirmaram a disposição de lutar pela promoção da igualdade racial e pela dignidade da pessoa humana.

"É inadmissível que no Brasil, maior nação negra fora do continente africano, tenhamos que conviver com práticas cotidianas de opressão que negam direitos e tentam rebaixar o ser humano pela cor da sua pele, origem, raça ou etnia", diz o pronunciamento.

De acordo com a OAB, Yldene Martins já está sendo acompanhada pela Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Subseção de Vitória da Conquista e terá o apoio da Subseção e da Seccional baiana da instituição. A reportagem não conseguiu localizar a acusada, nem sua defesa, para comentar o caso.