Ney Matogrosso coloca o Bloco na Rua

Aos 77 anos, cantor estreia espetáculo com repertório afetivo que inclui Cazuza, Caetano e Rita Lee

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  • Ana Pereira

Publicado em 5 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Ney Matogrosso segue ciclos precisos que seus fãs amam e que o tornaram uma presença luxuosa na música nacional. Pensa cuidadosamente o repertório, os arranjos, a luz e o figurino de cada  show, faz longas turnês e só depois, quando tudo está bem azeitado, registra o trabalho em álbuns. 

 Por isso, a expectativa é alta em torno de cada estreia, como com este Bloco na Rua, que chega a Salvador hoje e amanhã - depois de ter passado por Rio e São Paulo. O espetáculo, explicou o artista, está na sua cabeça há dois anos, mesmo antes da turnê anterior, do elogiado Atento aos Sinais, ter terminado. No show Bloco na Rua, Ney veste figurino sensual assinado pelo estilista Lino Villaventura (Foto: Divulgação) Foi quando Ney começou a bolar o roteiro, que partiu da marcha Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua, de Sérgio Sampaio. “Desde o começo já sabia que queria começar com esta música, só que com uma leitura mais pop”, contou Ney, em conversa na última quarta, aqui  em Salvador.

Além da música que  a gente já cantou em vários  carnavais, Ney tinha outra certeza: não faria um show com canções inéditas. Ao contrário, mergulhou num repertório afetivo, que passa por Raul Seixas (A Maçã), Cazuza (Mais Feliz), Rita Lee (Corista do Rock), Ednardo (Pavão Misterioso), Caetano Veloso (Como Dois e Dois)... A única inédita é Inominável, de Dan Nakagawa.

Com direção  musical de Sacha Amback (que também assume os teclados) o show tem momentos românticos a explosivos, com um acento rocker, sintetiza o cantor. “A plateia já fica empolgada de cara, quando canto Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua na abertura. Fiquei me perguntando, o que está acontecendo?”, diverte-se. 

Ney estará acompanhado da mesma banda que esteve com ele nos últimos 5 anos: além de Sacha Amback, Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), Mauricio Negão (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone).

Outro destaque do show é o figurino dourado, pela primeira vez assinado pelo estilista Lino Villaventura - que já mandou tudo pronto, incluindo uma máscara enigmática. “Gostei muito, só achei um pouquinho solto no corpo”, diz Ney, que fez os ajustes e exibe sua boa forma aos 77 anos. 

Politizado

Com várias canções marcantes no repertório - e algumas tratando de questões políticas e sociais - a performance tem sido apontada como uma reflexão sobre o atual momento do país. Mas Ney diz que quando pensou o show o contexto nacional era outro, por isso não gosta da associação. “Pode ser político porque sempre falo de  questões sociais, mas isto é de minha natureza”, pontua Ney, brincando que nunca teve “partido, escola de samba e nem time de futebol”.

Uma das canções mais politizadas, sem dúvida, é Tem Gente Com Fome, musicada a partir do poema de Solano Trindade  (1908-1974), cujo título já diz tudo. “Tentei gravá-la na época dos Secos e Molhados, mas foi censurada pela ditadura. Resolvi cantar quando soube que há no Brasil 50 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza”, explica.          

Outra questão que o move é a dos indígenas e da preservação da natureza. Por isso, Ney topou gravar a canção e o clipe Mensageiro do Futuro, com o rapper alagoano Vitor Pirralho. Na música, um mensageiro manda por uma garrafa um pen drive com os detalhes do que acontecerá no mundo após o descobrimento do Brasil. No clipe, Ney encarna um pajé.

“Já tinha gravado uma música dele, Tupifusão. Defendo muito esta causa, pois a questão indígena e do negro ainda está longe de ser resolvida no Brasil”, diz Ney.    Atento aos sinais do seu tempo - mesmo meio averso à tecnologia - Ney diz que segue tocando seus projetos e se renovando, enquanto estiver bem. Em 2020, os fãs vão saber mais detalhes sobre ele na biografia que o jornalista Júlio Maria (biográfo de Elis Regina) está escrevendo. “Não tenho segredos”, diz o artista, sempre sedutor.  

FICHA

Show: Bloco na Rua

Artista: Ney Matogrosso

Onde: Teatro Castro Alves (Campo Grande).

Quando: sexta (05) e sábado (06), às 21h.

Ingressos esgotados: de R$ 50 a R$ R$ 220.