Noitada Cinderela: 100% dos bares e restaurantes interditados passaram das 23h

São Marcos lidera como bairro com mais estabelecimentos interditados por descumprimento de horário; Rio Vermelho vem logo em seguida no ranking

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  • Priscila Natividade

Publicado em 22 de agosto de 2020 às 15:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/ CORREIO

Talvez a psicóloga Lara Imperial ficasse até de madrugada no barzinho que ela costuma sempre ir. Porém, a noitada agora tem hora  para acabar. Se na história, a princesa tinha até meia-noite para aproveitar o baile com o príncipe dos seus sonhos, a pandemia reduziu as doze baladas do relógio em uma hora. Na vida real, o encanto termina exatamente às 23h, horário limite estabelecido para o funcionamento de bares e restaurantes em Salvador. “Fui com meu namorado no Pitaya, no Costa Azul. É em espaço aberto, isso fez com que eu ficasse tranquila”, conta. 

Lara até chegou mais cedo do que antes em casa, ao sair do bar por volta das 22h. Alguns estabelecimentos da cidade, não. Até essa sexta-feira (20) foram 46 interdições feitas pela força-tarefa da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) para fiscalizar o cumprimento das medidas exigidas pelo protocolo que autorizou a reabertura.“100% das interdições foram devido ao descumprimento  do horário. A maior parte destes fechamentos (27 no total), se concentrou  no fim de semana”, diz o secretário da Sedur, Sérgio Guanabara.Mais de 22 mil estabelecimentos  que voltaram a funcionar desde o dia 10 de agosto, podem atender o público a partir do meio-dia. São Marcos ocupa a primeira posição entre os bairros que tiveram mais estabelecimentos interditados com oito, no total, após ao longo da semana ultrapassar o Rio Vermelho, com sete interdições. Barra soma seis, Imbuí e Barris, cinco em cada um, seguidos pelos bairros do Itaigara, Rio Sena, Nova Constituinte e Tancredo Neves, empatados com duas interdições. Ribeira, Cabula, Sussuarana e Colinas de Periperi tiveram só um estabelecimento fechado. São Marcos ocupou a 1ª posição entre os bairros com bares e restaurantes fechados por descumprimento de horário (Foto: Nara Gentil) Proprietário do bar Doce Mistério, em São Marcos, Jorge Sampaio decidiu até fechar o bar  mais cedo, após outros estabelecimentos do bairro serem interditados. “Não fomos fechados. Respeitei todas as normas e encerro às 22h para às 23h não ter mais ninguém. Quem veio mais foi a juventude. A gente fica aqui na nossa, esperto para não deixar de cumprir o protocolo e ganhar o pão de cada dia”, diz. 

O primeiro fim de semana de reabertura destes estabelecimentos em São Marcos foi movimentado, segundo o auxiliar de farmácia e morador do bairro, André Luiz Sena, o que acabou contribuindo para a primeira posição no ranking. “Vi muito movimento, principalmente nos bares da Rua do Coroado, onde tem os paredões. Consegui ouvir até de casa. Também tinha uma boa movimentação em outros barzinhos, nos depósitos de bebidas. Costumava frequentar antes da pandemia e, algumas vezes, já amanheci o dia nesses bares”, comenta.

Os estabelecimentos interditados não podem abrir por sete dias, a contar pelo pedido de reabertura junto ao órgão, por parte do proprietário. Não há cobrança de multas, porém a reincidência leva a cassação do alvará de funcionamento e do Termo de Viabilidade de Localização (TVL).

“Seja São Marcos ou Rio Vermelho, o motivo do atraso foi  a desobediência. A localização é indiferente. Os empresários estão interpretando horário de funcionamento com fechamento da conta e não é isso. Às 23h, todas as portas tem que estar fechadas com luzes apagadas”, destaca o secretário Sérgio Guanabara.

 Limites A advogada Amanda Frascolla combinou com as amigas para tomar um chopp no Pereira Restaurante, na Barra. Saiu de lá, meia-hora antes  de fechar. “Fiz questão de observar se o ambiente estava limpo, organizado e dentro dos protocolos”, diz. Quem também não resistiu a curtir o último fim de semana fora de casa foi a analista de marketing Juliana Pessoa, que estava com saudade do Restaurante Casa de Tereza, no Rio Vermelho. “Sair com responsabilidade é diferente de aglomeração. Quero voltar mais vezes”, opina.

A nova noitada para a advogada Vanessa Homem, que termina às 23h, é o que se tem para o momento. “Fui no Caranguejo Villas, no sábado, para reencontrar minhas amigas. Achei o limite de horário suficiente, afinal ainda estamos enfrentando uma pandemia”.

Localizado no Rio Vermelho, o Bar Pai Inácio está entre os que foram fechados pela  força-tarefa. O sócio Daniel Dumas pede a extensão do horário de funcionamento para meia-noite, ou um tempo de tolerância. “O cliente já tinha pagado a conta, mas não saiu. O que nós vamos fazer agora é denunciar esse cliente que não quer ir embora”, diz.

Nenhum dos estabelecimentos interditados foram reabertos ainda, como reforça o secretário da Sedur, Sérgio Guanabara.  A Associação  Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA) publicou uma carta aberta criticando as interdições. “Não há como reclamar por excessos. Não estamos fechando porque queremos. Eu faço esse apelo, de que as pessoas se conscientizem que o risco ainda existe”.

Mudanças A dentista Daniela Barros preferiu retornar a frequentar os restaurantes no almoço. “Decidi reiniciar gradativamente esse novo normal. Então, optamos almoçar no Saúde Brasil, na Graça. Permaneci menos de uma hora”, conta ela. 

O fisioterapeuta Alexandre Andrade, ao contrário, ficou até o horário de fechamento do bar por onde passou no fim de semana. “O bar que eu estava não dispunha de nenhuma irregularidade ou aglomeração. Mas no caminho para casa, passei pelo Largo de Dinha e vi pessoas aglomeradas, sem máscaras. Todos precisam dar a sua contribuição”.

Quem também optou por voltar a ir a um destes estabelecimentos foi a jornalista Cássia Purificação. O local escolhido foi um bar, no Largo de Cira, no Rio Vermelho. “Foi meio estranho, me senti fora de órbita. Pedi uma cervejinha, um tira-gosto. Aos poucos, a gente vai se tentando se adaptar”.

Tudo diferente O La Taperia, no Rio Vermelho foi mais um restaurante interditado. A casa vai adotar novas estratégias para fechar exatamente às 23h. “Até às 22h  recebemos o cliente já avisando que, às 22h50, a conta está na mesa e que não vamos poder fazer nenhum tipo de serviço a partir das 22h30”, afirma a proprietária do La Taperia, Juli Holler. No La Taperia, no Rio Vermelho, sinalização reforça os cuidados (Foto: Divulgação) O medo do proprietário do Espetinho do Guga, na Barra, Thiere Figueira, é de formar aglomeração na porta do estabelecimento, que também está interditado pela prefeitura. “O cumprimento do protocolo, não tem nenhum bicho de sete cabeças. Depois de sermos interditados por conta do horário, me preocupa muito o que vai acontecer fora do bar. Nós vamos ter que pedir o apoio da Guarda Municipal para dispersar as pessoas e evitar uma nova penalização”.

 Além dos protocolos Em outros países do mundo, os bares e restaurantes tiveram que enfrentar protocolos ainda mais rígidos na reabertura. Na França, alguns restaurantes adotaram até uma espécie de 'bolha de acrílico' para reforçar o distanciamento. A reabertura aconteceu no início de julho, onde os estabelecimentos da capital podiam servir, apenas nos terraços e nas calçadas. Na Inglaterra, a entrada nos tradicionais pubs era condicionada a oferecer nome completo e telefone. Esses dados eram enviados ao governo para ajudar a rastrear novos casos de contaminações. Nos Estados Unidos, a capacidade de operação foi restrita a 25%, em estados como o Texas.

Bares, como o Velho Espanha Bar e Cultura, localizado nos Barris, decidiram retomar as atividades na próxima semana, adotando várias outras medidas, além daquelas indicadas pela prefeitura, como pontua  a sócia do bar, Uiara Araújo. “Nós só vamos atender através de reservas. O Espanha vai abrir das 12h às 22h, encerrando as atividades, 1h antes do horário permitido”.

O outro sócio, Athur Daltro, acrescenta  que tanto as pessoas, quanto os negócios precisam resignificar alguns conceitos na pandemia. “São novos contornos sociais. Todo mundo tem que se adaptar e fazer concessões. Acho bem justo”, completa. 

'NÓS VAMOS INTERDITAR', DIZ PREFEITO ACM NETO

Ao anunciar o decreto que autorizava o funcionamento do setor, suspenso desde o dia 25 de março, o prefeito ACM Neto já havia comentado que a adotaria uma postura firme na fiscalização de bares e restaurantes.“Nós vamos acompanhar, com toda a atenção, cada uma destas atividades. Não vamos tolerar o descumprimento dos protocolos, principalmente nos bares. Se houver risco de desordem e de aglomerações, nós vamos tomar medidas duras”, disse.O  protocolo foi elaborado em conjunto com o governo do estado, baseado em informações técnicas e nas normas sanitárias orientadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No final da primeira semana de reabertura, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA) se manifestou contra as interdições e questionou a presença da Guarda Municipal e da Polícia Militar no acompanhamento da força-tarefa.“Medidas por nós, consideradas extremas foram tomadas por parte da fiscalização da Prefeitura de Salvador na interdição dos estabelecimentos tendo como prerrogativa o entendimento equivocado de não cumprimento do horário de funcionamento estabelecido pelo decreto, desconsiderado por completo a rotina operacional dos estabelecimentos comerciais”, disse a entidade.O prefeito ACM Neto rebateu afirmando que vai se manter firme na fiscalização . “Nós vamos interditar. E não adianta vir a Abrasel como veio com uma nota muito inoportuna, muito irresponsável se queixando da fiscalização ostensiva. Como eu fiscalizo? Eu vou fiscalizar a paisana? Hora nenhuma a Guarda Municipal ou a Polícia Militar entrou em qualquer estabelecimento”.

A Abrasel-BA foi procurada pelo CORREIO, mas não quis comentar. Em Minas Gerais, a entidade também bateu de frente com as decisões do poder público. Belo Horizonte é conhecida como a capital dos bares do país. Lá, os estabelecimentos seguem sem previsão de reabertura. A entidade acionou a Justiça duas vezes, pedindo a retomada do setor. 

A intenção era abrir os estabelecimentos no mesmo grupo  de lojas, salões e shoppings centers, no início de agosto. A Abrasel-BA também chegou a reivindicar junto à Prefeitura de Salvador, em julho, a reabertura na primeira fase, pedido que não foi atendido pelo prefeito ACM Neto, que manteve os bares na fase 2, conforme o planejamento das etapas de reabertura. 

SE FOR, SE CUIDE

Ventilação natural O conselho da professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba), pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz e uma das coordenadoras executivas da Rede CoVida, Maria Glória Teixeira, para quem decide sair de casa e ir a um bar ou restaurante é preferir aqueles que não tenham ambientes fechados. “É preciso lembrar que os ambientes fechados e o ar-condicionado favorecem a contaminação”, reforça.

Mesma quarentena Outra recomendação é evitar chamar pessoas que não estejam na mesma quarentena. “Vá, no máximo, com duas ou três pessoas do seu convívio durante o isolamento”.

Riscos Ao evitar novos casos, se evita também novos óbitos, quando se reduz a circulação do coronavírus. “Se puder evitar ir, evite. E se for, tome todos os cuidados exigidos. Somos até chatos em falar isso, mas a única forma de reduzir a letalidade é com a redução de casos. É um ato de solidariedade”, insiste.

ALGUMAS MEDIDAS

Distanciamento A distância entre as mesas deve ser de 2 metros e de 1 metro entre cadeiras de mesas diferentes e podem comportar até 6 pessoas. O uso de máscara é obrigatório

Cardápio O cardápio deve ser digital ou plastificado, com higienização após cada uso

Som As músicas ao vivo estão proibidas

Promoções Não podem ser realizados eventos ou promoções que possam gerar aglomeração

Do lado de fora Os bares e restaurantes são responsáveis pelo ordenamento das filas nas áreas internas e externas, com distanciamento de 1,5 metro entre pessoas 

DELIVERY OU TAKE AWAY? DEZ BARES E RESTAURANTES QUE OPTARAM POR NÃO REABRIR AO PÚBLICO  

1.Paris 6 Salvador (@paris6_salvador_)

Funcionamento: terça, quarta e domingo das 11h às 21h/ De quinta-feira a sábado das 11h às 22h 

Pedidos: iFood , Rappi, ou  Whatsapp (71)9 8890-2661

2. Tokai Gourmet (@tokaigourmet)   Funcionamento: terça a domingo, das 11h às 22h

Pedidos: pelo aplicativo Tokai Gourmet, aplicativos de entrega e WhatsApp (71) 9 8174-7853 ou (71) 3022-7874 

3. Restaurante Nozu (@nozudelivery)

Funcionamento: delivery de segunda a sábado, das 18h às 23h/ Domingo, das 12h às 15h30 / 18h às 23h

Pedidos: (71) 3033-2223, iFood e Uber Eats

4. Granno Pizzeria (@grannopizzeria)

Funcionamento: delivery  todos os dias (exceto terça), das 18h às 23h

Pedidos: (71) 99298-2327 ou  noiFood

5. Yaki da Lapa (@yakidalapa)

Funcionamento: de segunda a sábado, das 11h às 19h

Pedidos: iFood ou Whatsapp (71) 9 91377893

6.Restaurante Preta (@restaurantepreta) 

Funcionamento: delivery de sexta à domingo de 11h às 16h

Pedidos: pelo Whatsapp (71) 9 9326-7461

7. Bistrô Coffeetown (@coffetownsalvador)

Funcionamento: das 9h às 22h

Pedidos: aplicativos de entrega e no WhatsApp  (71) 9 8344-4478

8. Sagaz Assador (@sagazassador)

Funcionamento: quarta a sexta-feira, das 11h30 às 20h30/ Sábados, das 11h30 às 22h, e domingos, das 11h30 às 16h 

Pedidos: no Instagram

9. Larriquerri (@larriquerri)

Funcionamento: de terça a sábado, das 11h30 a`s 22h, e domingo, das 11h30 a`s 16h

Pedidos:  WhatsApp (71) 9 9972-1122 ou no site 

10. Dendê Gastronomia (@dendegastronomia)

Funcionamento:  de terça a domingo 11h30 às 15h  

Pedidos:   Rappi, iFood  e no telefone (71) 3052-6209