'Não vou sair daqui para ficar lá em quarentena', diz baiana que mora em Milão

Patrícia Coutinho, 48, veio passar o Carnaval em Salvador, mas teve voo de volta cancelado; Itália enfrenta coronavírus

Publicado em 10 de março de 2020 às 18:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

Patrícia Coutinho Cerqueira Lima, 48 anos, mora em Milão há 13 anos. Baiana de Salvador, a commessa – uma espécie de vendedora, na Itália – veio a Salvador este ano, como de costume, para curtir o verão e a capital baiana. Mas, com a epidemia de Covid-19 pelo mundo e a multiplicação no número de casos e mortes na Itália – 366, até esta segunda-feira (9) – ela acabou ficando por aqui. “Não quero voltar para lá e ficar em quarentena”, afirma.

Patrícia chegou em Salvador no dia 15 de fevereiro. Até aquele momento, não havia notícias de casos de coronavírus na Itália, embora Patrícia percebesse um grande número de pessoas gripadas – ela própria gripou depois do Carnaval. O planejamento inicial era que ela retornasse a Milão, onde mora, num voo no dia 7 de março. Um amigo retornaria no mesmo dia, mas o voo foi cancelado pela companhia aérea Latam. A decisão de Patrícia, então, foi ficar no Brasil mais um tempo, por segurança.

“Como os voos foram cancelados, o que aconteceu foi que eu, por uma questão de segurança, optei por não voltar. Eu não fiz nenhum movimento para voltar. Esse meu amigo voltou, mas eu optei por esperar. Eu pedi um recolocamento num outro voo e estou aguardando, mas não fiz uma exigência para ser no mesmo dia”, conta.

Patrícia não tem filhos em Milão, nem trabalho com contrato fixo. Embora trabalhe todos os dias numa loja de malas e bolsas em Milão, possui um contrato de trabalho do tipo freelancer. Ou seja, não há uma necessidade imediata de retorno por conta disso. O próprio dono da loja onde ela atua enviou uma mensagem nesta segunda-feira (9), recomendando que ela ficasse um pouco mais.“A loja onde eu trabalho fica na zona dos chineses. Então, mais um motivo para eu não voltar. Ontem, meu chefe não abriu a loja e me disse para ficar mais um tempo porque a situação realmente estourou, saiu do controle. Para eles estrarem anunciando assim, é porque saiu do controle”, explica.Outra razão para que a baiana tenha decidido ficar por aqui tem a ver com uma recomendação médica. Ela mora ao lado do Hospital Sacco, em Milão, onde boa parte das pessoas infectadas pelo vírus estão sendo atendidas.

“Lá existe um médico da família e brasileiro tem intimidade com todo mundo. Eu vinha escrevendo para o meu médico, que me atende há 13 anos, perguntando como estava a situação. E ontem, ele me mandou um texto falando que a situação está complicada”, diz. O texto faz recomendações sobre como evitar a doença e o que fazer, caso tenha sintomas.

Como também existe uma ordem do governo de isolamento da região de Milão, Patrícia teme voltar e ter que ficar em quarentena.“Até os meus parentes aqui falaram disso: ‘você não tem filhos, não tem problema nenhum. Então, eu estou esperando porque a situação hoje é crítica. Aqui, eu estou tranquila, vou esperar um tempo também porque também não vou sair do meu país, da minha casa, para ficar lá presa, em quarentena”, finalizou.